São Paulo, quinta-feira, 19 de março de 2009

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ARLINDO PIVA (1931-2009)

Um jornalista caótico e excêntrico

ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL

Arlindo Piva tinha um ouvido raro. Para a consternação dos amigos, dizia escutar notas desafinadas na voz de Frank Sinatra. "Pelo amor de Deus, Arlindo, se o Sinatra é um cantor fraco, quem é que canta bem?", questionavam-lhe os mais indignados.
Aficionado por jazz, preferia os músicos negros. Os ouvidos, implacáveis, até em Miles Davis, seu ídolo, encontravam notas erradas: "Ele pode", justificava-se.
Arlindo, que era branco, não deve ter escapado de desafinar também: além de jornalista, dedilhava o violão muito bem, lembra o jornalista Fernando Morgado.
Entre 1969 e 1987, trabalhou nesta Folha, escrevendo para o caderno de Turismo. Excêntrico, elaborava uma lista de amigos que estariam prestes a morrer.
"A gente dizia: "E aí, Arlindo, em que posição estou?" E ele: "Ah, você está em 17º'", lembra o jornalista e professor Wladyr Nader. Vez ou outra, cochichava: "O Marcão de hoje não passa". Errava sempre, para a sorte geral.
Caótico e hiperativo, conta o amigo Ailton Santos, vivia nos bares, desafiando adversários no crepe, um jogo com dados. Morava num quartinho com gatos nos fundos da casa de uma irmã.
Como sumiu por um tempo, os amigos desconfiaram e só souberam de sua morte, ocorrida em 17 de fevereiro, na última semana. Dizia ter planejado viver até 55, mas morreu aos 77, de falência de órgãos -alguns foram doados. Não teve filhos.

obituario@grupofolha.com.br


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