São Paulo, domingo, 19 de junho de 2011

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ANÁLISE

Equipamentos são vistos como elementos de distinção social


QUALQUER INICIATIVA QUE APONTE PARA O ENFRENTAMENTO DOS MEDOS QUE A CIDADE APRESENTA NÃO DEVE PASSAR SOMENTE PELA BUSCA DE ESPAÇOS PRIVATIVOS


ROSEMERE MAIA
ESPECIAL PARA A FOLHA

O medo e a sensação de insegurança têm sido a tônica das metrópoles, tornando-se sentimentos que independem do confronto real com algum ato de violência.
Potencializados pelo individualismo, pela impessoalidade, pela crescente competitividade e pela quebra de laços comunitários, acabam por transformar a cidade em espaço hostil e fragmentado.
Instalado o medo, instalam-se seus especuladores, tornando a indústria e o mercado da segurança extremamente lucrativos. Isso decorre, em grande medida, da constatação, pelos cidadãos, de que o Estado não tem sido capaz de garantir a segurança pública, o que torna a defesa frente à violência urbana uma tarefa individual.
Tornados ícones de consumo, os diferentes mecanismos de segurança -cada vez mais sofisticados- passam a ser utilizados, igualmente, como elementos de distinção social num contexto marcado pela eclosão de necessidades. Assim, não bastam guaritas, cercas, câmeras -dispositivos de uso coletivo.
Cada morador, por meio de alguns dispositivos, quer "comunicar" aos demais seu estilo, retraduzindo simbolicamente diferenças num contexto onde, pretensamente, convive entre iguais.
Qualquer iniciativa que aponte para um possível resgate da ordem urbana e para o enfrentamento dos medos que a cidade apresenta não passa, necessariamente, pela busca de espaços privativos considerados seguros, mas sim pela possibilidade de vivência, por cada cidadão, do espaço público. Do contrário, estaremos caminhando para o fim da cidade.

ROSEMERE MAIA é doutora em geografia urbana e professora da UFRJ


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