|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Mulher não consegue registrar ameaça em delegacia do interior
Moradora de Ribeirão Preto procurou delegacia da mulher para prestar queixa contra o ex-marido, que a ameaçou
Policiais da unidade dizem que só estão atendendo casos como os de agressão; greve também tem afetado andamento de processos
RAQUEL ILIANO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA RIBEIRÃO
ROBERTO MADUREIRA
DA FOLHA RIBEIRÃO
No interior do Estado, onde a
paralisação dos policiais civis,
de acordo com entidades da categoria, é de quase 100%, nem
ameaças de agressão estão
sendo registradas.
A auxiliar de limpeza Cecília
Jesus Santos, 32, procurou a
delegacia da mulher de Ribeirão Preto, ontem, para registrar
queixa contra o seu ex-marido,
que a havia ameaçado no dia
anterior. Ela não foi atendida.
"Me sinto um pouco prejudicada [pelo fato de não ter sido
atendida], mas vou fazer o quê?
Amanhã ou depois se meu ex-marido me bater, aí vamos ver
se alguém faz alguma coisa."
Já a cozinheira Sônia Camparine Osório, 58, quis registrar
queixa contra o marido, que,
diz ela, chegou embriagado em
casa na noite anterior e quebrou todos os móveis da casa.
"Olhando pelo meu lado,
acho um absurdo a greve. Mas
olhando pelo lado deles, e sendo um pouco moderada, não fico brava, não, porque pegaram
meu telefone e prometeram ligar quando a greve acabar para
eu vir fazer o boletim", afirmou.
Funcionários da delegacia dizem que só estão registrando
casos relativos à Lei Maria da
Penha, como os de ameaça real,
espancamento ou flagrantes. A
delegada Marcia Queiroz Cardoso não quis dar declarações.
Na capital paulista, Gislene
Aparecida de Oliveira, 34, não
conseguiu registrar ocorrência
no 47º DP (Capão Redondo,
zona sul). Ela teme que seu filho, o estudante Danilo de Oliveira, 15, seja preso por estar
sem carteira de identidade. Ela
conta que o rapaz foi assaltado
anteontem e teve os documentos levados.
"É muito mais fácil a polícia
parar um homem do que uma
mulher. Ainda mais um negro,
pobre e na periferia", disse ela.
De acordo com Antônio Oliveira, 52, escrivão do 47º DP,
somente estão sendo registradas ocorrências graves.
Um levantamento dos grevistas apontou que no segundo
dia de paralisação -anteontem- foram registrados aproximadamente 2.300 boletins
de ocorrência no Estado. Já no
dia 11, antes da última paralisação, o número registrado foi de
cerca de 4.630.
A greve também tem provocado atraso no esclarecimento
de crimes. O prejuízo começa
no início do processo- em decorrência da paralisação das investigações policiais- e chega
até à esfera judicial.
A situação foi constatada nas
cidades de Ribeirão, Franca,
São Carlos, Araraquara e Sertãozinho. Em Ribeirão, ao menos quatro audiências foram
canceladas, três por falta do
réu, que não teve escolta da polícia para ir ao fórum, e uma por
ausência do investigador, que
seria testemunha.
Colaborou o "Agora"
Texto Anterior: SP faz plano de emergência antigreve na Polícia Civil Próximo Texto: Greve não pode constranger o cidadão, diz professor de direito constitucional Índice
|