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Requisitos para ser um executivo top vão além do currículo
As senhas de acesso ao pódio do milionário mundo corporativo envolvem fazer chapinha, usar salto alto e enrolar a língua
"Hoje, para ser um executivo "high profile" não basta ser, é preciso parecer", afirma o empresário Roberto Justus, 51
MARIANNE PIEMONTE
DA REVISTA DA FOLHA
Sejamos justos: é preciso
mais que topete para chegar a
CEO. No disputadíssimo mundo do colarinho branco, há que
fazer chapinha, enrolar a língua
e engolir "frogs" para almejar o
"benchmark" que dá direito a
salários de sonho.
No Brasil, os tops são 121 profissionais, gente de alto calibre,
que recebe salários acima de R$
135 mil por mês. Na faixa dos
R$ 56 mil, são 2.170 diretores e
vice-presidentes, segundo pesquisa da Mercer, principal consultoria no mercado empresarial para América Latina.
"Hoje, para ser um executivo
"high profile" não basta ser, é
preciso parecer", diz o empresário Roberto Justus, 51, que
assumiu sua porção "executive
search" ao comandar um reality show de aspirantes a executivos, "O Aprendiz".
E que o leitor perdoe o idioma híbrido: o uso exaustivo de
termos do inglês é um dos cacoetes fundamentais para entender o universo corporativo.
CEO e presidente do grupo
de comunicação Newcomm,
Justus tem sua receita para
uma empresa atraente aos
olhos dos clientes: contratar
"cool people", executivos que
caibam na sigla "P.A.S.". Significa "people, attitude and style"
ou, em bom português, gente
com atitude e estilo.
Justus explica a importância
de "parecer": "Deus está nos
detalhes". Por "detalhes", entenda o verdadeiro manual das
etiquetas: terno Zegna, tailleur
Chanel, pastinha Louis Vuitton, caneta GrafVon Faber e relógio Audemars Piguets.
Mesmo porque o julgamento
dos pares costuma ser implacável. "Um diretor da empresa
americana onde trabalhei foi
apresentar um projeto para o
vice-presidente de telecomunicações. No final, o cliente perguntou onde o diretor havia
conseguido aquele relógio de
"segunda linha" -era um colecionador e percebeu que o Rolex era falso. Para nós, perdeu
totalmente a credibilidade", diz
Elaine Vilela, 35, diretora de
marketing e comunicação de
uma multinacional israelense.
Quem tem alma engravatada
não tem esses problemas. O engenheiro Thiago Santana, 28,
candidato ao MBA executivo
no Ibmec, aboliu os tênis e não
abre mão do terno nem no "casual day", dia em que as empresas permitem o uso de trajes
mais despojados.
A audácia dos ""headhunters"
deixa marcas na vida de alguns
executivos. Ana Paula Serodio,
35, ficou perplexa quando, ao
saber que ela tinhas duas filhas,
o profissional americano que a
entrevistava perguntou se ela
não achava irresponsabilidade
pôr duas crianças no mundo
-afinal, ela teria que se dividir
entre a família e a corporação.
Ana não foi contratada, apesar da imersão em Havard, do
MBA em marketing na USP e o
de finanças obtido no Ibmec.
"Too much"
Com um MBA em finança
corporativa e estratégia na Universidade Wharton, na Pensilvânia, e após ter trabalhado em
bancos de investimentos, em
Paris, Suíça e Emirados Árabes,
o francês da Martinica Jea-Marc Laouchez, 43, desistiu.
"Eu fazia parte desse circo
quando, por trás da fantasia (o
terno, o carro, os jantares), havia o objetivo de empreender.
Quando passei a me questionar
sobre aquelas regras e percebi
que a minha missão de vida não
estava alinhada com os interesses da empresa, resolvi seguir
meu caminho", conta.
Casado com uma colombiana, pai de uma filha americana
e outra brasileira, ele abriu uma
loja na Vila Madalena em que
mistura moda e beleza. A Maison Criola quer trazer jovens
talentosos de comunidades carentes para assinar coleções.
Mas não esqueceu os ensinamentos de Adam Smith:
"Aprendi no mundo corporativo, não adianta fazer caridade,
ser bonzinho, é preciso ensiná-los o jogo do capital."
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