|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SEGURANÇA
Governo do Estado e entidades da área reclamam que, após ação inicial, grupo de apoio foi desmobilizado
Piloto de plano lançado no ES não sai do papel
ANDRÉA MICHAEL
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O projeto piloto de um plano de
combate à criminalidade, apresentado como a principal bandeira do governo na área de segurança, está fazendo água. Implantado
com festa no Espírito Santo, no
ano passado, o GGI (Gabinete de
Gestão Integrada), cujo principal
objetivo é otimizar as ações na
área de segurança pública, efetivamente não saiu do papel.
Na opinião de representantes de
entidades de direitos humanos, o
crime organizado capixaba voltou a dar sinais de desenvoltura. O
secretário de Segurança, Rodnei
Miranda, tem recebido ameaças
de morte, em número superior ao
"normal". O secretário se ressente
da falta de uma estrutura operacional. Alega que, no GGI, os representantes de órgãos estaduais
e federais apenas trocam informações e deliberam sobre ações.
"Não há uma estrutura operacional das forças federais de
apoio", disse Miranda. Até agosto
de 2003, a Polícia Federal fazia
buscas e prisões constantemente.
No auge da operação, prendeu o
ex-presidente da Assembléia Legislativa de Vitória José Carlos
Gratz, acusado de participação
em fraudes relacionadas ao jogo
de bingo. Deteve também Carlos
Guilherme Lima, apontado pelo
Ministério Público Federal como
um dos principais suportes financeiros das facções criminosas.
Hoje, Gratz e Lima aguardam
julgamento em liberdade. Na
época das prisões, o hoje secretário nacional Luiz Fernando Corrêa atuava na linha de frente da
missão, como delegado da PF.
Outro lado
O atual secretário nacional de
Segurança Pública, Luiz Fernando Corrêa, subordinado ao ministro Márcio Thomaz Bastos, atuou
na missão no Espírito Santo. Ele é
delegado de carreira da PF e diz
que a fase de prisões e ações de
maior vulto, necessária no início,
já não faz sentido. "Houve a abordagem com toda a visibilidade
que era necessária naquele momento. Hoje, a questão é processual, de produção de provas."
Coordenadores do Fórum Reage Espírito Santo, organização
que congrega entidades e militantes da área de direitos humanos,
pediram uma audiência com o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Querem o retorno ao Estado
de uma força-tarefa -com policiais federais, procuradores e auditores da Receita- para combater o crime organizado, nos moldes de uma missão especial criada
pelo ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso.
Em 2002, diante de um pedido
de intervenção federal no Espírito
Santo que acabou arquivado,
FHC criou uma missão para tentar desbaratar o crime organizado
no Estado. O trabalho passou à alçada do GGI em agosto passado.
"O GGI é muito teórico. Traça
políticas de segurança, mas quem
as executa? Há um esvaziamento
da ação de campo", criticou Agesandro da Costa Pereira, presidente da seccional capixaba da
Ordem dos Advogados do Brasil e
integrante da coordenação Fórum Reage Espírito Santo.
Um outro fato teria contribuído
para o aparente esmorecimento
no combate ao crime organizado
capixaba. Algo que é tratado em
Vitória como "efeito Santoro".
Uma referência ao vazamento
da gravação em que o subprocurador-geral da República, José
Roberto Santoro, pressiona o empresário do jogo Carlos Augusto
Ramos, o Carlinhos Cachoeira,
para que ele lhe entregue a fita em
que Waldomiro Diniz foi flagrado
pedindo propina e negociando
contribuições eleitorais.
Santoro, que coordenava a missão especial criada por FHC, continuou como representante do
Ministério Público Federal no
GGI na gestão Lula. A divulgação
da fita levou ao esvaziamento de
suas atribuições na Promotoria.
O procurador-geral da República, Cláudio Fonteles, retirou de
Santoro os poderes para atuar no
STJ (Superior Tribunal de Justiça)
e instaurou sindicância na Corregedoria para apurar sua conduta
na conversa com Cachoeira.
"Depois disso [do vazamento],
notamos uma maior desenvoltura de figuras que antes estavam
trancadas no armário", disse a deputada Iriny Lopes (PT-ES). "Eles
estão achando que a pressão que
fizemos contra o crime foi apenas
uma onda", afirmou.
Texto Anterior: Mortes Próximo Texto: Pagamento de juros atrasou repasse de verba Índice
|