|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Marco Bertoglio e a visão de mercado
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Todo o tempo que passava
imerso no escuro da cegueira, Marco Antônio Bertoglio
usava para dar conforto aos
cegos -fosse palestrando na
associação ou vendendo
equipamentos em braile.
Nasceu em Aratiba (RS),
em uma família humilde de
imigrantes italianos que,
sem "berço de ouro", penou
para criar a empresa de
transporte, em Porto Alegre,
onde, ainda jovem, Bertoglio
trabalhou como office-boy.
Foi em 1961, aos 16 anos,
quando brincava com armas
de pressão no colégio, que
perdeu a visão do olho direito. Três anos depois, um descolamento de retina afetou o
esquerdo. Aos 19 não lhe restava visão alguma, nem funções na empresa.
Uma noite estava em um
bar ouvindo o som do piano
quando soube que o pianista
era cego. Dele ouviu o caminho para a reabilitação, no
instituto Santa Luzia. E lá
aprendeu o braile, com que
concluiu o ensino médio em
um ano de supletivo.
Desde então, sua vida sempre esteve ligada ao "movimento". Foi sócio-fundador
e presidente da Associação
de Cegos do Rio Grande do
Sul. Tentou cursar sociologia, mas não gostou. "Mas na
hora de vender qualquer coisa, era comigo mesmo", diz
em um texto de memória.
Por isso cursou direito,
não sem dificuldades, e criou
a Bengala Branca, empresa
que importa e revende impressoras e relógios em braile e calculadoras que falam.
Lá trabalhava Fátima, companheira inseparável há décadas, secretária desde os
tempos de faculdade, quando lhe transcrevia os textos.
Tinha 63 anos quando
morreu na quarta, de infarto.
Deixou três filhos, uma neta
e Jack, o labrador preto que o
guiou por uma década.
Texto Anterior: Mortes Próximo Texto: Sócios do Paulistano criam movimento para evitar fim de "fundão" em piscina Índice
|