São Paulo, terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

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Marco Bertoglio e a visão de mercado

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Todo o tempo que passava imerso no escuro da cegueira, Marco Antônio Bertoglio usava para dar conforto aos cegos -fosse palestrando na associação ou vendendo equipamentos em braile.
Nasceu em Aratiba (RS), em uma família humilde de imigrantes italianos que, sem "berço de ouro", penou para criar a empresa de transporte, em Porto Alegre, onde, ainda jovem, Bertoglio trabalhou como office-boy.
Foi em 1961, aos 16 anos, quando brincava com armas de pressão no colégio, que perdeu a visão do olho direito. Três anos depois, um descolamento de retina afetou o esquerdo. Aos 19 não lhe restava visão alguma, nem funções na empresa.
Uma noite estava em um bar ouvindo o som do piano quando soube que o pianista era cego. Dele ouviu o caminho para a reabilitação, no instituto Santa Luzia. E lá aprendeu o braile, com que concluiu o ensino médio em um ano de supletivo.
Desde então, sua vida sempre esteve ligada ao "movimento". Foi sócio-fundador e presidente da Associação de Cegos do Rio Grande do Sul. Tentou cursar sociologia, mas não gostou. "Mas na hora de vender qualquer coisa, era comigo mesmo", diz em um texto de memória.
Por isso cursou direito, não sem dificuldades, e criou a Bengala Branca, empresa que importa e revende impressoras e relógios em braile e calculadoras que falam. Lá trabalhava Fátima, companheira inseparável há décadas, secretária desde os tempos de faculdade, quando lhe transcrevia os textos.
Tinha 63 anos quando morreu na quarta, de infarto. Deixou três filhos, uma neta e Jack, o labrador preto que o guiou por uma década.


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