São Paulo, domingo, 19 de novembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CRISE NO AR

Aeronáutica vai investigar conduta de controladores

Suspeita de crime militar motiva abertura de inquérito sobre ações de profissionais envolvidos em atrasos de vôos

Segundo o Comando da Aeronáutica, aproveitar momento de evidência para reivindicar aumento salarial contraria disciplina militar

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apontando indícios de crimes militares cometidos por controladores de tráfego aéreo, a Aeronáutica abriu um IPM (Inquérito Policial Militar) para apurar a conduta dos personagens envolvidos nos longos atrasos nos aeroportos que se seguiram ao acidente do vôo 1907, que matou 154 pessoas no dia 29 de setembro.
O inquérito nasceu de um procedimento administrativo instaurado quando começaram os atrasos, em meados de outubro. Tornou-se um IPM, segundo alguns militares ouvidos pela Folha, pela existência de "indícios de crime". De acordo com o Centro de Comunicação Social da Aeronáutica, o procedimento foi aberto pelo Decea (Departamento de Controle do Espaço Aéreo), sob delegação do Comando da Aeronáutica.
A investigação promete causar ainda mais cizânia entre os controladores militares e o Comando da Aeronáutica. Ambos lançam críticas uns aos outros nos bastidores e transferem a culpa sobre o caos nos principais aeroportos.
"Essas coisas têm que ser vistas com muito cuidado, para não acirrar os ânimos. Esse confronto não é bom", disse Jorge Oliveira, da associação de controladores do Rio.
Sem conhecimento específico do IPM, o procurador do Ministério Público Militar Giovanni Rattacaso considerou "oportuna" a apuração. "Vi panfletos criminosos, o camarada esculhambando o comandante da Aeronáutica. Diziam: "companheiros, vamos pressionar, só quem anda de avião é rico, artista e político", comenta.

Ministro diplomático
A postura da Aeronáutica, de não deixar em brancas nuvens a indisciplina, também se choca com a abordagem diplomática e de negociação imposta pelo ministro da Defesa, Waldir Pires, ao episódio. Ontem, a assessoria do ministério informou não ter conhecimento da instalação do IPM.
O Comando da Aeronáutica avalia que os controladores aproveitaram um momento em que estavam em evidência para reivindicar melhores salários e condições de trabalho, fugindo à disciplina militar.
Para os controladores, o serviço deveria sair da alçada militar e tornar-se civil, à semelhança de outros países. Nesse contexto, a Aeronáutica não teria feito o planejamento adequado nos últimos 20 anos.


Texto Anterior: Boeing voava fora da altitude usual
Próximo Texto: Requisitos para ser um executivo top vão além do currículo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.