São Paulo, quinta-feira, 19 de junho de 2008

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Exército liga assessor de senador a tráfico

Documento do Exército diz que homem que trabalha com Marcelo Crivella negociou política de não-agressão com traficantes

Acordo teria ocorrido durante a ocupação de morro para execução do projeto Cimento Social; assessoria do senador nega

DA SUCURSAL DO RIO

Documento do serviço reservado do Exército afirma que um assessor do senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) negociou com traficantes do morro da Providência uma espécie de política de não-agressão durante a ocupação da favela para o projeto Cimento Social, defendido pelo parlamentar.
Segundo o relatório, os locais de obra foram escolhidos pela associação de moradores local, em comum acordo com os assessores de Crivella -"Eduardo de tal" e "Gilmar de tal". Essa informação reforça o componente político da obra, que teve parecer contrário do Comando Militar do Leste para o Ministério da Defesa.
A assessoria do senador Marcelo Crivella, pré-candidato à Prefeitura do Rio, nega a negociação e que haja assessores com esses nomes lotados em seu gabinetes. Crivella não quis dar entrevistas.
Por meio da assessoria de imprensa, a Presidência da República confirmou que o senador Crivella discutiu o projeto com o presidente Lula, que gostou da idéia, mas não respondeu sobre os trâmites da decisão de fazer a obra por meio do Ministério das Cidades e do Exército.
De acordo com o documento, revelado pelo jornal "Extra" em 6 de abril, o assessor descrito como "Eduardo de tal [por desconhecimento do sobrenome]" afirmou ter conversado com "a cúpula dos traficantes na comunidade" e garantido a segurança dos operários durante as obras, em encontro em outubro na Providência com três militares.
"Estes [traficantes] garantiram que não haveria qualquer tipo de retaliação, desde que não fossem incomodados. Segundo o assessor, os traficantes querem as obras, pois também são moradores da comunidade e se comprometeram, inclusive, a desmobilizar as "bocas-de-fumo" que estiverem próximas ao locais de execução [de obras]", descreve o documento.
A reunião, no dia 5 de novembro, foi monitorada todo o tempo, segundo o Exército, por "seis elementos pertencentes à facção criminosa Comando Vermelho, que domina o tráfico de drogas na comunidade".
De acordo com o documento, o representante da associação de moradores, conhecido como Nelson, "dirigiu-se aos elementos que mobiliavam [sic] a "Boca do Barão" para que fosse autorizado o deslocamento dos visitantes na rua Bento Teixeira, uma vez que o canteiro de obras passa no local da boca-de-fumo. A solicitação foi aceita pelos traficantes e estes não causaram problemas à comitiva, embora tenham permanecido todo o tempo no local".
As 80 casas da primeira etapa do "Cimento Social" ficam na localidade conhecida como "Laje", justamente onde fica a boca-de-fumo "Boca do Barão".
Durante toda a visita, ainda segundo o documento, a comitiva foi observada por um olheiro em uma guarita, usada como ponto de observação para as ruas de acesso ao morro.
O representante dos moradores pediu a um dos oficiais que o apresentasse ao responsável pela segurança da obra, com o objetivo de "inteirar-se do esquema de segurança e acertar detalhes de relacionamento com os traficantes locais" na execução das obras.


Colaborou a Sucursal de Brasília


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