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comentário
Apresentador foi um tipo de Macunaemo
XICO SÁ
COLUNISTA DA FOLHA
Com sua política do
barraco permanente,
Clodovil Hernandes
conseguia divertir e constranger ao mesmo tempo.
Foi uma espécie de Macunaemo, como muitos brasileiros de hoje, com a devida
licença de Mário de Andrade
pelo trocadilho com o seu herói sem caráter.
O modista, apresentador e
representante do povo no
Congresso Nacional juntava
o folclore da esperteza selvagem com a emoção sem controle dos ditos emos -abreviação do inglês para "emotional hardcore", gênero musical apreciado por jovens do
mundo todo.
Em vez do "ai, que preguiça!" da literatura, Clodovil tinha a sua penca de outros ais:
"ai, que hipocrisia", "ai, que
cafona", "ai, que saco!", "ai,
que feia!".
Era o mesmo herói, com
ou sem caráter, capaz de
constranger o presidente da
Câmara, na época Arlindo
Chinaglia (PT), e os militantes do mundo GLS. Para o
político, chiou com a falta de
educação do Congresso; para
os gays, disse que, se pudesse
escolher, "seria homem, loiro e nascido em Berlim".
Um Macunaemo que negou a selva e a cafonice para
ser o mais preconceituoso
possível, quase tanto quanto
seu quase meio milhão de
eleitores de São Paulo. Preconceito que ele recebia de
volta, na TV e nas ruas, como
se não passasse de uma "bicha" caricata de piada do
Costinha. Nada politicamente correto, Clodovil sabia jogar o jogo e estava preparado
para o próximo barraco.
Cada vez que assumia uma
condição, o cabra fazia questão de negá-la. Na vida, na
profissão ou na política. O estilista que não era da moda, o
gay que queria ser macho hétero, o político que se fingia
de eleitor cínico. Tem algo
mais Macunaemo?
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