São Paulo, segunda-feira, 19 de abril de 2004

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EDUCAÇÃO

Faculdades criadas em SP para formação de mão-de-obra especializada hoje sofrem com equipamentos ultrapassados

Fatecs enfrentam defasagem tecnológica

Lalo de Almeida/Folha Imagem
Máquinas desmontadas em laboratório da Fatec de São Paulo


FERNANDA MENA
SIMONE IWASSO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os alunos do curso de produção com ênfase em plástico da Fatec (Faculdade de Tecnologia) Zona Leste, em São Paulo, assistem apenas a aulas teóricas: o laboratório com máquinas industriais para treinos práticos ainda não está instalado. Na unidade de Botucatu (interior do Estado), as máquinas disponíveis no laboratório de mecânica datam dos anos 80. Na Fatec São Paulo, alunos aprendem versões em desuso do software gráfico Autocad.
Os exemplos acima são reflexos pontuais de uma situação conflitante que atinge parte das 17 faculdades de tecnologia com formação superior, mantidas pelo governo do Estado de São Paulo e em greve há dois meses.
Ao mesmo tempo em que vivem um período de expansão -em 2003, cinco unidades foram inauguradas e, neste ano, outras três-, as faculdades convivem com equipamentos ultrapassados e com a falta de materiais.
"Tive um aluno que já trabalhava na área de mecânica e, quando ele viu os durômetros [equipamento usado para medir a dureza dos materiais] da Fatec, ficou espantado e chamou o laboratório de "museu'", diz Margaret Leme Andrade, 44, professora da Fatec Sorocaba, uma das maiores e mais antigas unidades da rede.
Para Andrade, os cursos da unidade só não estão muito desatualizados porque alguns docentes firmam convênios com empresas locais para que os estudantes tenham algum contato com o maquinário utilizado hoje em dia.
Celso Conto Júnior, professor da Fatec São Paulo, avalia que o aluno da Fatec de dez anos atrás tinha muito mais conhecimento prático atualizado que o aluno de hoje. Conto diz que muitos professores tem de fazer uso de fotos e filmes do maquinário em uso hoje para apresentá-lo aos alunos.

Vocação
Hoje, há 17 Fatecs no Estado. Elas foram criadas para responder às demandas de educação para o trabalho, atendendo às potencialidades de mercado de cada região. As Fatecs abertas nos últimos anos, pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB), porém, têm uniformizado as particularidades de cada cidade em torno sobretudo de um único curso: informática com ênfase em gestão de negócios, que não exige muito investimento, uma vez que requer só um laboratório com computadores.
É esse o único curso das unidades de Mococa, Garça e São José do Rio Preto, inauguradas neste ano. É também o único curso em andamento em Mauá, Jundiaí e Praia Grande, abertas em 2002.
A idéia é que os cursos específicos sejam propostos a partir do contato da unidade com a demanda local. Mas unidades de Guaratinguetá e de Indaiatuba, mesmo após dez anos de funcionamento, continuam sendo faculdades de um curso só: automação de escritórios e secretariado.

Greve
Neste ano, a greve de professores e alunos chamou atenção para o cotidiano dos cerca de 12 mil estudantes da instituição, administrada pelo Centro Paula Souza, entidade vinculada à Unesp (Universidade Estadual Paulista) e subordinada à Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento Econômico e Turismo.
Com a paralisação, que atingiu 35% das unidades e cerca de 65% dos docentes, as aulas neste semestre ainda não começaram.
Na última quarta, na Fatec São Paulo, alunos discutiam a greve. Alunas do curso de automação de escritórios disseram ter feito uma vaquinha para comprar um rádio para o laboratório de línguas; no curso de mecânica a vaquinha foi para comprar cimento. Na Fatec Zona Leste, das cinco estantes da biblioteca, só uma está ocupada.
A reivindicação dos professores é outra: pedem reposição salarial de 72,22%, de acordo com os reajustes definidos pelo Cruesp (Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas), já que são filiados à Unesp. Desde 96, o governo estadual não segue a mesma política salarial.


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