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Traficantes cariocas começam a
trocar granada por bomba caseira
JOSÉ MESSIAS XAVIER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO
As apreensões de bombas caseiras, fabricadas e comercializadas
por traficantes, têm se equiparado
à quantidade de granadas industriais que a polícia recolheu neste
ano no Estado do Rio. No sábado,
na favela da Rocinha (zona sul),
criminosos jogaram explosivos
artesanais contra policiais que enfrentavam e carros que passavam.
Bilhas (esferas de aço), pregos e
parafusos misturados a pólvora
ou explosivos de mineração, em
tubos de metal ou PVC, produzem artefatos tão letais quanto as
armas militares.
Segundo a Drae (Delegacia de
Repressão a Armas e Explosivos),
em 2005 foram apreendidas 206
bombas artesanais no Estado,
contra 266 artefatos industriais,
como granadas. No ano passado,
foram 369 do primeiro tipo contra 820 do segundo. Em 2003, a
proporção era de 428 para 536.
"A maioria das granadas
apreendidas está fora do prazo de
validade. Ou seja, as bombas artesanais estão tendo prioridade entre as aquisições dos traficantes",
disse o delegado Carlos Antônio
de Oliveira, da Drae.
O crescente uso de bombas artesanais é registrado pelo Esquadrão Antibomba da Polícia Civil,
que recebe de oito a dez chamados por semana. Em 2003, eram
três ou quatro missões semanais
para desativar bombas.
Ao menos três incidentes ocorridos em menos de uma semana
sustentam os números da polícia.
Na noite de sábado, o confronto
na Rocinha levou à morte de um
suposto traficante. Os criminosos
usaram bombas caseiras.
Na favela da Coréia (Senador
Camará, zona oeste), Alan Nunes
da Silva, 20, teve parte da perna
amputada na quinta devido à explosão de uma granada caseira
que levava no bolso. No mesmo
local, no sábado, a explosão de
uma fábrica clandestina de bombas matou Rodrigo Gouveia Valgode, 23, e feriu Evandro Luiz Damata e Paulo Henrique Martins.
"A comercialização de pólvora é
nosso maior problema, pois ocorre de modo relativamente livre,
sem possibilidade de controle",
disse Oliveira.
Para Ronaldo Leão, presidente
do Instituto de Defesa Nacional
da UFF (Universidade Federal
Fluminense), pólvora e outros tipos de explosivo podem ser desviados de mineradoras.
"Uma pedreira que usa 10 toneladas de explosivo por mês não
dará falta de 1 kg roubado. Bastam 250 g de lama explosiva para
dar a um artefato o mesmo poder
de destruição de uma granada defensiva de primeira linha", disse.
Segundo Leão, os artefatos caseiros encontrados foram fabricados com três tipos de explosivo:
TNT (usado em dinamite), Mag-gel (lama explosiva) e pólvora
preta. Os dois primeiros são restritos a mineradoras e empresas
de demolição. A pólvora pode ser
comprada em lojas de fogos. Leão
disse ainda que o instituto rastreou 6.000 sites em português
que ensinam a produzir bombas.
Traficantes do Rio também estariam pagando a ex-militares para a fabricação de explosivos. No
início do ano, a Drae prendeu um
ex-cabo, acusado de receber encomenda para produzir bombas.
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