São Paulo, domingo, 19 de agosto de 2007

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Cassado, ex-professor quer voltar a dar aulas

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Com uma dívida de cerca de R$ 680 mil com o governo federal, Eduardo José Antunes Netto Carreira é personagem de um caso peculiar entre os bolsistas condenados pelo TCU a devolver o valor de suas bolsas.
Em 2001, ele foi acusado de falsificar o diploma de graduação, fazer doutorado em Barcelona com bolsa do CNPq e passar no concurso para professor de história medieval na UnB (Universidade de Brasília).
A acusação lhe custou a expulsão da universidade e, segundo ele, um constrangimento público. "Você já apareceu no "Jornal Nacional" como um falsário? Eu já. Quase morri."
Carreira admite que não tem diploma de graduação, mas nega ter falsificado o documento para entrar na universidade. "No concurso da UnB, me pediram só carteira de identidade, CPF e diploma de doutor."
Para o doutorado também não lhe teriam exigido graduação. O Ministério Público atestou no processo que isso era de fato possível, pois a Universitat de Barcelona pode expedir diploma de doutorado sem homologar o de graduação.
Mas, de acordo com o TCU, como as regras no Brasil são diferentes, o CNPq só poderia dar bolsa de doutorado a quem concluiu a graduação.
Além disso, em comunicado ao TCU, a Universitat de Barcelona afirmou que o diploma de doutorado do professor era "sem validez profissional". Ou seja: "o título de doutor assim obtido não lhe confere qualquer direito (...) para pleitear postos de trabalho que exijam o grau de doutor".
O ex-professor da UnB, porém, acredita que a condenação foi injusta. "Eu nunca desonrei o país. Terminei a minha tese, voltei ao Brasil e formei um monte de gente."
Seis anos após a expulsão, porém, ele diz que se reergueu. Cita o prêmio que recebeu na Espanha em 1992 pela tese, diz que dá aulas em dois cursinhos para preparar candidatos à diplomacia e afirma que publica mais livros que antes.
Mas, em débito com o Tesouro -a dívida é "impagável", diz-, ele ainda tenta retomar o que perdeu com a ação no TCU.
Após ser expulso da UnB, ele prestou vestibular para o curso de história da universidade. Tem aulas com muitos dos ex-colegas que, diz, articularam sua saída. A eles e aos amigos que diz ainda ter na academia, o hoje aluno avisa: "Eu vou voltar à minha cátedra". (AP)


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