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SP faz plano de emergência antigreve na Polícia Civil
Idéia é transferir parte das atribuições à Policia Militar, que não aderiu ao movimento
Greve entra hoje no quarto dia, mas alguns delegados, com medo de punições, agora negam ter restringido atendimento à população
Alex Almeida/Folha Imagem
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ÀS MOSCAS
O 20º DP, em Água Fria (zona norte), que estava vazio na tarde de ontem; delegado disse que não houve adesão à greve, mas a Folha flagrou pessoas que deixaram o local sem conseguir prestar queixa
DA REPORTAGEM LOCAL
DA FOLHA RIBEIRÃO
O governo José Serra (PSDB)
elaborou um plano de emergência para restringir os efeitos
da greve de policiais civis de
São Paulo. O plano prevê a
transferência de parte das atribuições da Polícia Civil à PM,
que não aderiu à paralisação. A
greve chega hoje ao quarto dia.
Com as negociações paralisadas, o governo já havia adotado
anteontem um tom mais duro
contra os grevistas, com ameaça de processos administrativos e judiciais para punir eventuais abusos, como negar o
atendimento à população.
No plano, de 11 páginas, ao
qual a Folha teve acesso, é feita
uma série de orientações aos
PMs sobre como agir diante da
recusa de delegados e escrivães
de cumprir suas funções.
Os PMs podem, por exemplo, acionar diretamente a perícia, apresentar vítimas e suspeitos para exames de corpo de
delito, apreender objetos e levar pessoas detidas à prisão.
A assessoria de Serra confirmou ontem a existência do plano de contingência, "que está
na mesa do secretário da Segurança" para ser usado, caso o
governo considere necessário.
Ontem, Serra voltou a se negar
a comentar a paralisação.
Até o início da noite, segundo
o governo, não havia nenhum
tipo de "caos" no atendimento
nas delegacias, o que teria ficado configurado pelo baixo número de queixas encaminhadas por cidadãos à Secretaria
da Segurança.
No balanço parcial, concluído à tarde, a pasta diz ter recebido só dez reclamações por telefone e outras 13 por e-mail.
A Folha, porém, constatou
que vários casos de crimes considerados pelos grevistas como
menos graves, como furto e
perda de documentos, continuam não sendo registrados. O
atendimento, em vários DPs,
continua restrito a casos, por
exemplo, de roubo e homicídio.
Segundo o sindicato, a greve
atinge 70% das delegacias da
capital e 100% no interior.
De acordo com a Secretaria
da Segurança, o uso de PMs no
lugar de grevistas já ocorreu
em Barueri (Grande SP). Para o
sindicato dos policiais, a medida do governo é inconstitucional e a entidade ameaça ir à
Justiça para barrá-la.
Recuo
Dos 74 distritos policiais visitados pela Folha desde que a
paralisação foi deflagrada até
ontem, em 48 havia policiais
em greve e 26 estavam funcionando normalmente.
Mas ontem, um dia após as
ameaças do governo, o movimento apresentava sinais de
recuo. Em distritos da capital,
delegados negavam ter aderido
à greve -apesar de o atendimento continuar restrito a casos mais graves.
Com medo de sanções, que
vão da perda do cargo de chefia
até a transferência para regiões
periféricas, delegados decidiram assumir eles mesmos os
plantões dos DPs para registrar
ocorrências simples.
Sob a condição de anonimato, alguns deles disseram que o
governo vai punir aqueles que
estiverem parados. Alegam
que, por ocuparem cargos de
confiança, sofrem punições
mais severas do que investigadores e escrivães.
No 39º DP, na Vila Gustavo,
na zona norte, a Folha flagrou
uma situação inusitada à tarde.
Em vez de encontrar um investigador ou escrivão no plantão,
havia um delegado, que anonimato, atendendo o público e
registrando ocorrências de menor gravidade.
Ele explicou que resolveu cobrir o plantão porque, como os
investigadores haviam aderido
à greve, não queria que o DP
fosse acusado de não prestar
atendimento. Em suas mãos
havia um BO de caso de furto,
registrado minutos antes da
chegada da reportagem.
No interior, a situação continua ruim. A greve está provocando o atraso no esclarecimento de crimes, tanto no estágio inicial -as investigações
estão paradas- quanto no final
-a Justiça tem adiado audiências e inquéritos não são devolvidos à Polícia Civil para investigações complementares.
Os grevistas reivindicam reajuste imediato de 15% mais
duas parcelas de 12% no próximo ano e em 2010.
O governo oferece reajuste
de 4,5% no salário-base, mais
um pacote de benefícios que
garantiria aumento de até 38%
para os delegados, elevando o
piso de R$ 3.708,18 para
R$ 5.117,40. Para investigadores, os aumentos chegariam a
28%, com o piso passando de
R$ 1.752,82 para R$ 2.250,23.
(LUIS KAWAGUTI, JOSÉ ERNESTO CREDENDIO e KLEBER TOMAZ)
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