São Paulo, quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Moradores montam brigadas para evitar saques em áreas devastadas

No Caleme, bairro de Teresópolis, 15 homens trabalham todas as noites com porretes e apitos

Em outras regiões, donos de casas de alto padrão dizem ter sido procurados por pessoas que ofereciam "ajuda"

SÉRGIO RANGEL
ENVIADO ESPECIAL A TERESÓPOLIS

Utilizando apitos e porretes, moradores de áreas atingidas pelos deslizamentos na região serrana do Rio de Janeiro começaram a montar brigadas para evitar saques.
No bairro Caleme, um dos mais atingidos de Teresópolis, um grupo formado por cerca de 15 homens trabalha do começo da noite até o início da manhã, todos os dias.
Seus componentes têm ajuda de dois carros da polícia, que também montam guarda na entrada do bairro.
O objetivo é evitar saques nas casas destruídas e nas poucas que ficaram de pé.
Na madrugada de ontem, os milicianos foram os responsáveis por vigiar as áreas de mais difícil acesso.
Em outras áreas, proprietários de casas de classe média alta contam terem sido procurados por pessoas que se propuseram a "ajudar" na segurança -sem dizer se tal ajuda seria paga ou não.
"Ficou no ar a sensação de que seria melhor pagarmos a eles", afirmou à Folha um morador, que pediu para não o seu nome identificado.
Um dos membros da brigada de vigilantes do Caleme é o garçom Fabiano Firmiano, 38, que nasceu no bairro.
"Desde a semana passada olhamos as casas para evitar roubos. Sei que todas estão condenadas, mas vamos preservar o que temos", disse.
Há uma semana, ele tirou a família do Caleme. Sua mulher e os três filhos vivem agora na casa de um amigo, longe da comunidade.
O garçom conta que depois da enxurrada três casas da região foram roubadas.
Ele acredita que os ladrões são os próprios moradores da comunidade. "Estamos nos sentindo desrespeitados e não vamos deixar isso acontecer", disse Firmiano.

DESTRUIÇÃO
Originalmente ocupada por chácaras e grandes casas, o Caleme abriga atualmente residências populares. A estrada do Triunfo, principal do bairro, ficou desfigurada. Ali, a queda de uma barreira arrastou 30 casas na madrugada do dia 11.
Ainda é possível ver carros empilhados e destruídos. Restos de muros derrubados se misturam à lama. "Sabemos da situação grave, mas não vamos deixar o Caleme virar um novo Complexo do Alemão. Vamos negociar com o governo a nossa saída, mas os bandidos não vão mandar lá", disse o garçom, para quem o bairro deveria virar uma reserva ambiental.


Próximo Texto: Polícia prende dois suspeitos de tentar roubar donativos no Rio
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.