São Paulo, quinta-feira, 19 de junho de 2008

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Inquérito militar vai dizer que tenente agiu por conta própria

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

O IPM (Inquérito Policial Militar) do Exército aberto para investigar a participação de militares na morte de três jovens no Rio concluirá que o tenente Vinícius Ghidetti de Moraes Andrade, 25, agiu por conta própria ao entregá-los aos traficantes que os mataram.
Para militares encarregados de apurar o caso, o tenente não obedeceu a ordens superiores ao levar os jovens ao morro da Mineira, onde eles morreram.
Ontem, o Ministério Público Militar pediu à Justiça Militar a prisão preventiva por 30 dias do tenente, do sargento Leandro Maia Bueno e dos soldados José Ricardo de Araújo e Fabiano Elói dos Santos.
O capitão que preside o IPM tinha duas preocupações: descobrir se o tenente cumprira ordem superior; e apurar eventual ganho financeiro.
Quando o IPM foi aberto, a polícia já tinha ouvido o tenente, o sargento Bueno e o soldado Araújo. Os três negaram ter agido sob ordem superior e ter trocado os jovens por dinheiro.
A hipótese de "venda" dos jovens para o tráfico já foi descartada pelo Exército e pelo presidente do IPM, conforme a Folha apurou com um general.
As apurações do IPM e da 4ª Delegacia de Polícia coincidem até agora. Não houve a "venda" nem a ordem de cima. O tenente será acusado, pela polícia, por homicídio triplamente qualificado -crimes cometidos com crueldade, por motivo fútil e sem chance de defesa. Os demais militares serão indiciados por seqüestro. O IPM concluirá pela culpa do oficial.
Ontem, o presidente do IPM, cujo nome não é divulgado, passou o dia interrogando os 11 militares. A Folha apurou que as declarações têm o mesmo teor dos depoimentos à polícia: soldados e sargentos dizem que agiram a mando do tenente, a quem obedeceram por hierarquia e medo de serem punidos, segundo seus advogados.
O advogado Walmar de Jesus, que defende o sargento Bueno, disse que pedirá à polícia que interrogue de novo seu cliente, que no primeiro depoimento admitiu ter conversado com os traficantes. O sargento disse que os jovens imploraram para não serem deixados na favela. Agora, disse o advogado, o sargento irá dizer que desceu do caminhão para garantir a segurança dos militares.
João Carlos Figueiredo Rocha, advogado do tenente, disse que seu cliente não sabia que os jovens seriam mortos, pois imaginava que os rapazes receberiam apenas uma surra.


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