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São Paulo, domingo, 19 de outubro de 2003

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Bahia cadastra peças de seu acervo

Edson Ruiz/Folha Imagem
Imagens do acervo da igreja da Ajuda protegidas por grades; o local, no centro de Salvador, já foi invadido 40 vezes nos últimos dez anos


LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

Preocupado com o constante desaparecimento de imagens e objetos religiosos na Bahia, o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) iniciou há duas semanas um cadastramento simultâneo do acervo de todos os 200 monumentos tombados no Estado.
"Resolvemos tomar uma medida radical. Nós descobrimos que demorar para fazer um inventário pode trazer sérios prejuízos para a história brasileira", afirmou Cosme Santiago, 45, restaurador do Iphan.
Localizada no centro histórico de Salvador, a igreja da Venerável Irmandade de Nosso Senhor do Bom Jesus dos Passos, mais conhecida como igreja da Ajuda, é a preferida pelas quadrilhas de ladrões de peças sacras.
Nos últimos dez anos, a igreja foi arrombada 40 vezes, disse o administrador do templo, Roberto Adolfo Menezes. Somente na madrugada do dia 8 de julho de 2001, o acervo da igreja -uma das mais visitadas pelos turistas- ficou desfalcado de oito objetos dos séculos 18, 19 e 20.
"Os ladrões levaram uma imagem de Nossa Senhora do Carmo, um cálice litúrgico e um resplendor, entre outros objetos importante", disse Santiago.
Além do roubo, os técnicos do Iphan tiveram outra surpresa: quando fizeram a confrontação com o últimos inventários realizados na igreja (1937/85), oito peças tinham desaparecido. "O pior é que ninguém sabia de nada", acrescentou Santiago.
Depois dos arrombamentos, a segurança foi reforçada na igreja que deu origem à Arquidiocese de Salvador. No mesmo local do atual templo, a primeira igreja da Ajuda foi construída em 1549. Em 1912, para dar espaço à expansão de Salvador, técnicos da prefeitura demoliram a igreja. Finalmente, em 1929, foi erguida a atual.
Embora em menor número, os técnicos do Iphan também registraram o desaparecimento de peças raras no interior. Em Saubara (a 91 km de Salvador), 11 objetos da paróquia estavam na casa de um padre. "Por meio da própria comunidade, nós conseguimos fazer com que o padre deixasse os objetos na própria igreja", disse o restaurador do Iphan.
Em Porto Seguro, Trancoso e Santa Cruz Cabrália (sul da Bahia), pelo menos 30 objetos raros que estavam guardados em igrejas estão desaparecidos.
Na semana passada, o Iphan recebeu um CD com imagens de 161 peças apreendidas pela Polícia Federal desde o início do ano. "Agora, estamos fazendo a confrontação para saber se há alguma peça da Bahia no meio do lote", disse Cosme Santiago.
De acordo com a Polícia Federal, as peças foram apreendidas em antiquários e ateliês de restauração localizados em Minas Gerais e São Paulo.


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