São Paulo, sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mulher não consegue registrar ameaça em delegacia do interior

Moradora de Ribeirão Preto procurou delegacia da mulher para prestar queixa contra o ex-marido, que a ameaçou

Policiais da unidade dizem que só estão atendendo casos como os de agressão; greve também tem afetado andamento de processos

RAQUEL ILIANO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA RIBEIRÃO
ROBERTO MADUREIRA
DA FOLHA RIBEIRÃO

No interior do Estado, onde a paralisação dos policiais civis, de acordo com entidades da categoria, é de quase 100%, nem ameaças de agressão estão sendo registradas.
A auxiliar de limpeza Cecília Jesus Santos, 32, procurou a delegacia da mulher de Ribeirão Preto, ontem, para registrar queixa contra o seu ex-marido, que a havia ameaçado no dia anterior. Ela não foi atendida.
"Me sinto um pouco prejudicada [pelo fato de não ter sido atendida], mas vou fazer o quê? Amanhã ou depois se meu ex-marido me bater, aí vamos ver se alguém faz alguma coisa."
Já a cozinheira Sônia Camparine Osório, 58, quis registrar queixa contra o marido, que, diz ela, chegou embriagado em casa na noite anterior e quebrou todos os móveis da casa.
"Olhando pelo meu lado, acho um absurdo a greve. Mas olhando pelo lado deles, e sendo um pouco moderada, não fico brava, não, porque pegaram meu telefone e prometeram ligar quando a greve acabar para eu vir fazer o boletim", afirmou.
Funcionários da delegacia dizem que só estão registrando casos relativos à Lei Maria da Penha, como os de ameaça real, espancamento ou flagrantes. A delegada Marcia Queiroz Cardoso não quis dar declarações.
Na capital paulista, Gislene Aparecida de Oliveira, 34, não conseguiu registrar ocorrência no 47º DP (Capão Redondo, zona sul). Ela teme que seu filho, o estudante Danilo de Oliveira, 15, seja preso por estar sem carteira de identidade. Ela conta que o rapaz foi assaltado anteontem e teve os documentos levados.
"É muito mais fácil a polícia parar um homem do que uma mulher. Ainda mais um negro, pobre e na periferia", disse ela.
De acordo com Antônio Oliveira, 52, escrivão do 47º DP, somente estão sendo registradas ocorrências graves.
Um levantamento dos grevistas apontou que no segundo dia de paralisação -anteontem- foram registrados aproximadamente 2.300 boletins de ocorrência no Estado. Já no dia 11, antes da última paralisação, o número registrado foi de cerca de 4.630.
A greve também tem provocado atraso no esclarecimento de crimes. O prejuízo começa no início do processo- em decorrência da paralisação das investigações policiais- e chega até à esfera judicial.
A situação foi constatada nas cidades de Ribeirão, Franca, São Carlos, Araraquara e Sertãozinho. Em Ribeirão, ao menos quatro audiências foram canceladas, três por falta do réu, que não teve escolta da polícia para ir ao fórum, e uma por ausência do investigador, que seria testemunha.


Colaborou o "Agora"


Texto Anterior: SP faz plano de emergência antigreve na Polícia Civil
Próximo Texto: Greve não pode constranger o cidadão, diz professor de direito constitucional
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.