|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ARLINDO PIVA (1931-2009)
Um jornalista caótico e excêntrico
ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL
Arlindo Piva tinha um ouvido raro. Para a consternação dos amigos, dizia escutar
notas desafinadas na voz de
Frank Sinatra. "Pelo amor de
Deus, Arlindo, se o Sinatra é
um cantor fraco, quem é que
canta bem?", questionavam-lhe os mais indignados.
Aficionado por jazz, preferia os músicos negros. Os ouvidos, implacáveis, até em
Miles Davis, seu ídolo, encontravam notas erradas:
"Ele pode", justificava-se.
Arlindo, que era branco,
não deve ter escapado de desafinar também: além de jornalista, dedilhava o violão
muito bem, lembra o jornalista Fernando Morgado.
Entre 1969 e 1987, trabalhou nesta Folha, escrevendo para o caderno de Turismo. Excêntrico, elaborava
uma lista de amigos que estariam prestes a morrer.
"A gente dizia: "E aí, Arlindo, em que posição estou?" E
ele: "Ah, você está em 17º'",
lembra o jornalista e professor Wladyr Nader. Vez ou
outra, cochichava: "O Marcão de hoje não passa". Errava sempre, para a sorte geral.
Caótico e hiperativo, conta
o amigo Ailton Santos, vivia
nos bares, desafiando adversários no crepe, um jogo com
dados. Morava num quartinho com gatos nos fundos da
casa de uma irmã.
Como sumiu por um tempo, os amigos desconfiaram e
só souberam de sua morte,
ocorrida em 17 de fevereiro,
na última semana. Dizia ter
planejado viver até 55, mas
morreu aos 77, de falência de
órgãos -alguns foram doados. Não teve filhos.
obituario@grupofolha.com.br
Texto Anterior: Mortes Próximo Texto: Nomeado para chefiar presídios foi demitido da secretaria em 2000 Índice
|