São Paulo, sábado, 19 de maio de 2007

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Presídio carioca é "sede" de esquema disque-extorsão

Gravações mostram presos tentando extorquir, pelo telefone, falso resgate de R$ 20 mil de família de Goiânia

Em vistoria na semana passada, agentes acharam 25 aparelhos celulares com carregadores na prisão Evaristo de Morais, no Rio

ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO

Conhecido como Galpão da Quinta, o presídio Evaristo de Morais, no Rio, é uma das principais "sedes" do disque-extorsão, que vem fazendo vítimas em todo o país. Anteontem, mais duas pessoas foram presas ao tentar, do Rio, extorquir dinheiro de uma família de Goiânia (GO).
Gravações divulgadas pela Polícia Civil mostram dois presos se revezando ao telefone para manter a mãe da suposta vítima na linha. O primeiro contato com o interlocutor é simulando a voz do filho choroso - supostamente seqüestrado- , pedindo calma ao pai. Logo depois, os criminosos pedem R$ 20 mil.
Eles pedem para o pai juntar o que tem, ir ao banco e retirar R$ 20 mil para entregar aos bandidos. Ao mesmo tempo, mantêm as ameaças ao filho com a mãe ao telefone. A farsa só termina quando um PM, chamado pelo primo da família, identifica a extorsão. "Bicho, tá todo mundo aqui", afirma o policial. O filho que estaria em poder dos bandidos trabalhava naquele momento.
Segundo a polícia, algumas destas quadrilhas organizam turnos para que o esquema funcione praticamente por todo o dia. A estrutura deste grupo conta ainda com colaboradores externos para manter a continuidade dos crimes.
Os bandidos que fazem parte do chamado "telemarketing do crime" são excluídos de facções criminosas como o Comando Vermelho, ADA (Amigos dos Amigos) e TCP (Terceiro Comando Puro).
Geralmente são presidiários alojados no "seguro" -local em que ficam presos ameaçados- e são formados, em parte, por estupradores, não-aceito nas facções, ou detentos por crimes "pequenos", como assalto.
O presídio Evaristo da Morais não possui bloqueador de celular e, por isso, é uma das "sedes" deste tipo de extorsão. Em vistoria na semana passada, agentes da Cispen (Coordenadoria de Inteligência do Sistema Penitenciário) encontraram 25 aparelhos celulares com carregadores em um buraco no chão.
As quadrilhas, comandadas de dentro dos presídios, contam com uma estrutura externa. Ela é responsável por abastecer os criminosos de celulares, cartões telefônicos e parte do dinheiro obtido através da extorsão. Este papel, segundo informações da polícia, geralmente é exercido pelas companheiras ou irmãs dos presos.
Em algumas quadrilhas, elas ainda são responsáveis também por aliciar um terceiro grupo, que cede contas bancárias para o depósito ou captam o dinheiro da vítima.
Segundo investigações da polícia, o grupo do disque-extorsão já formou uma espécie de facção, chamada Povo de Israel.
No ano passado, a polícia identificou 22 pessoas integrantes de uma quadrilha que praticava o disque-extorsão. Nove eram presidiários, seis companheiras ou irmãs e outros sete cediam as contas correntes em troca de quantia obtida através do crime. Este último grupo incluía um senhor de 74 anos de São Paulo.
Esta quadrilha tentou praticar mais de 200 extorsões num período de seis meses, segundo informações da Secretaria de Administração Penitenciária. As vítimas moravam no Rio, São Paulo, Santa Catarina e Minas Gerais.
Ela só foi desbaratada graças a uma denúncia ao Ministério Público do Rio de Janeiro. Promotores identificaram o telefone de origem da extorsão e o mantiveram sob escuta constante, até identificar todos os integrantes da quadrilha.


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