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POLÍCIA SOB SUSPEITA
Relatório mostra que houve conversas telefônicas entre Ettore Capalbo Sobrinho e agente suspeito
Quebra de sigilo derruba versão de delegado
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
A quebra de sigilo telefônico e o
depoimento de outro delegado
ontem desmentiram, segundo a
CPI da Pirataria da Câmara, o delegado Ettore Capalbo Sobrinho,
titular do SIG (Setor de Investigações Gerais) da Delegacia Seccional Leste, em São Paulo. Ele é suspeito de ter dado uma ordem para
liberar uma carga apreendida do
contrabandista Roberto Eleutério
da Silva, o Lobão.
Um delegado, dois investigadores e um agente policial estão presos por suspeita de crimes de concussão (extorsão praticada por
funcionários públicos), prevaricação, estelionato e formação de
quadrilha descobertos a partir da
investigação sobre Lobão. Mas é a
primeira vez que a CPI reúne dados de um delegado que teria participação direta no esquema de
proteção ao contrabandista.
Ouvido pela segunda vez ontem, um dia após ter seu sigilo telefônico quebrado, Capalbo Sobrinho mudou ontem seu depoimento prestado à CPI na última
segunda-feira. A alteração reforçou ainda mais a suspeita dos deputados federais.
"Há muitas contradições. A
quebra do sigilo mostrou que ele
não estava falando a verdade",
afirmou o presidente da CPI, Luiz
Antonio de Medeiros (PL-SP).
O nome de Capalbo Sobrinho
apareceu na CPI na segunda-feira, quando o agente policial Jean
Wagner Cabral disse que recebeu
dele a ordem, por telefone, de deixar o local onde um caminhão de
Lobão tinha sido apreendido, em
fevereiro deste ano.
Cabral, suspeito de usar a
apreensão para extorquir dinheiro de Lobão, disse à CPI que após
liberar a carga recebeu no 10º DP
(Penha), onde trabalhava, um envelope com US$ 3.000 -o 10º DP
fica na área da Seccional Leste.
No mesmo dia, chamado pelos
deputados, Capalbo Sobrinho negou ter ligado para Cabral e ter
dado a ordem para suspender a
apreensão. Na acareação com o
agente, ele manteve a posição.
Ontem, já com o sigilo telefônico quebrado, ele disse à CPI que
se lembrou de ter recebido ou feito uma ligação a Cabral. Mas voltou a negar a ordem de liberar o
caminhão. A quebra do sigilo revelou que o delegado recebeu
uma ligação -que durou 12 segundos- e fez outra -de cinco
minutos e meio- para Cabral na
tarde do dia 14 de fevereiro.
Capalbo Sobrinho disse então
não se lembrar do conteúdo da
conversa. Afirmou que foi informado sobre uma operação contra
contrabando feita por um policial
do 10º DP e que cobrou esses dados do titular desse distrito, o delegado Mário Guilherme Carvalho. Segundo Capalbo Sobrinho,
Carvalho dissera que o policial já
tinha se retirado do local.
Depois de uma reunião fechada
com os deputados da CPI ontem,
Carvalho afirmou que Capalbo
Sobrinho mandou "abortar a
operação", sem dar explicações,
reforçando a versão de Cabral.
A CPI tenta agora identificar de
quem seriam as ligações que aparecem na conta telefônica de Capalbo Sobrinho feitas de um telefone pré-pago da Tim que não
tem cadastro na empresa. Segundo Medeiros, o delegado pode ter
recebido a ordem de um superior.
Como Capalbo Sobrinho estaria
envolvido diretamente no esquema de Lobão, denunciado à Justiça Federal, a CPI disse que ainda
espera uma definição da Justiça
sobre qual instância -a federal
ou estadual- na qual ele deve ser
processado para depois encaminhar pedido de denúncia. O Ministério Público Estadual de São
Paulo e o Departamento de Inquéritos Policiais já está investigando outros crimes descobertos
durante a investigação.
Se o envolvimento de policiais
civis com Lobão ainda está sob
suspeita, a ligação do contrabandista com PMs foi confirmada ontem à CPI da Pirataria pelo soldado Arnaldo Ferracini e o sargento
Luiz Carlos Filho.
Os dois afirmaram que 24 PMs
faziam a segurança pessoal da família de Lobão. A empresa Reker,
registrada em nome das mulheres
dos dois PMs, recebia R$ 36 mil
por mês pelo serviço. Eram seis
policiais por turno de 12 horas.
Ferracini disse que dava recibo a
Lobão e recebia em dinheiro. O
serviço estava sendo prestado havia 11 meses, após a filha do contrabandista ter sido sequestrada.
Mas os dois PMs negaram terem
trabalhado na escolta de cargas
contrabandeadas ou roubadas.
Ainda negaram saber que Lobão
era contrabandista.
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