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São Paulo, sexta-feira, 19 de setembro de 2003

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POLÍCIA SOB SUSPEITA

Relatório mostra que houve conversas telefônicas entre Ettore Capalbo Sobrinho e agente suspeito

Quebra de sigilo derruba versão de delegado

GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

A quebra de sigilo telefônico e o depoimento de outro delegado ontem desmentiram, segundo a CPI da Pirataria da Câmara, o delegado Ettore Capalbo Sobrinho, titular do SIG (Setor de Investigações Gerais) da Delegacia Seccional Leste, em São Paulo. Ele é suspeito de ter dado uma ordem para liberar uma carga apreendida do contrabandista Roberto Eleutério da Silva, o Lobão.
Um delegado, dois investigadores e um agente policial estão presos por suspeita de crimes de concussão (extorsão praticada por funcionários públicos), prevaricação, estelionato e formação de quadrilha descobertos a partir da investigação sobre Lobão. Mas é a primeira vez que a CPI reúne dados de um delegado que teria participação direta no esquema de proteção ao contrabandista.
Ouvido pela segunda vez ontem, um dia após ter seu sigilo telefônico quebrado, Capalbo Sobrinho mudou ontem seu depoimento prestado à CPI na última segunda-feira. A alteração reforçou ainda mais a suspeita dos deputados federais.
"Há muitas contradições. A quebra do sigilo mostrou que ele não estava falando a verdade", afirmou o presidente da CPI, Luiz Antonio de Medeiros (PL-SP).
O nome de Capalbo Sobrinho apareceu na CPI na segunda-feira, quando o agente policial Jean Wagner Cabral disse que recebeu dele a ordem, por telefone, de deixar o local onde um caminhão de Lobão tinha sido apreendido, em fevereiro deste ano.
Cabral, suspeito de usar a apreensão para extorquir dinheiro de Lobão, disse à CPI que após liberar a carga recebeu no 10º DP (Penha), onde trabalhava, um envelope com US$ 3.000 -o 10º DP fica na área da Seccional Leste.
No mesmo dia, chamado pelos deputados, Capalbo Sobrinho negou ter ligado para Cabral e ter dado a ordem para suspender a apreensão. Na acareação com o agente, ele manteve a posição.
Ontem, já com o sigilo telefônico quebrado, ele disse à CPI que se lembrou de ter recebido ou feito uma ligação a Cabral. Mas voltou a negar a ordem de liberar o caminhão. A quebra do sigilo revelou que o delegado recebeu uma ligação -que durou 12 segundos- e fez outra -de cinco minutos e meio- para Cabral na tarde do dia 14 de fevereiro.
Capalbo Sobrinho disse então não se lembrar do conteúdo da conversa. Afirmou que foi informado sobre uma operação contra contrabando feita por um policial do 10º DP e que cobrou esses dados do titular desse distrito, o delegado Mário Guilherme Carvalho. Segundo Capalbo Sobrinho, Carvalho dissera que o policial já tinha se retirado do local.
Depois de uma reunião fechada com os deputados da CPI ontem, Carvalho afirmou que Capalbo Sobrinho mandou "abortar a operação", sem dar explicações, reforçando a versão de Cabral.
A CPI tenta agora identificar de quem seriam as ligações que aparecem na conta telefônica de Capalbo Sobrinho feitas de um telefone pré-pago da Tim que não tem cadastro na empresa. Segundo Medeiros, o delegado pode ter recebido a ordem de um superior.
Como Capalbo Sobrinho estaria envolvido diretamente no esquema de Lobão, denunciado à Justiça Federal, a CPI disse que ainda espera uma definição da Justiça sobre qual instância -a federal ou estadual- na qual ele deve ser processado para depois encaminhar pedido de denúncia. O Ministério Público Estadual de São Paulo e o Departamento de Inquéritos Policiais já está investigando outros crimes descobertos durante a investigação.
Se o envolvimento de policiais civis com Lobão ainda está sob suspeita, a ligação do contrabandista com PMs foi confirmada ontem à CPI da Pirataria pelo soldado Arnaldo Ferracini e o sargento Luiz Carlos Filho.
Os dois afirmaram que 24 PMs faziam a segurança pessoal da família de Lobão. A empresa Reker, registrada em nome das mulheres dos dois PMs, recebia R$ 36 mil por mês pelo serviço. Eram seis policiais por turno de 12 horas.
Ferracini disse que dava recibo a Lobão e recebia em dinheiro. O serviço estava sendo prestado havia 11 meses, após a filha do contrabandista ter sido sequestrada. Mas os dois PMs negaram terem trabalhado na escolta de cargas contrabandeadas ou roubadas. Ainda negaram saber que Lobão era contrabandista.


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