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São Paulo, quarta-feira, 19 de fevereiro de 2003

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URBANIDADE

De Tereza para Madalena

VALORES
O menino que entrou no estúdio queria comprar uma obra, mas destacou que só dispunha de modestas economias. A artista entendeu: avisou que não cobraria mais do que o menino tinha no bolso. Por delicadeza, o menino não escolheu uma obra grande e saiu sorrindo. Seu nome foi esquecido. Conhece-se, porém, o nome da artista: Renina Katz, venerável gravurista paulistana. (VINCENZO SCARPELLINI)


GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA

No último final de semana deste mês, uma experiência bem-sucedida de artistas plásticos e artesãos instalados no bairro de Santa Tereza, no Rio de Janeiro, começa a ser testada na Vila Madalena: abrir os ateliês e estúdios para a visitação pública.
A criação de um circuito que, batizado de Arte na Vila, deverá ocorrer semestralmente foi imaginada pelo jornalista Valfrido Lima e pela designer Beth, sua mulher. Ambos vivem por ali desde os tempos em que os aluguéis na Vila Madalena eram baixos, acessíveis aos "duros" estudantes da Universidade de São Paulo, que, nos rudimentares bares, transformavam o bairro numa espécie de barricada boêmia contra o regime militar. "O bairro se descaracterizou", lamenta o nostálgico Valfrido, lembrando os tempos em que não havia barulho de danceterias, todos se conheciam e quase não existiam semáforos devido à falta de tráfego de automóveis.
Muitas das edículas ou pequenas casas de operários da então Light, depois ocupadas pelos estudantes, transformaram-se em ateliês ou casa de artistas plásticos e designers com clientela nos Jardins. Manteve-se a boêmia, mas o ambiente contestatório característico de 1968 (ano de revolta estudantil) cedeu espaço à produção de um design de peças mais sofisticadas, conectado a Milão e a Nova York.
O Arte na Vila surge desse novo perfil populacional. Valfrido e Beth lançaram a seus amigos a proposta de abrir os ateliês. Todos aceitaram. "Pensamos em fazer um evento para estimular a integração entre os artistas e a cidade. As pessoas vão vê-los criando em seu local de trabalho, o que não existe em São Paulo", conta Valfrido.
O visitante receberá um mapa detalhado do circuito dos ateliês e informações sobre cada artista. Como o bairro é repleto de ladeiras, impeditivas para os paulistanos, desacostumados do provinciano ato de andar nas ruas, haverá microônibus que sairão da estação do metrô que fica nas redondezas.
O circuito revive, assim, projeto, debatido descontraidamente em mesas de bares do Rio e São Paulo, de inaugurar no Brasil a figura de bairros-irmãos, com o mesmo perfil etílico-artístico-intelectual: a primeira aliança, por motivos óbvios, seria a da Vila Madalena com o bairro de Santa Tereza.

E-mail - gdimen@uol.com.br


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