São Paulo, terça-feira, 19 de julho de 2005

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Traficantes cariocas começam a trocar granada por bomba caseira

JOSÉ MESSIAS XAVIER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

As apreensões de bombas caseiras, fabricadas e comercializadas por traficantes, têm se equiparado à quantidade de granadas industriais que a polícia recolheu neste ano no Estado do Rio. No sábado, na favela da Rocinha (zona sul), criminosos jogaram explosivos artesanais contra policiais que enfrentavam e carros que passavam.
Bilhas (esferas de aço), pregos e parafusos misturados a pólvora ou explosivos de mineração, em tubos de metal ou PVC, produzem artefatos tão letais quanto as armas militares.
Segundo a Drae (Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos), em 2005 foram apreendidas 206 bombas artesanais no Estado, contra 266 artefatos industriais, como granadas. No ano passado, foram 369 do primeiro tipo contra 820 do segundo. Em 2003, a proporção era de 428 para 536.
"A maioria das granadas apreendidas está fora do prazo de validade. Ou seja, as bombas artesanais estão tendo prioridade entre as aquisições dos traficantes", disse o delegado Carlos Antônio de Oliveira, da Drae.
O crescente uso de bombas artesanais é registrado pelo Esquadrão Antibomba da Polícia Civil, que recebe de oito a dez chamados por semana. Em 2003, eram três ou quatro missões semanais para desativar bombas.
Ao menos três incidentes ocorridos em menos de uma semana sustentam os números da polícia. Na noite de sábado, o confronto na Rocinha levou à morte de um suposto traficante. Os criminosos usaram bombas caseiras.
Na favela da Coréia (Senador Camará, zona oeste), Alan Nunes da Silva, 20, teve parte da perna amputada na quinta devido à explosão de uma granada caseira que levava no bolso. No mesmo local, no sábado, a explosão de uma fábrica clandestina de bombas matou Rodrigo Gouveia Valgode, 23, e feriu Evandro Luiz Damata e Paulo Henrique Martins.
"A comercialização de pólvora é nosso maior problema, pois ocorre de modo relativamente livre, sem possibilidade de controle", disse Oliveira.
Para Ronaldo Leão, presidente do Instituto de Defesa Nacional da UFF (Universidade Federal Fluminense), pólvora e outros tipos de explosivo podem ser desviados de mineradoras.
"Uma pedreira que usa 10 toneladas de explosivo por mês não dará falta de 1 kg roubado. Bastam 250 g de lama explosiva para dar a um artefato o mesmo poder de destruição de uma granada defensiva de primeira linha", disse.
Segundo Leão, os artefatos caseiros encontrados foram fabricados com três tipos de explosivo: TNT (usado em dinamite), Mag-gel (lama explosiva) e pólvora preta. Os dois primeiros são restritos a mineradoras e empresas de demolição. A pólvora pode ser comprada em lojas de fogos. Leão disse ainda que o instituto rastreou 6.000 sites em português que ensinam a produzir bombas.
Traficantes do Rio também estariam pagando a ex-militares para a fabricação de explosivos. No início do ano, a Drae prendeu um ex-cabo, acusado de receber encomenda para produzir bombas.


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