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Setor não tem "estratégia clara", diz especialista
MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPINAS
Ex-funcionário do Ministério da Defesa de 2003 a
2004, Luís Alexandre Fuccille, 35, diz que há "um conflito de competências" na aviação brasileira, o que prejudica a fiscalização. "Não se sabe concretamente o que fazem a Anac, a Infraero, o comando da Aeronáutica e o
Ministério da Defesa."
Sociólogo e cientista político, Fuccile atualmente é
pesquisador do Núcleo de
Estudos Estratégicos da Unicamp. Ele trabalhou no Departamento de Política, Estratégia e Assuntos Internacionais do ministério.
FOLHA - Quais são as causas do
acidente em Congonhas?
LUÍS ALEXANDRE FUCCILLE - Ainda
é precipitado afirmar. Temos
informações desencontradas, algumas fortes na linha
de que houve uma possível
falha no sistema de freios do
avião ou de que houve erro
no ponto da pista onde foi
feito a aterrissagem. É difícil
dizer se se trata de mais um
capítulo da crise aérea ou se
ocorreu falha humana ou
mecânica. É preciso evitar
açodamentos.
FOLHA - Não se pode dizer, então, que o acidente ocorreu em
conseqüência da crise aérea?
FUCCILLE - Pode ter ocorrido.
É importante destacar que
falta uma estratégia clara para o setor de aviação civil. A
criação do Ministério da Defesa, em 1999, e a transformação posterior do DAC
[Departamento de Aviação
Civil] em Anac acabou deixando lacunas que geram
conflito de competência e de
responsabilidade. Hoje, não
se sabe concretamente o que
fazem a Anac, a Infraero, o
comando da Aeronáutica e o
Ministério da Defesa.
FOLHA - A pista de Congonhas
está preparada para receber
aviões de grande porte?
FUCCILLE - A pista é relativamente curta. É preciso saber
que acidentes nos quais
aviões vão parar fora da pista
ocorrem semanalmente no
mundo. Uma possível alternativa seria construir uma
área de escape de cerca de
300 metros. No caso de Congonhas, isto é impossível. Aí,
uma alternativa é construir
um bolsão de concreto poroso. Isso existe no aeroporto
JFK, em Nova York, e já evitou acidentes mais graves.
FOLHA - Quais são as soluções
para resolver os problemas da
malha aeroviária no país?
FUCCILLE - Com a quebra de
algumas empresas, houve redução de aeronaves, e o mercado de aviação não pára de
crescer. Só em 2010 nós voltaremos a ter o mesmo número de aeronaves de 2001.
Esta não é uma crise que vamos resolver em seis meses
ou um ano porque o número
de passageiros transportados não pára de crescer.
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