São Paulo, domingo, 19 de maio de 2002

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SEGURANÇA

É injusto atribuir somente à unidade a redução ou o aumento da criminalidade, diz Alberto Silveira Rodrigues

Comandante da PM critica "Rota nas ruas"

DA REPORTAGEM LOCAL

O comandante da Polícia Militar de São Paulo, o coronel Alberto Silveira Rodrigues, critica o uso da expressão "colocar a Rota nas ruas" em período eleitoral.
"É uma afirmativa que deve ser mais bem discutida com quem a faz. Qual é o significado disso? Não sei o que significa", diz o coronel, que comandou a Rota de 96 a 99, ao afirmar que a PM está na rua trabalhando pela segurança.
Segundo ele, quem mais sofre com a frase são os policiais da unidade, "que devem se sentir extremamente magoados e sentidos, pouco reconhecidos pelo grande serviço que prestam".
Um dos pré-candidatos ao governo do Estado que citam com frequência a expressão é Paulo Maluf (PPB), que já a utilizou quando se candidatou a prefeito de São Paulo em 2000 -cargo no qual não teria competência nenhuma sobre a PM.
Mas surpresa mesmo ocorreu em janeiro deste ano, quando o pré-candidato do PT, José Genoino, disse à Folha que "uma política de direitos humanos não deve impedir a Rota de agir com força e energia", causando uma avalanche de críticas dentro do partido.
Por fim, o próprio governador Geraldo Alckmin (PSDB), que também disputará a vaga, apareceu na TV reproduzindo a expressão "é Rota nas ruas", no programa do partido exibido no dia 6.
"Eu não acho adequada essa colocação, essa posição. Não importa quem a faz, se para elogiar ou para criticar", afirma o coronel.
Rodrigues diz que os batalhões de área, não a Rota, são os responsáveis pelo policiamento 24 horas das ruas. O grupo de elite fica no apoio, como auxílio para eles. Isso porque a Rota possui escala diferenciada de trabalho, concentrada em horários críticos de violência: das 7h às 4h.
"Seria tremendamente injusto creditar apenas à Rota a responsabilidade pelo aumento ou redução da criminalidade", afirma.

Guerra
Desde o início do ano, as polícias Civil e Militar têm sido mais expostas em ações. Isso porque, após a morte de Celso Daniel, prefeito de Santo André, o governador Alckmin declarou estar em "guerra contra o crime".
O que se viu em seguida foram operações em massa na periferia da capital e na região de Campinas, onde também houve desgaste ao governo por causa da morte do prefeito Antônio da Costa Santos, o Toninho do PT.
Nos três primeiros meses do ano, período da suposta guerra, os casos de sequestros cresceram 168% e os homicídios caíram 8% em relação aos meses de janeiro, fevereiro e março de 2001.
O mesmo balanço estatístico mostra que a polícia matou mais este ano, comparando-se os primeiros trimestres de 2000 e 2001.
O número de civis mortos em confronto com policiais militares, cuja tropa tem hoje 84 mil homens, cresceu 46% nesse período (de 95 para 139 mortes). De um ano para o outro, o contingente da PM aumentou 1,2% -cerca de mil policiais.
Para o comando da corporação, as mortes ocorreram por causa do aumento da presença policial nas ruas. "Não nos ensinam na academia a ser chefes para matar", disse o comandante da PM.
A Folha tentou entrevistar o atual ouvidor, Fermino Fecchio Filho, durante a semana, para que ele se manifestasse sobre o número de civis mortos pela polícia, mas ele não respondeu às ligações e aos recados deixados com sua assessoria. (ALESSANDRO SILVA)

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