São Paulo, quinta-feira, 19 de julho de 2007

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Setor não tem "estratégia clara", diz especialista

MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPINAS

Ex-funcionário do Ministério da Defesa de 2003 a 2004, Luís Alexandre Fuccille, 35, diz que há "um conflito de competências" na aviação brasileira, o que prejudica a fiscalização. "Não se sabe concretamente o que fazem a Anac, a Infraero, o comando da Aeronáutica e o Ministério da Defesa." Sociólogo e cientista político, Fuccile atualmente é pesquisador do Núcleo de Estudos Estratégicos da Unicamp. Ele trabalhou no Departamento de Política, Estratégia e Assuntos Internacionais do ministério.

 

FOLHA - Quais são as causas do acidente em Congonhas?
LUÍS ALEXANDRE FUCCILLE -
Ainda é precipitado afirmar. Temos informações desencontradas, algumas fortes na linha de que houve uma possível falha no sistema de freios do avião ou de que houve erro no ponto da pista onde foi feito a aterrissagem. É difícil dizer se se trata de mais um capítulo da crise aérea ou se ocorreu falha humana ou mecânica. É preciso evitar açodamentos.

FOLHA - Não se pode dizer, então, que o acidente ocorreu em conseqüência da crise aérea?
FUCCILLE -
Pode ter ocorrido. É importante destacar que falta uma estratégia clara para o setor de aviação civil. A criação do Ministério da Defesa, em 1999, e a transformação posterior do DAC [Departamento de Aviação Civil] em Anac acabou deixando lacunas que geram conflito de competência e de responsabilidade. Hoje, não se sabe concretamente o que fazem a Anac, a Infraero, o comando da Aeronáutica e o Ministério da Defesa.

FOLHA - A pista de Congonhas está preparada para receber aviões de grande porte?
FUCCILLE -
A pista é relativamente curta. É preciso saber que acidentes nos quais aviões vão parar fora da pista ocorrem semanalmente no mundo. Uma possível alternativa seria construir uma área de escape de cerca de 300 metros. No caso de Congonhas, isto é impossível. Aí, uma alternativa é construir um bolsão de concreto poroso. Isso existe no aeroporto JFK, em Nova York, e já evitou acidentes mais graves.

FOLHA - Quais são as soluções para resolver os problemas da malha aeroviária no país?
FUCCILLE -
Com a quebra de algumas empresas, houve redução de aeronaves, e o mercado de aviação não pára de crescer. Só em 2010 nós voltaremos a ter o mesmo número de aeronaves de 2001. Esta não é uma crise que vamos resolver em seis meses ou um ano porque o número de passageiros transportados não pára de crescer.


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