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Erro no metrô causa desencontro de túneis
Desalinhamento, de 80 cm, é considerado incomum por técnicos; Consórcio Via Amarela diz que problema não é grave
Metrô afirma que não haverá conseqüência em termos de prazo, segurança ou custos para a população
e para a companhia
ALENCAR IZIDORO
KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL
CAIO GUATELLI
REPÓRTER-FOTOGRÁFICO
Um erro na execução da obra
da linha 4-amarela (Luz-Vila
Sônia) do Metrô de São Paulo
provocou um desencontro de
túneis que são escavados a partir de duas frentes de trabalho.
A falha obrigará as empreiteiras a fazer correções que podem se estender por um mês.
O problema ocorreu no último dia 10, em um ponto que deveria ser a conexão dos túneis
Caxingui/Três Poderes, na zona oeste de São Paulo.
O encontro das duas frentes
de túneis não foi possível por
conta de um desalinhamento
lateral de 80 cm entre elas.
Especialistas afirmam que
parâmetros aceitáveis seriam,
no máximo, de 10 cm -para alguns, ainda menos. O erro foi
alvo de preocupação dos trabalhadores (que falavam em um
desvio de 1,5 m) e, segundo a
Folha apurou, de ao menos
parte dos técnicos do Metrô.
O Consórcio Via Amarela
(Odebrecht, OAS, Queiroz Galvão, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez) diz não haver
gravidade no erro e que "a correção geométrica ocorrerá na
seqüência dos trabalhos".
O Metrô diz que não haverá
"conseqüência ou repercussão
em termos de prazo, segurança
ou custos para a população e
para a companhia" -sem esclarecer se haverá prejuízos às
construtoras, que vão receber
do Estado um total próximo de
R$ 2 bilhões pela linha 4.
A avaliação majoritária de
especialistas ouvidos pela Folha é de que se trata de uma falha incomum e de nível mediano. Um deles, extraoficialmente, chegou a classificar esse erro
como uma "barbeiragem".
O especialista Roberto Kochen, ligado ao Instituto de Engenharia e que já prestou consultoria ao Via Amarela, diz que
um desalinhamento de 80 cm é
considerado "elevado", mas
avalia ser possível a correção.
Inicialmente, disse ser aceitável "até uns 5 cm". Depois,
acrescentou que, em alguns casos, no máximo "uns 10 cm" podem não ser problemáticos.
O caso mais significativo de
desencontro de túneis de metrô que Kochen diz se lembrar
foi uma diferença de 1,20 m em
Brasília, na década de 90.
"As duas frentes não marcharam na mesma direção. No Brasil eu desconheço [casos assim]. Mas fora do Brasil já ouvi
falar", afirmou Tarcísio Barreto
Celestino, que é presidente do
Comitê Brasileiro de Túneis e
encarregado do projeto de parte dos túneis da linha 4.
Ele considera fácil a correção
do problema -no prazo de até
um mês. "Eu diria que se tivesse dado 7 cm você não viria me
entrevistar", diz Celestino, para quem os passageiros não saberão de nada "desde que você
faça um ajuste dentro dos critérios geométricos desse raio".
Segundo ele, será preciso
"preencher um lado com concreto". Já em outro lado será
necessário escavar para fazer
um ajuste no eixo do túnel.
Controle inadequado
Técnicos avaliam que a falha
foi provavelmente topográfica,
motivada por fatores humanos,
de máquinas ou de projeto.
A maior preocupação manifestada por um deles está em
uma informação da ficha de
não-conformidade no trecho,
que cita ter havido um "controle-executivo inadequado".
Trata-se de um possível indicativo de que as medições topográficas para a escavação dos
túneis poderiam estar ocorrendo de forma inadequada -algo
que provoca riscos de desencontros de maior gravidade.
Segundo Roberto Kochen,
dependendo do método de escavação, as avaliações topográficas precisam ser feitas a cada
um, cinco ou, no máximo, dez
metros de avanço dos túneis.
Outros dois geólogos entrevistados pela Folha -e que já
ocuparam cargos de destaque
em estatais paulistas- afirmaram que a falha é "básica" e não
deveria ser "aceitável". Um deles falou em erro "crasso" e
"barbeiragem". Ambos só aceitaram dar entrevista sem que
fossem identificados, sob a alegação de que podem ser alvo de
retaliação aos serviços que
prestam como consultores.
As escavações que tiveram
problemas eram feitas pela técnica NATM -que emprega retroescavadeira e explosivos,
em vez do shield ou "tatuzão".
O repórter-fotográfico da
Folha esteve no local ontem e
fotografou a área, sem se identificar como jornalista -usava
um chapéu de proteção com
emblema do consórcio.
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