São Paulo, segunda-feira, 19 de julho de 2010

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Qualidade do ar piora no interior de SP

Problema também afeta cada vez mais a população de municípios da Baixada Santista e do entorno da capital

Mapeamento da Cetesb mostra que dez cidades interioranas com mais de 200 mil habitantes estão com o ar saturado

EDUARDO GERAQUE
DE SÃO PAULO

A afirmação de que a cidade de São Paulo tem uma poluição do ar crônica não surpreende mais ninguém. Desde 2005, porém, o mesmo problema está cada vez mais persistente nas grandes cidades do interior do Estado, da região metropolitana de São Paulo e da Baixada Santista.
Segundo a mais recente classificação da saturação do ar do Estado, feita pela Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de SP), dez cidades do interior com mais de 200 mil habitantes têm o ar saturado (veja quadro ao lado).
Entre elas, estão importantes centros econômicos como Campinas, Ribeirão Preto, São José dos Campos e Taubaté. Outras estão com o ar em vias de saturação, como São Carlos, Araraquara, Bauru e São José do Rio Preto.
Na comparação entre relatórios semelhantes emitidos em 2008, 2009 e 2010 -mas que consideram os números de 2005 a 2009-, a situação piorou em cidades como Santos, Santo André e Cubatão.
O ar saturado pode trazer problemas de saúde à população, principalmente crianças e idosos. O risco de câncer de pulmão é maior.

POLUIÇÃO LOCAL
Segundo a Cetesb, a poluição nesses locais está mais relacionada a fontes locais de contaminação, sejam elas fixas -como indústrias- ou móveis, como veículos. Em alguns casos, porém, a influência da poluição da capital não pode ser descartada.
"Em Santos, o principal problema são as partículas em suspensão, geradas, por exemplo, pelo grande movimento de caminhões transportando grãos no porto", diz Carlos Komatsu, gerente do Departamento de Qualidade Ambiental da Cetesb.
A agência é obrigada a dizer anualmente onde a qualidade do ar está preocupante.
A legislação de 2007 obriga, ainda, a classificar a saturação do ar como moderada, séria ou severa. Na lista recém-divulgada, 44 cidades -todas praticamente ao redor da capital- estão com o grau mais alto de poluição.

AUTOMÓVEIS
Os principais poluentes que causam esse quadro, revelam os números da Cetesb, têm nome e endereço.
O ozônio, chamado de poluente secundário -por se originar de um processo e não de uma fonte de emissão direta- é um dos principais problemas. Ele é formado a partir de substâncias oriundas da queima incompleta dos combustíveis veiculares.
Como mostrou ontem reportagem da Folha, a frota do país aumentou 52% em cinco anos (2005 a 2010), puxada, principalmente, pelo crescimento do total de motos (expansão de 105%). A frota de carros cresceu 40%, e a de caminhões, 45%.
Em termos estruturais, os especialistas concordam que a primeira ação a ser feita nas cidades com altos índices de ozônio e material particulado -um problema praticamente mundial hoje- é o controle do uso do diesel.
Estimativas mostram que 80% e 40% dos precursores dos dois poluentes, respectivamente, derivam da frota a diesel. As motos, também, principalmente as mais antigas (fabricadas antes de 2008), são bem mais poluentes que o carro -algumas chegam a jogar 20 vezes mais poluentes na atmosfera.

NOVAS FONTES
"Em termos gerais, a situação ainda não melhorou, mas, a partir de 2013, teremos ações mais efetivas para controlar a poluição das novas fontes de emissão, como indústrias", diz Komatsu.
A legislação de 2007, afirma, era para controlar as novas fontes de poluição. Uma das ações que a Cetesb pode fazer, por exemplo, é endurecer o licenciamento ambiental de novas indústrias onde a poluição do ar estiver severa. "Sobre as fontes antigas, não tem muito o que fazer."


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