São Paulo, domingo, 19 de maio de 2002

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COMPORTAMENTO

Consultores dizem que o profissional deve ter muita disciplina e uma pitada de rebeldia para se destacar

Sucesso de "barrichello" ou "romário" depende da profissão

DA REVISTA

Nas últimas semanas, dois eventos esportivos monopolizaram as discussões no país: primeiro, a não-convocação do rebelde Romário para a Copa do Mundo e, no domingo passado, a derrota deliberada do obediente Rubens Barrichello.
Além de alimentar as mesas-redondas de esportes do domingo à noite, as celeumas colocam em evidência dois perfis de "trabalhadores" aparentemente opostos e lançam a pergunta: o que é mais valorizado hoje no mercado?
A primeira reação dos consultores é, diferentemente da maioria da população, valorizar a freada de Barrichello. "Ele foi racional e extremamente estratégico naquela situação. A empresa pode contar com ele, mesmo que, ao fazer isso, tenha sacrificado projetos pessoais", analisa Thomas Case, presidente do grupo Catho.
Ricardo de Almeida Prado Xavier, presidente da Manager Assessoria em Recursos Humanos, concorda: "Barrichello foi inteligente e agressivo ao segurar a vitória até a última volta, deixando claro que estava cumprindo ordens. Agressividade tem mais a ver com usar bem as oportunidades do que com simplesmente tomar determinadas atitudes".
Segundo os especialistas, um profissional "romário" marca muitos gols, mas seus defeitos costumam encobrir suas proezas. É o tipo de empregado que falta aos "treinos" (odeia programas de qualidade, por exemplo), dá mau exemplo ao resto da equipe e não costuma "suar a camisa".
Na hora de contratar, um empregador vai sempre pesar as dificuldades de trabalhar com um "gênio indomável" desses. Em pesquisa feita pela consultoria Anthropos Consulting, 75% dos entrevistados disseram que não gostariam de ter um "romário" como subordinado. Mas esse mesmo percentual respondeu que gostaria de ter um "romário" na empresa -provavelmente em outro departamento.
A aparente contradição mostra que, apesar de todos os problemas, o talento, a criatividade e a capacidade de assumir riscos de um craque não podem ser totalmente dispensados. Marins diz que os "romários" podem ganhar bem, mas serão preteridos nas "convocações", que, no mundo empresarial, são as promoções na carreira. "Eles representam uma ameaça ao espírito de equipe."

Cabeça no lugar
É exatamente esse "team work" um dos pontos fortes de Pedro Goyn, 31, diretor de soluções e-business da Siemens, apontado como um dos 20 CEOs (chief executive officer) do futuro em uma seleção feita pela revista "Você S.A." em 2001. "Dentro de uma empresa, todos têm que dançar conforme a música. Quem chega derrubando tudo cria um temor nos que estão ao redor", diz Goyn. Ele afirma ter qualidades de "romários" e "barrichellos".
Quando se está à frente dos negócios, fica mais fácil liberar o lado "romário". O empresário Carlos Alberto de Oliveira Andrade, 58, dono da rede de concessionárias de automóveis Caoa, é um representante típico do time daqueles que não têm medo de ousar. As idéias de Andrade, que em 23 anos tornou-se o maior revendedor Ford do Brasil (além de representar as marcas Subaru e Hyundai), são sempre "exuberantes". Ele reconhece que se arrisca, mas diz que faz parte do jogo. "Tem gente que dribla direitinho, mas não marca gol", compara.
Como empregador, Andrade valoriza a ousadia, mas diz que "o sujeito não pode ser "romário" demais". "Evito estrelas na minha equipe porque elas são muito independentes. Um time tem de ser comandado por apenas uma pessoa, senão perde-se o controle."
"O sucesso de um "romário" e de um "barrichello" depende da área em que trabalha. Há profissões que permitem o desenvolvimento das estrelas. Em outras, o sucesso só é obtido com participação, planejamento e decisões em conjunto", diz Felipe Assumpção, presidente no Brasil da Spencer Stuart, uma das mais importantes empresas de recolocação de executivos do mundo. Perfis opostos, Romário arriscou, ficou fora da Copa, mas tem grande parte da opinião pública ao seu lado. Barrichello, mais cauteloso, evitou a vitória para não desobedecer a decisão da Ferrari e provocou a primeira vaia de um pódio na F-1. Escolha o baixinho certo para torcer aos domingos e outro para incorporar durante a semana.


Leia a reportagem completa no site da Revista: www.uol.com.br/revista

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