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Presídio carioca é "sede" de esquema disque-extorsão
Gravações mostram presos tentando extorquir, pelo telefone, falso resgate de R$ 20 mil de família de Goiânia
Em vistoria na semana passada, agentes acharam 25 aparelhos celulares com carregadores na prisão Evaristo de Morais, no Rio
ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO
Conhecido como Galpão da
Quinta, o presídio Evaristo de
Morais, no Rio, é uma das principais "sedes" do disque-extorsão, que vem fazendo vítimas
em todo o país. Anteontem,
mais duas pessoas foram presas
ao tentar, do Rio, extorquir dinheiro de uma família de Goiânia (GO).
Gravações divulgadas pela
Polícia Civil mostram dois presos se revezando ao telefone
para manter a mãe da suposta
vítima na linha. O primeiro
contato com o interlocutor é simulando a voz do filho choroso
- supostamente seqüestrado-
, pedindo calma ao pai. Logo depois, os criminosos pedem R$
20 mil.
Eles pedem para o pai juntar
o que tem, ir ao banco e retirar
R$ 20 mil para entregar aos
bandidos. Ao mesmo tempo,
mantêm as ameaças ao filho
com a mãe ao telefone. A farsa
só termina quando um PM,
chamado pelo primo da família,
identifica a extorsão. "Bicho, tá
todo mundo aqui", afirma o policial. O filho que estaria em poder dos bandidos trabalhava
naquele momento.
Segundo a polícia, algumas
destas quadrilhas organizam
turnos para que o esquema funcione praticamente por todo o
dia. A estrutura deste grupo
conta ainda com colaboradores
externos para manter a continuidade dos crimes.
Os bandidos que fazem parte
do chamado "telemarketing do
crime" são excluídos de facções
criminosas como o Comando
Vermelho, ADA (Amigos dos
Amigos) e TCP (Terceiro Comando Puro).
Geralmente são presidiários
alojados no "seguro" -local em
que ficam presos ameaçados-
e são formados, em parte, por
estupradores, não-aceito nas
facções, ou detentos por crimes
"pequenos", como assalto.
O presídio Evaristo da Morais não possui bloqueador de
celular e, por isso, é uma das
"sedes" deste tipo de extorsão.
Em vistoria na semana passada, agentes da Cispen (Coordenadoria de Inteligência do Sistema Penitenciário) encontraram 25 aparelhos celulares
com carregadores em um buraco no chão.
As quadrilhas, comandadas
de dentro dos presídios, contam com uma estrutura externa. Ela é responsável por abastecer os criminosos de celulares, cartões telefônicos e parte
do dinheiro obtido através da
extorsão. Este papel, segundo
informações da polícia, geralmente é exercido pelas companheiras ou irmãs dos presos.
Em algumas quadrilhas, elas
ainda são responsáveis também por aliciar um terceiro
grupo, que cede contas bancárias para o depósito ou captam
o dinheiro da vítima.
Segundo investigações da polícia, o grupo do disque-extorsão já formou uma espécie de
facção, chamada Povo de Israel.
No ano passado, a polícia
identificou 22 pessoas integrantes de uma quadrilha que
praticava o disque-extorsão.
Nove eram presidiários, seis
companheiras ou irmãs e outros sete cediam as contas correntes em troca de quantia obtida através do crime. Este último grupo incluía um senhor de
74 anos de São Paulo.
Esta quadrilha tentou praticar mais de 200 extorsões num
período de seis meses, segundo
informações da Secretaria de
Administração Penitenciária.
As vítimas moravam no Rio,
São Paulo, Santa Catarina e Minas Gerais.
Ela só foi desbaratada graças
a uma denúncia ao Ministério
Público do Rio de Janeiro. Promotores identificaram o telefone de origem da extorsão e o
mantiveram sob escuta constante, até identificar todos os
integrantes da quadrilha.
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