São Paulo, sábado, 19 de maio de 2007

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Sem-teto é reflexo do desemprego, diz estudo

Pesquisa da UnB mostra que, desde 2000, cresce o contingente de moradores de rua originários da própria cidade ou do Estado

Falta de políticas públicas é fator apontado pela pesquisadora Lúcia Lopes para explicar a situação dessas pessoas

FELIPE SELIGMAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os atuais moradores de rua brasileiros são um reflexo do desemprego gerado no final dos anos 90, decorrente da automação industrial entre outros fatores, e desde 2000 cresce o contingente originário da própria cidade ou do Estado.
Essas são algumas conclusões de uma pesquisa da UnB (Universidade de Brasília), que identifica mudança de perfil dessas pessoas provenientes do êxodo rural até os anos 80.
O estudo, fruto da tese de mestrado da pesquisadora Lúcia Lopes, defendida em dezembro passado, indica que quase 80% dos moradores de rua são homens entre 25 e 55 anos; 70% têm escolaridade entre a 1ª e a 8ª série do ensino fundamental; e 72% tinham algum tipo de emprego antes de morar na rua.
"Essa população em condição de rua teria perfeita capacidade de estar no mercado de trabalho, mas por falta de políticas públicas do governo, não tem condições para sequer manter uma casa", diz Lopes.
Só em São Paulo, onde essa população é composta por 12 mil pessoas, segundo dados da prefeitura, 97% já haviam trabalhado, principalmente no setor de construção civil (20%).
A pesquisadora analisou censos, elaborados entre 1995 e 2005, de quatro metrópoles brasileiras: Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife e São Paulo. "Essas quatro cidades são as únicas do Brasil que possuem estatísticas que abordam todas as áreas da cidade", diz Lopes.
Segundo a pesquisadora, a grande mudança de perfil aconteceu a partir de 2000, com o aumento de moradores de rua originários da própria cidade ou do Estado.
Em Belo Horizonte, por exemplo, de 1998 para 2005, houve redução de 33,62% para 21,87% no percentual de moradores provenientes de outros Estados. Por outro lado, saltou de 17,36% para 32,64% o número de moradores de rua que já vivia na capital mineira.
Em Recife, de 2004 para 2005, houve um aumento de 84%, de 653 para 1.390 moradores, conforme dados da prefeitura. A cidade, diz, foi a "única entre as quatro pesquisadas em que o nível de ocupação diminuiu, segundo o IBGE".
Já em São Paulo, o número de moradores de rua cresceu 38% entre 2000 e 2006 -de 8.706 para 12 mil.
"Ele [o morador de rua] é discriminado, marginalizado e assim começa a fazer uso de álcool e drogas", explica.
Uma pesquisa da Prefeitura de São Paulo, elaborada pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), que entrevistou moradores de 22 albergues conveniados ao governo municipal, entre dezembro de 2005 e 2006, indica que 40% dos jovens entre 18 e 29 anos fazem ou já fizeram uso continuado de drogas.


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