São Paulo, segunda-feira, 19 de abril de 2004

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EDUCAÇÃO

Ao menos 471 municípios que não prestaram conta dos recursos do programa de alimentação escolar não receberam repasse

Municípios pobres perdem dinheiro para a merenda

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Pelo menos 471 municípios de 25 Estados que não prestaram contas dos recursos de 2003 do Programa Nacional de Alimentação Escolar perderam o segundo repasse do dinheiro da União para a merenda escolar. Já foram distribuídos R$ 157,1 milhões pelo Ministério da Educação.
Levantamento feito pela Agência Folha constatou que 92,4% das cidades inadimplentes têm Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) abaixo da média do seu respectivo Estado. São as que, em tese, menos dispõem de recursos para a promoção social de suas populações.
Alguns desses municípios são muito pobres, com IDH-M considerado baixo (até 0,499). São os casos de Guaribas (PI) e Manari (PE), que ocupam, respectivamente, o antepenúltimo e o último lugares na classificação. O índice varia de zero a um.
Também está na lista Itinga, no Vale do Jequitinhonha (MG), cidade que, como Guaribas, foi visitada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e 29 ministros após a posse, em janeiro de 2003, para que vissem a miséria e a fome.
O levantamento foi feito no último dia 5, 12 dias após ter sido repassada a segunda parcela da merenda -são dez parcelas anuais, de fevereiro a novembro. Na quinta passada, após nova checagem, 77 cidades, entre elas Itinga, já tinham apresentado as contas, mas isso não lhes dá o direito de receber as parcelas já enviadas.
O dinheiro da merenda para alunos da pré-escola e do ensino fundamental repassado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) é um complemento para a alimentação diária das 37 milhões de crianças de escolas públicas. O programa foi criado para suplementar a alimentação e garantir 15% das necessidades nutricionais.
O valor per capita/dia de alimentação escolar repassado pelo MEC é de R$ 0,13. São computados 20 dias letivos/mês. Por lei, o recurso maior deveria ser das prefeituras, mas muitas vezes o dinheiro do MEC é o principal, quando não é o único.

Freqüência escolar
Em regiões pobres, a merenda chega a ser a única refeição das crianças. Até por isso, ela funciona como garantia de freqüência escolar dos meninos e meninas.
Educação e alimentação estão ligadas diretamente à melhoria do índice. Por exemplo: na divulgação do IDH-M, em 2002, constatou-se que a educação foi responsável por 60,78% do aumento do índice no Brasil entre 1991 e 2000.
O avanço tem relação direta, também, com a freqüência escolar, que, em 2000, era de 79,9% -o indicador engloba ainda a renda e a longevidade.
O Acre é o único Estado onde todos os municípios (22) estão em dia com as contas. Também não há irregularidades no Distrito Federal. Nos demais Estados, o percentual de inadimplência varia de 3,9% (RS) a 66,7% (RR).
Em Roraima, 10 dos 15 municípios estão em débito. O IDH-M de sete deles varia de 0,542 a 0,676 (são considerados médios os valores entre 0,500 e 0,799).
Mesmo nos Estados com índice alto (acima de 0,800), a inadimplência ocorre entre cidades mais pobres. Em Santa Catarina, só 1 dos 23 inadimplentes tem índice superior ao do Estado (0,822). Em São Paulo (0,820), com 49 devedores, são três nessa situação.


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