São Paulo, domingo, 19 de maio de 2002

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SAÚDE

Técnica trata palpitação sem cirurgia

FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma técnica não-cirúrgica aplicada nas veias pulmonares que chegam ao coração consegue resolver mais de 60% dos casos de fibrilação atrial, a taquicardia que mais provoca atendimentos especializados em consultórios e prontos-socorros.
Segundo o chefe do setor de eletrofisiologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Angelo Amato V. de Paola, até 10% da população com mais de 80 anos tem esse tipo de taquicardia (batimentos fortes do coração, palpitações). O percentual de pessoas que não têm melhoras com remédios chega a 50%. A fibrilação atrial atinge 0,4% da população em geral. "É a solução sem remédios ou procedimentos invasivos", diz sobre o procedimento.
O coração utiliza um sistema elétrico para conseguir bombear o sangue. Pessoas com arritmia cardíaca têm um distúrbio nesse aparato. A frequência cardíaca normalmente fica em torno de 60 a cem batimentos por minuto. A taquicardia é o ritmo rápido, em que o paciente tem um número de batimentos acima do normal.
Quando o número de batimentos fica abaixo do normal o distúrbio é chamado bradicardia.
O coração que sofre de fibrilação atrial treme. Uma sucessão desordenada de impulsos elétricos atinge vários pontos do átrio (uma das câmaras do coração, onde o sangue é armazenado). Os batimentos em vários pontos do músculo geram a "tremedeira" e o átrio não consegue impulsionar o sangue. O maior risco é que o sangue parado coagule e os coágulos "viajem" pela corrente sanguínea, entupindo vasos.

Gatilho
Em 1998 cientistas franceses verificaram que o "gatilho" para o início da estimulação elétrica desordenada está nas veias pulmonares que chegam ao coração. Parte da musculatura dos átrios penetra nessas veias.
Com a descoberta, diversos grupos de cardiologistas passaram a aplicar a ablação por radiofrequência na junção das veias com o átrio para corrigir o problema.
A ablação é um procedimento de correção das áreas com estímulos elétricos anormais feito com energia de radiofrequência, aplicada por meio de um cateter. Ele é introduzido por uma veia da virilha e, visualizando a imagem por raio X, o cardiologista guia o tubo até o coração.
Um estudo feito também por meio do cateter identifica em qual das quatro veias pulmonares fica o "gatilho" da estimulação elétrica anormal. O médico "queima" as bordas da junção da veia-alvo com o átrio usando a radiofrequência. A cicatriz da queimadura é uma barreira para a saída do estímulo elétrico.
Muitas vezes é necessário repetir o procedimento. Segundo o médico Cézar Eumman Mesas, que acompanha pacientes da unidade de eletrofisiologia da Unifesp, portadores que não têm histórico de doenças cardíacas têm mais chances de sucesso.
"É uma técnica recente, mas muito promissora", diz Eduardo Sosa, chefe da unidade clínica de arritmia do Incor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas de São Paulo). "Poucos serviços no país a executam", diz.
De acordo com Sosa, um dos maiores especialistas em arritmias do mundo, ainda é cedo para falar em cura, uma vez que o acompanhamento dos pacientes não tem mais do que três anos.
Em alguns deles a origem da fibrilação atrial está em um outro problema, como um infarto anterior, que causa cicatrizes no músculo cardíaco e prejudica a condução dos estímulos elétricos. Em pacientes sem histórico de doença cardíaca, a causa pode ser uma falha no sistema nervoso.
Alguns conseguem conviver com os sintomas da fibrilação atrial. Outros não. Sofrem com disparos do coração que podem causar desde falta de ar até desmaios. O vendedor autônomo João Carlos dos Santos, 44, abandonou as partidas de futebol por temer as crises. Ele estava dirigindo quando sofreu uma das séries de palpitações. "Tive um desmaio e quase causei um acidente." O vendedor passou pela ablação em março e não teve mais problemas.


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