|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Sangue em carro determinou indiciamento
Laudos apontaram que um corte na testa de Isabella deixou marcas de sangue no carro do pai e no sapato da madrasta
Depoimentos de várias testemunhas que ouviram briga entre o casal também foram primordiais para que houvesse o indiciamento
DA REPORTAGEM LOCAL
Marcas de sangue deixadas
por um corte na testa da menina Isabella Nardoni, 5, dentro
do Ford Ka de seu pai, Alexandre Alves Nardoni, 29, e também nos sapatos de Anna Carolina Jatobá, 24, madrasta da
menina, somadas aos depoimentos de várias testemunhas
que ouviram uma intensa briga
entre o casal, foram primordiais para que a polícia os indiciasse pela morte da menina.
Nos últimos dias, vários trechos de laudos do IC (Instituto
de Criminalística) e do IML
(Instituto Médico Legal) vazaram com informações incorretas e, ontem, com a entrega à
polícia dos documentos oficiais, muitas foram corrigidas.
Havia sangue de Isabella no
encosto traseiro do banco do
motorista, na face da lateral esquerda da cadeirinha do irmão
mais novo da menina e no assoalho. Isso comprova, segundo os peritos, que as agressões
contra Isabella começaram
ainda dentro do veículo -e desmonta a versão de Nardoni e da
mulher de que não sabiam como o corte constatado na testa
da menina foi causado.
A polícia acredita na possibilidade de a madrasta ter dado
um tapa na menina e que a
agressão a fez bater a cabeça no
braço esquerda da cadeirinha.
A menina sangrou muito e
uma fralda do irmão mais novo
foi usada para estancar o sangue. Já no apartamento, onde
foi apreendido um bilhete com
"frases de descontentamento
desconexas" e com a letra de
Anna, Nardoni e a mulher teriam usado uma toalha para
limpar o rosto da menina.
Na versão construída pela
polícia, o casal teria brigado por
ciúmes e Anna Jatobá tentou
asfixiar a menina, que desfaleceu. As marcas no pescoço de
Isabella correspondem com as
das mãos da madrasta.
Para encobrir a violência e
por achar que Isabella estava
morta, o pai a lançou, com a cabeça para baixo, já que foram
achadas marcas das mãos dela
entre o 6º e o 5º andares do prédio que indicam essa posição,
Outro indício que leva a polícia a acreditar que Nardoni estava com a filha em seu apartamento no momento em que ela
foi lançada pela janela foram as
marcas de sangue achadas no
hall do apartamento, na sala, no
corredor, perto do banheiro, no
dormitório dos meninos e no
lençol do quarto de Isabella. As
manchas de sangue caíram no
chão de uma altura de 1,25m e
são compatíveis com a altura de
Nardoni, segundo os peritos do
IC, a carregando no colo.
As marcas de sangue correspondem às mesmas de um
adulto caminhando. À distância, as marcas equivalem aos
passos de um adulto com o porte físico de Nardoni.
A fratura encontrada no pulso direito de Isabella, segundo
os peritos, foi causada por uma
atitude de defesa, muito provavelmente quando a menina era
agredida pela madrasta.
Foram encontradas duas
marcas correspondentes às dos
chinelos que Nardoni usava na
noite do crime. Para a perícia,
elas foram deixadas quando ele
acessou a janela por onde arremessou a filha. No quarto havia
duas camas de solteiro, uma
encostada à outra.
Quando Nardoni subiu nas
camas, muito provavelmente
com a filha no colo, ele se desequilibrou e as camas se separaram, fazendo com que o lençol
que as envolvia caísse. A tela da
janela havia sido cortada com
uma faca e com um tesoura.
Uma das pegadas estava em
um lençol na cama posicionada
perto da janela. Essa marca é do
chinelo do pé direito de Nardoni. A segunda marca é de um escorregão e corresponde ao pé
esquerdo dele. O espaço entre
as duas pegadas é compatível
com o de um adulto e com as características de Nardoni. As pegadas o colocam, tecnicamente,
na cena do crime.
Os peritos também acharam
marcas de sangue de Isabella
em um par de calçados que Anna usava na noite do crime. Como testemunhas afirmam que
ela não chegou perto de Isabella quando a menina foi encontrada caída, essa evidência também a coloca na cena do crime,
dentro do apartamento em que
vivia com a família.
Reconstituição
A polícia deve fazer na próxima semana uma reconstituição
do que ocorreu na noite em que
Isabella morreu.
Um ponto que os policiais
querem provar é que houve
muito pouco tempo entre o
corpo ter caído no jardim e a
reação de Nardoni e de Anna
-menos de dois minutos, segundo testemunhas.
Ele, por exemplo, apareceu
poucos após o porteiro acionar
um morador -logo depois de
Isabella cair. Este ainda falava
com a polícia para comunicar o
crime quando percebeu Nardoni ao lado do corpo.
Para a polícia, isso pode demonstrar que não haveria tempo hábil para que Alexandre
entrasse no apartamento, desse pela falta da filha, vasculhasse o imóvel -como ele disse ter
feito- e tão rapidamente aparecesse junto ao corpo.
A polícia sustenta ainda que,
se Nardoni entrou no apartamento imediatamente após a
filha cair, seria muito difícil que
uma eventual terceira pessoa
tivesse tempo de limpar os vestígios de sua passagem e conseguisse se esconder ou fugir,
sem que o pai notasse.
(KLEBER TOMAZ, LUIS KAWAGUTI, ANDRÉ CARAMANTE e ROGÉRIO PAGNAN)
Texto Anterior: Polícia indicia pai sob a acusação de matar Isabella Próximo Texto: Ouvir Anna, sozinha e por último, foi estratégia Índice
|