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Nos EUA, brasileiro é condenado a 109 anos de prisão
Lindolfo Thibes, 48, foi acusado de abusar da filha sexualmente desde os seis anos e com ela teve 3 crianças
O réu, que fez sua própria defesa, afirmou que a condenação foi resultado de "testemunhos mentirosos e de provas fraudulentas"
ANDREA MURTA
DE NOVA YORK
O brasileiro Lindolfo Thibes,
48, foi condenado a 109 anos de
prisão na última sexta-feira, em
Los Angeles (costa oeste dos
EUA), acusado de abusar sexualmente da filha desde que
ela tinha seis anos -hoje tem
29. Os dois tiveram três filhos,
atualmente com 4, 7 e 11 anos.
A vítima teve seu nome mantido em sigilo, mas a Folha descobriu o telefone identificado
como da casa de sua mãe, em
Antelope Valley (Califórnia).
"É um alívio poder viver minha vida livremente", disse ela.
"Eu perguntava a Deus o porquê de tudo o que me acontecia
e pensava que meu pai ou me
mataria ou me teria como prisioneira pelo resto da vida."
Segundo o jornal "Los Angeles Times", o caso foi descoberto em 2005, com um chamado
de emergência de violência doméstica: um homem havia esfaqueado a namorada no estacionamento de um hospital em
Las Vegas, Estado de Nevada.
Quando os detetives começaram a investigar, descobriram que o agressor -instrutor
de artes marciais- era, na verdade, o pai da vítima, que o acusou de molestá-la sexualmente
por quase duas décadas.
Testes de DNA confirmaram
as acusações, indicando que
Thibes era tanto pai quanto
avô das três crianças.
Os ataques começaram
quando a família vivia em Los
Angeles, em meados dos anos
1980. Thibes aproveitava a ausência da mãe, que trabalhava à
noite como enfermeira.
Além dos abusos sexuais, a filha contou que era espancada,
inclusive com bastões de beisebol, e o irmão mais novo, chicoteado com fios elétricos.
Além disso, contou em juízo,
ele lhe dava álcool e maconha
desde os oito anos. Já adolescente, era proibida de sair de
casa sozinha e teve de abandonar os estudos na sexta série.
A filha conta que, antes de ir
parar no hospital por causa das
facadas, nunca havia contado a
ninguém sobre os abusos, nem
mesmo à mãe.
"Eu era tão dominada por ele
que, mesmo que ela me interrogasse, eu não contaria nada.
Acho que minha mãe suspeitava, mas nunca falamos a respeito. Quando eu ficava grávida,
dizia que os filhos eram só
meus e que ninguém tinha nada a ver com isso", afirma.
Segundo ela, o pai ameaçava
matá-la se o denunciasse e a
mantinha prisioneira em casa,
monitorando seus movimentos com câmeras de vigilância.
Problemas mentais
Ao todo foram quatro dias de
julgamento, realizado no início
deste ano. Thibes, que optou
por se defender sozinho, sem
advogado, foi sentenciado por
estupro e outras agressões.
Durante o julgamento, ele
afirmou que a condenação era
resultado de "provas fraudulentas e testemunhos mentirosos", disse sofrer de problemas
mentais e alucinações, mas não
chegou a ser submetido a avaliação psicológica -segundo o
vice-promotor distrital Rouman Ebrahim, porque não solicitou o exame.
"Alguém que faz isso não é
mentalmente normal, mas não
creio que seja caso de insanidade nem que ele é esquizofrênico. Ele tentou manipular o sistema com essas declarações",
disse Ebrahim à Folha.
Segundo o vice-promotor
Ebrahim, ainda cabe recurso,
mas certamente o condenado
vai passar o resto da vida na cadeia. Isso porque, pelas leis estaduais americanas, antes de
começar a cumprir a pena por
estupro da filha, Thibes cumprirá uma condenação de 22
anos por esfaqueamento, no
Estado de Nevada. Só depois
disso, diz ele, o brasileiro será
transferido à Califórnia para
cumprir a pena de 109 anos.
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