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ARTIGO
Rio: reconfiguração do crime
JOSÉ CLÁUDIO SOUZA ALVES
ESPECIAL PARA A FOLHA
O aumento significativo de
mortos oriundos do endurecimento da política de segurança
pública no Rio de Janeiro encobre, na verdade, a tremenda
complexificação do mercado da
segurança-insegurança, com a
consolidação de novos atores e
a instabilidade diante da indefinição do novo "pacto" entre os
operadores desse mercado.
Um mercado que opera com
milhões de reais advindos do
jogo do bicho, carnaval, tráfico
de drogas e armas, roubo, seqüestro, grupo de extermínio,
suborno, corrupção, desvio de
recursos públicos e indústria
dos jogos: bingo, caça-níqueis
etc. Tudo isso diretamente vinculado ao jogo político, isto é,
aos milhões de votos comprados, direta ou indiretamente,
com esse dinheiro.
A oficialização da presença
do aparato policial no gerenciamento de ações criminosas por
meio das "milícias" desequilibra os acordos que vigoravam.
A capitalização por novos atores políticos somados ao desespero da classe média vitimizada e manipulada pela mídia
reacionária potencializam a repressão que atinge a população
pobre, favelada, periférica, na
sua maioria negra.
Em nome da segurança, dos
jogos Pan-Americanos, da eficiência na repressão ao crime,
veremos aumentar, a cada dia,
o número de mortos, seja por
bala perdida, auto de resistência, execução sumária ou guerra comandos-milícia. Foi iniciado um processo de reconfiguração do mercado do crime
no Rio de Janeiro. Por baixo do
rio de sangue derramado, sobretudo pelos pobres, lava-se
todo o dinheiro do crime e lavra-se o novo acordo que, ao
que tudo indica, ainda demorará por entrar em vigor.
JOSÉ CLÁUDIO SOUZA ALVES, 45, é pró-reitor
de extensão da Universidade Federal Rural do
Rio de Janeiro
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