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Filme que elogia a Rota vira hit em bancas de camelôs
Trama mostra cenas de assassinato, estupro, tráfico de drogas e pancadaria
Inspirado em "Tropa de Elite" e baseado em livro do deputado Conte Lopes, produção foi bancada e dirigida por empresário
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
"Nós somos a verdadeira tropa de elite", grita um soldado
com a boina preta e o braçal da
Rota, no filme que, lançado há
uma semana, já é responsável
pela maior fatia de faturamento das barracas de DVDs piratas
do centro de São Paulo (ganha,
inclusive do infantil "Era do
Gelo 3" -e é época de férias).
"Rota Comando" elogia as
Rondas Ostensivas Tobias de
Aguiar, que se orgulha de ser "o
terror dos bandidos".
Movido a hectolitros de sangue, drogas, sequestro, assassinatos, estupro e pancadaria generalizada, o filme foi dirigido,
escrito, produzido e financiado
pelo microempresário Elias Junior, 43, que ainda defendeu
um pequeno papel na história.
A inspiração veio de "Tropa
de Elite", do diretor José Padilha, que foi patrocinado pela
Petrobras, BNDES, Claro e
CSN, entre outros.
O blockbuster de 2007, orçamento de R$ 10,5 milhões,
bombou primeiro nas barracas
dos piratas. Quando estreou em
171 salas, ainda conseguiu vender 2,4 milhões de ingressos.
Tornou-se a 11ª maior bilheteria desde a retomada do cinema nacional, a partir de 1995. O
precedente era bom demais.
Elias Junior, contudo, não
contou com um detalhe. "A Rota é vítima de um preconceito
enorme", diz. "São denúncias e
mais denúncias infundadas de
que a Rota mata inocentes. Eu
nunca vi nada disso acontecer."
O diretor afirma que, desde
1994, acompanha as ações da
tropa, gravando em vídeo as
ocorrências. "Pretendia fazer
um documentário", explica.
Em 2007, "Tropa de Elite"
estava no ápice do sucesso e
Elias Junior resolveu enveredar para um longa "baseado em
fatos reais", como define.
Ele acabara de receber autorização da Secretaria da Segurança Pública para fazer tomadas dentro do próprio quartel
da Rota, no prédio amarelo de
1892 projetado pelo arquiteto
Ramos de Azevedo e fincado na
avenida Tiradentes. O filme começava a ganhar vida.
Mas, depois de percorrer nada menos do que 86 patrocinadores, incluindo todos os que
deram dinheiro para "Tropa de
Elite", o resultado foi "zero, nada, nenhum centavo".
"O Pão de Açúcar me disse
que não poderia. Que seu slogan é "lugar de gente feliz", e não
"de gente morta". Até entendi",
afirmou o diretor, que diz ter
bancado a produção com
R$ 500 mil do próprio bolso.
"Rota Comando" gastou 30
litros de sangue cenográfico
durante as gravações -o volume equivale a todo o sangue
contido nos corpos de cinco homens adultos. No filme, todas
as vezes, os tiros saem primeiro
das armas em mãos dos bandidos. Só depois a Rota atira.
Diretor e filme defendem o
método do "esculacho" (gíria
que quer dizer desmoralizar,
humilhar ou expor a vexação e
vergonha) contra presos.
Em uma cena, o bandido leva
saraivada de tapas na cara. Em
outra, o policial ameaça atirar
em um suspeito, a fim de obrigá-lo a entregar seus comparsas. "Bandido é malandro mesmo. É legítimo o uso da "força
necessária" para fazê-lo colaborar", advoga Elias Junior, cujo
sonho de garoto era ser da Rota.
Vale saco plástico para sufocar, como se vê em "Tropa de
Elite"? "Vale chute, tapão na
cara, humilhação, "a força necessária" para fazê-lo colaborar", respondeu o diretor.
A principal fonte de inspiração do filme sobre a Rota vem
do livro "Matar ou Morrer", do
ex-oficial Conte Lopes, hoje deputado estadual (PTB-SP), suposto autor do lema "Bandido
não cria nome em São Paulo".
"Matar..." foi publicado em
1994 e pretendia ser uma resposta ao livro do jornalista Caco Barcellos, "Rota 66 - A História da Polícia que Mata", de
1992, que retrata a tropa de elite paulista como um sistemático grupo de extermínio.
Atirador filiado à Federação
Brasileira de Tiro Prático, Elias
Junior é admirador de Conte
Lopes. "Até tentei falar com o
Caco Barcellos para o filme.
Mas era só de curiosidade. Já
sabia que a base da minha obra
seria o Conte Lopes."
O apoio da Secretaria da Segurança Pública ao filme materializou-se, segundo o diretor,
na forma de reforço policial durante as gravações realizadas
em áreas de favelas; e na permissão para tomadas feitas
dentro do quartel da Rota.
A Folha perguntou à secretaria o que acha da prática do
"esculacho" contra prisioneiros. "Não vamos falar sobre o
assunto", foi a resposta.
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