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URBANIDADE
De Tereza para Madalena
VALORES
O menino que entrou no estúdio queria comprar uma obra, mas destacou que só dispunha de modestas economias. A artista entendeu: avisou que não cobraria mais do que o menino tinha no bolso. Por delicadeza, o menino não escolheu uma obra grande e saiu sorrindo. Seu nome foi esquecido. Conhece-se, porém, o nome da artista: Renina Katz, venerável gravurista paulistana. (VINCENZO SCARPELLINI)
GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA
No último final de semana deste mês, uma experiência bem-sucedida de artistas plásticos e artesãos instalados no bairro de Santa Tereza,
no Rio de Janeiro, começa a ser
testada na Vila Madalena: abrir
os ateliês e estúdios para a visitação pública.
A criação de um circuito que,
batizado de Arte na Vila, deverá
ocorrer semestralmente foi imaginada pelo jornalista Valfrido
Lima e pela designer Beth, sua
mulher. Ambos vivem por ali
desde os tempos em que os aluguéis na Vila Madalena eram
baixos, acessíveis aos "duros" estudantes da Universidade de
São Paulo, que, nos rudimentares bares, transformavam o bairro numa espécie de barricada
boêmia contra o regime militar.
"O bairro se descaracterizou",
lamenta o nostálgico Valfrido,
lembrando os tempos em que
não havia barulho de danceterias, todos se conheciam e quase
não existiam semáforos devido à
falta de tráfego de automóveis.
Muitas das edículas ou pequenas casas de operários da então
Light, depois ocupadas pelos estudantes, transformaram-se em
ateliês ou casa de artistas plásticos e designers com clientela nos
Jardins. Manteve-se a boêmia,
mas o ambiente contestatório
característico de 1968 (ano de revolta estudantil) cedeu espaço à
produção de um design de peças
mais sofisticadas, conectado a
Milão e a Nova York.
O Arte na Vila surge desse novo perfil populacional. Valfrido e
Beth lançaram a seus amigos a
proposta de abrir os ateliês. Todos aceitaram. "Pensamos em
fazer um evento para estimular
a integração entre os artistas e a
cidade. As pessoas vão vê-los
criando em seu local de trabalho, o que não existe em São
Paulo", conta Valfrido.
O visitante receberá um mapa
detalhado do circuito dos ateliês
e informações sobre cada artista.
Como o bairro é repleto de ladeiras, impeditivas para os paulistanos, desacostumados do provinciano ato de andar nas ruas,
haverá microônibus que sairão
da estação do metrô que fica nas
redondezas.
O circuito revive, assim, projeto, debatido descontraidamente
em mesas de bares do Rio e São
Paulo, de inaugurar no Brasil a
figura de bairros-irmãos, com o
mesmo perfil etílico-artístico-intelectual: a primeira aliança, por
motivos óbvios, seria a da Vila
Madalena com o bairro de Santa
Tereza.
E-mail - gdimen@uol.com.br
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