FÁBIO AMATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

O governo precisa rever a vocação de Congonhas para receber aviões de grande porte -como o Airbus A320 da TAM- e vôos de longa distância. Essa é a avaliação do engenheiro Anderson Correia, do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), especialista em projeto de aeroportos. Segundo ele, é preciso transferir vôos para Guarulhos e Viracopos, pois as dimensões da pista de Congonhas não são as ideais.
Leia trechos da entrevista.

 

FOLHA - O tamanho da pista e a falta das ranhuras podem ter contribuído para o acidente?
ANDERSON CORREIA - Tudo o que dissermos agora pode ser especulação, mas não há como descartar nada, pois a estrutura de um aeroporto pode aumentar ou reduzir a chance de acidente. Se tivesse uma pista maior, a probabilidade de um acidente como esse poderia ser menor.

FOLHA - As dimensões da pista são as ideais para receber um avião como o A320 da TAM?
CORREIA - Não é uma pista ideal para um avião de grande porte, mas não está abaixo do mínimo necessário. Se a compararmos à pista do aeroporto de Guarulhos, que tem 3.700 metros, ou à do Galeão (Rio), de 4.000 metros, a pista principal de Congonhas (1.940 metros) está no talo. Se o piloto tocar no lugar errado no pouso, tocar numa velocidade maior ou se a pista tiver problema de aderência, aumenta o risco de acidente. Se tivesse uma área gramada na frente da pista, com inclinação razoável, reduziria o risco.

FOLHA - O que fazer em Congonhas para evitar acidentes?
CORREIA - Congonhas não tem vocação para operar grandes aviões ou vôos de longa duração. Essa é a chance de o governo rever Congonhas e reestruturar o número e o tipo dos aviões que vão operar ali. Podemos transferir boa parte dos vôos para Guarulhos e Viracopos e manter ali aviões de menor porte. Ter o maior aeroporto da América Latina em condições não ideais aumenta a chance de acidente.

FOLHA - Por que Congonhas ainda é o principal aeroporto do país? As empresas aéreas operam no aeroporto para reduzir custos?
CORREIA - Toda empresa quer lucro máximo, mas não adianta colocar a culpa nas companhias. Isso ocorre porque falta diferença de tarifa entre os aeroportos. Isso é falha da Anac. O acesso para outros aeroportos a partir de São Paulo é muito ruim. Cadê o trem expresso para levar até o aeroporto de Guarulhos? Cadê o trem ligando São Paulo a Campinas? Tudo isso é falha do governo.


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