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TJ rejeita depoimento em DVD e libera presa
Condenada por tráfico de drogas ficará solta por 30 dias, prazo dado por desembargadores para transcrição das falas
"Mídia eletrônica" é um instrumento legal, mas ainda sofre resistência entre magistrados, principalmente os de segunda instância
ROGÉRIO PAGNAN
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
O Tribunal de Justiça de São
Paulo determinou a libertação
de uma mulher condenada a
um ano e oito meses por tráfico
de drogas porque os depoimentos em primeira instância foram gravados em "mídia eletrônica" (em DVD) -instrumento
legal utilizado por magistrados
para agilizar os processos.
A determinação ocorreu na
última segunda, quando os desembargadores da Primeira
Câmara Criminal analisavam a
apelação feita pelos advogados
de Najara Thuani Santos, 19,
presa em fevereiro deste ano
com 53 "pinos" de cocaína. A
condenação em primeira instância ocorreu em julho.
Em vez de julgar o pedido, os
magistrados determinaram a
transcrição do material em 30
dias e a soltura de Najara durante o procedimento.
Segundo o TJ, a soltura teve
manifestação favorável da Promotoria, que também quer a
transcrição, e mantê-la presa
durante essa transcrição poderia prejudicá-la porque pode
ultrapassar o tempo de cárcere.
Ela tem o "direito, em tese, à
progressão de regime após
cumprir 2/5 da pena".
Após a transcrição do material, a apelação voltará a ser
analisada. Najara poderá voltar
a prisão e cumprir a parte restante da pena, caso os magistrados entenderam necessário.
As gravações de interrogatórios de réus e de depoimentos
de testemunhas são permitidas
pelo Código de Processo Penal.
Elas se tornaram mais frequentes de um ano para cá. O objetivo é agilizar as audiências porque os juízes não precisam ditar perguntas e repostas ao escrevente ou aguardar a transcrição dos estenotipistas.
"Para a busca da verdade, nada melhor do que a gravação. É
a prova ideal, a mais confiável.
E essa também é uma das principais formas de agilizar a investigação", afirma Roberto Livianu, promotor, doutor em direito penal pela USP e diretor
do Movimento do Ministério
Público Democrático.
Ele avalia que a resistência de
alguns juízes é resultado de
"uma questão cultural, uma visão ultrapassada do processo".
Esse sistema sofre resistência principalmente de magistrados da segunda instância.
Segundo a Apagamis (Associação Paulista dos Magistrados Paulistas), o problema
ocorre porque não há hoje em
São Paulo um centro de degravação da mídia eletrônica.
Com isso, os desembargadores têm basicamente três opções: decidem pelo resumo feito pelo juiz de primeira instância, assistem a todos os DVDs
ou determinam a transcrição,
como no caso de Najara. "Numa sessão, há julgamento de
cem, 200 processos. Se for assistir a três ou quatro horas de
gravação de cada processo, você vai levar mais de um mês",
disse Henrique Nelson Calandra, presidente da Apamagis.
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