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URBANIDADE
Ilustração Vincenzo Scarpellini
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LARGO DO CAFÉ Quando seu pai foi morto num assalto, Eduardo Evans foi baleado. Seguiram anos de crise. Sua banda chama-se Contato Imediato, toca nas ruas do centro e guarda metade das entradas para gravar o primeiro disco. A camiseta do baixista mostra estampada uma foto da Legião Urbana. Nos intervalos, Eduardo se afasta, acende um cigarro, distraído, olha o movimento. (VINCENZO SCARPELLINI)
Armadilhas da sedução
GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA
Desde o final da década
de 90, o bairro do Bexiga
virou palco dos musicais no Brasil. Com eles, vieram, de várias
partes do país, anônimos dançarinos, seduzidos pelos holofotes.
A maioria fracassa silenciosamente sem deixar rastros. Outros sobrevivem -um deles é
Helzer de Abreu, 36 anos, cuja
vida serviria para um desses roteiros, tão comuns em musicais
da Broadway, sobre a solitária
luta de seres anônimos, solitários e ousados em busca do
reconhecimento.
Aos 20 anos, com o projeto de
participar de musicais, Helzer
largou o trabalho de modelo na
cidade de Belo Horizonte, deixou o glamour dos desfiles e se
dispôs a ser faxineiro em restaurantes de Nova York.
Passou quatro anos pelos restaurantes, em meio a aulas de
dança e frustrantes testes, que
envolviam centenas de candidatos de várias partes dos Estados
Unidos e do mundo. Foi chamado, enfim, para integrar o elenco
de "O Violinista no Telhado".
Daí vieram mais propostas para
atuar em musicais como "Evita"
e "Chorus Line". Em 1993, decidiu voltar: "A solidão tornou-se
insuportável", diz.
Já não se via mais em Belo Horizonte, cidade pequena demais
para quem viveu em Manhattan, e decidiu aventurar-se em
São Paulo, que não conhecia.
Entre bicos (dava aulas de inglês) e encenações, aguardou
mais quatro anos até voltar a
um musical: resolveram fazer
em São Paulo uma temporada
de "Rent". "Era minha chance."
Graças a investimentos internacionais, a cidade se tornaria
um bem-sucedido pólo de produção de musicais da Broadway
no Brasil. Vieram sucessos como
"Os Miseráveis", "A Bela e a Fera" e, agora, aguarda-se "Chicago", que já atrai para seus testes
romarias de dançarinos.
O modelo de província que, sozinho e sem dinheiro, virou faxineiro para se tornar dançarino
em Nova York e, de novo sozinho e sem dinheiro, desembarcou em São Paulo, está fazendo
mais uma aposta -e, mais uma
vez, sem dinheiro e sozinho. Escreveu seu próprio musical e
quer dirigi-lo. Chama-se "Ventura" e trata das armadilhas da
sedução. Ainda não sabe como
vai conseguir patrocínio. Normal: não sabia também como
sobreviveria da dança em Nova
York ou São Paulo.
Talvez no prazer desse permanente suspense é que estejam
mesmo as armadilhas (e a graça) da sedução.
E-mail - gdimen@uol.com.br
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