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Reforma da polícia é necessária, diz professor
Para Sérgio Kodato, do Observatório da Violência da USP, momento é propício para reestruturar a inteligência das polícias
Kodato diz que, a exemplo
de Nova York, São Paulo
deve adotar uma "limpeza"
brusca nas polícias para
intimidar a corrupção
ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Estudioso e professor da
complexa mecânica da violência urbana, Sérgio Kodato vê
um lado positivo na batalha
campal travada entre policiais
civis e militares em São Paulo:
uma excelente oportunidade
para se propor uma reforma de
"todo o sistema de segurança."
Para ele, o confronto assistido na última quinta-feira apenas desnuda ao público a relação desarmoniosa entre os
membros das duas polícias, que
é repetida todos os dias nos corredores das delegacias.
"Não é nem animosidade, já é
uma guerra mesmo. Aquilo foi
o que a gente chama de objetivação desse antagonismo, dessa oposição, dessa cisão, e você
teve a materialização disso daí
num fato social. Aquilo traduz,
é a representação desse conflito do dia-a-dia. Colocaram as
cartas na mesa."
A falta de harmonia, para ele,
só prejudica a qualidade da segurança oferecida à população,
porque a briga vai desde a vaidosa disputa para ver quem
consegue aparecer na mídia,
realizando uma grande prisão,
até a sonegação mútua de informação de inteligência policial.
Nesse contexto, a briga em
púbico só agrava o quadro -do
prejuízo da qualidade da segurança- porque faz desabar a
sensação de segurança das pessoas. "Quando as polícias estão
brigando, e isso é espetacularizado na mídia, a tendência é
criar um certo pânico na população. É como se nossos pais estivessem brigando violentamente", disse ele, professor de
psicologia da violência da USP
e coordenador do Observatório
da Violência, ambos de Ribeirão Preto (SP).
O professor avalia ser necessário um estudo de como uma
mudança estrutural deve ser
operada no sistema de segurança. Ele diz não ter dúvidas, porém, da necessidade de mudar a
forma de a polícia trabalhar.
"Essa reforma deveria virar de
ponta cabeça a inteligência das
duas polícias, que [hoje] é relegada a um segundo plano. É
uma polícia burra. Por isso mata tanta gente, por isso foge todo mundo", afirmou.
Outro ponto que precisa ser
melhorado, para ele, é a fiscalização das corregedorias. A corrupção na polícia, explica, só
faz agravar a violência das ruas
porque o policial deixa de prender bandidos para extorqui-los.
Para Kodato, São Paulo poderia utilizar o exemplo implantado em Nova York, na década de 1990, quando o então
prefeito Rudolph Giuliani desencadeou uma implacável
limpeza na polícia, que baixou
os índices de criminalidade.
Em São Paulo, para o professor, essa limpeza deveria começa pela Polícia Civil. "Eles falam
que são casos isolados. Mas, toda semana aparece um policial
envolvido com corrupção. Isso
indica que não são só casos isolados. Os caras de Nova York fizeram uma limpeza na polícia
porque descobriram isso".
A Polícia Militar, para ele,
tem problemas -como a forma
injusta de os superiores tratarem os subordinados-, mas a
corrupção é muito menor. "Você não tem um coronel da PM
que enriqueceu violentamente,
com um patrimônio monstruoso, como você tem na Polícia
Civil. Ainda mais agora, que um
delegado em início de carreira
ganha R$ 3.500", calcula Kodato.
O professor também aponta
outras diferenças entre as duas
polícias. Para ele, os PMs são
mais bem preparados para enfrentar a criminalidade e, até,
para atender a população com
cordialidade. Essa diferença,
segundo o professor, começa
pela aparência das unidades
policiais: as da Polícia Civil,
têm aspecto sombrio; as da PM,
parecem limpas e organizadas.
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