São Paulo, terça-feira, 19 de junho de 2007

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Alvo de balas perdidas, prédio da Fiocruz pode até ser blindado

Pedido foi feito por funcionários da Escola Nacional de Saúde Pública, que convivem com tiroteios constantes na vizinhança

Referência na América do Sul, órgão já teve parte de seu material danificado; funcionário por pouco não foi atingido por bala de fuzil

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

A freqüência com que um dos prédios da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) vem sendo atingido por balas perdidas levou funcionários da Ensp (Escola Nacional de Saúde Pública), referência do gênero na América do Sul, a solicitar a blindagem das janelas do local onde trabalham à direção da fundação.
O edifício está repleto de marcas de balas vindas da favela de Manguinhos (zona norte), do outro lado da rua Leopoldo Bulhões, conhecida no Rio como "faixa de Gaza", por causa dos conflitos constantes entre policiais e traficantes ou entre facções do tráfico. As balas também já atingiram o material no interior do prédio, como teses e monografias, e por pouco não feriram funcionários.
Em 27 de maio e na última terça, os tiroteios aconteceram durante o dia e de forma intensa. Um dos funcionários quase foi atingido por uma bala de fuzil, que atravessou a janela ao lado de onde estava. Na biblioteca, as pessoas tiveram de ficar agachadas numa sala, entre elas uma grávida de oito meses.
"A missão da instituição é salvar vidas, mas as nossas estão ameaçadas", disse Fátima Martins, responsável pela biblioteca. O setor reúne 50 mil volumes, incluindo todas as teses e monografias feitas na Ensp. Uma fortuna em conhecimento que está sendo literalmente dilapidada: há furos de balas em caixas com material.
"Pedimos [na semana passada] um estudo para aumento de alvenaria ou blindagem dos vidros, a fim de reduzir o risco", afirmou Rogério Lannes Rocha, presidente do Sindicato Nacional de Trabalhadores da Fiocruz.
"A Fiocruz está há 107 anos aqui e vai ficar mais 107. Vamos lutar junto com as comunidades para fazer essa região degradada virar civilizada", disse.
O assunto segurança dominará as assembléias do sindicato, hoje, e da Ensp, amanhã. Na quinta, o conselho deliberativo da Fiocruz se reúne para debater o assunto, podendo até já aprovar a blindagem da escola.
"Vamos tomar medidas emergenciais e continuar apostando em requalificar a vida das comunidades no PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] urbano", disse o vice-presidente de Desenvolvimento da Fiocruz, Paulo Gadelha, referindo-se ao projeto de reforma da área de Manguinhos, orçado em cerca de R$ 350 milhões e previsto para começar em 2008.


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