São Paulo, quarta-feira, 19 de setembro de 2007

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Erro no metrô causa desencontro de túneis

Desalinhamento, de 80 cm, é considerado incomum por técnicos; Consórcio Via Amarela diz que problema não é grave

Metrô afirma que não haverá conseqüência em termos de prazo, segurança ou custos para a população e para a companhia

ALENCAR IZIDORO
KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL

CAIO GUATELLI
REPÓRTER-FOTOGRÁFICO

Um erro na execução da obra da linha 4-amarela (Luz-Vila Sônia) do Metrô de São Paulo provocou um desencontro de túneis que são escavados a partir de duas frentes de trabalho. A falha obrigará as empreiteiras a fazer correções que podem se estender por um mês.
O problema ocorreu no último dia 10, em um ponto que deveria ser a conexão dos túneis Caxingui/Três Poderes, na zona oeste de São Paulo.
O encontro das duas frentes de túneis não foi possível por conta de um desalinhamento lateral de 80 cm entre elas.
Especialistas afirmam que parâmetros aceitáveis seriam, no máximo, de 10 cm -para alguns, ainda menos. O erro foi alvo de preocupação dos trabalhadores (que falavam em um desvio de 1,5 m) e, segundo a Folha apurou, de ao menos parte dos técnicos do Metrô.
O Consórcio Via Amarela (Odebrecht, OAS, Queiroz Galvão, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez) diz não haver gravidade no erro e que "a correção geométrica ocorrerá na seqüência dos trabalhos".
O Metrô diz que não haverá "conseqüência ou repercussão em termos de prazo, segurança ou custos para a população e para a companhia" -sem esclarecer se haverá prejuízos às construtoras, que vão receber do Estado um total próximo de R$ 2 bilhões pela linha 4.
A avaliação majoritária de especialistas ouvidos pela Folha é de que se trata de uma falha incomum e de nível mediano. Um deles, extraoficialmente, chegou a classificar esse erro como uma "barbeiragem".
O especialista Roberto Kochen, ligado ao Instituto de Engenharia e que já prestou consultoria ao Via Amarela, diz que um desalinhamento de 80 cm é considerado "elevado", mas avalia ser possível a correção.
Inicialmente, disse ser aceitável "até uns 5 cm". Depois, acrescentou que, em alguns casos, no máximo "uns 10 cm" podem não ser problemáticos.
O caso mais significativo de desencontro de túneis de metrô que Kochen diz se lembrar foi uma diferença de 1,20 m em Brasília, na década de 90.
"As duas frentes não marcharam na mesma direção. No Brasil eu desconheço [casos assim]. Mas fora do Brasil já ouvi falar", afirmou Tarcísio Barreto Celestino, que é presidente do Comitê Brasileiro de Túneis e encarregado do projeto de parte dos túneis da linha 4.
Ele considera fácil a correção do problema -no prazo de até um mês. "Eu diria que se tivesse dado 7 cm você não viria me entrevistar", diz Celestino, para quem os passageiros não saberão de nada "desde que você faça um ajuste dentro dos critérios geométricos desse raio".
Segundo ele, será preciso "preencher um lado com concreto". Já em outro lado será necessário escavar para fazer um ajuste no eixo do túnel.

Controle inadequado
Técnicos avaliam que a falha foi provavelmente topográfica, motivada por fatores humanos, de máquinas ou de projeto.
A maior preocupação manifestada por um deles está em uma informação da ficha de não-conformidade no trecho, que cita ter havido um "controle-executivo inadequado".
Trata-se de um possível indicativo de que as medições topográficas para a escavação dos túneis poderiam estar ocorrendo de forma inadequada -algo que provoca riscos de desencontros de maior gravidade.
Segundo Roberto Kochen, dependendo do método de escavação, as avaliações topográficas precisam ser feitas a cada um, cinco ou, no máximo, dez metros de avanço dos túneis.
Outros dois geólogos entrevistados pela Folha -e que já ocuparam cargos de destaque em estatais paulistas- afirmaram que a falha é "básica" e não deveria ser "aceitável". Um deles falou em erro "crasso" e "barbeiragem". Ambos só aceitaram dar entrevista sem que fossem identificados, sob a alegação de que podem ser alvo de retaliação aos serviços que prestam como consultores.
As escavações que tiveram problemas eram feitas pela técnica NATM -que emprega retroescavadeira e explosivos, em vez do shield ou "tatuzão".
O repórter-fotográfico da Folha esteve no local ontem e fotografou a área, sem se identificar como jornalista -usava um chapéu de proteção com emblema do consórcio.


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