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Até especialista indicado pelo ONS
vê falha em apagão
Privatização recente dos sistemas de geração e transmissão de energia também é alvo de críticas
SAMANTHA LIMA
DA SUCURSAL DO RIO
Um especialista apontado
pelo ONS (Operador Nacional
do Sistema Elétrico) como uma
das maiores autoridades em
sistemas elétricos contestou as
explicações do órgão para o blecaute da semana passada.
Doutor em energia elétrica e
coordenador do curso de especialização em sistemas elétricos da Universidade Federal de
Itajubá (MG), José Wanderley
Marangon vê possibilidade de
falha de manutenção ou de gestão para que tenham ocorrido
três curtos-circuitos quase simultâneos em três linhas.
Na terça-feira, o ONS afirmou que, além de raios, contribuiu o excesso de chuva, que
prejudicou o funcionamento de
equipamentos que impediriam
que o curto na primeira linha
tivesse levado ao desligamento
das outras duas. "O sistema deveria ter isolado o efeito do primeiro curto. Se isso não aconteceu, a minha opinião é que
houve algum problema nos
equipamentos, talvez relacionado a manutenção, ou falha no
ajuste do sistema de proteção."
Como falha de ajuste, ele cita
a possibilidade de o ONS não
ter ajustado os limites de cargas. "A ocorrência de três curtos circuitos simultâneos é tão
improvável que simplesmente
ninguém estuda isso. Estudamos na academia até duas linhas em curto. Quando chegamos à terceira, dizemos que é o
pessoal de ajuste do sistema de
proteção quem deve cuidar",
disse Marangon, um dos especialistas que analisarão o relatório com as causas do blecaute. Ele já analisou relatórios dos
apagões de 1999 e 2002.
Outro apontado como notável na área pelo ONS e que também receberá o documento é o
doutor em engenharia elétrica
Djalma Falcão. Professor da
Coppe/UFRJ, considera as explicações "razoáveis". "É um
evento de baixa possibilidade,
mas não impossível. Se houve
chuva forte, reduziu a resistência do sistema. Se houve ventos
fortes, pode fazer os condutores terem se movimentado. A
combinação de efeitos pode levar a uma situação como esta."
Críticas ao modelo
O economista do BNDES
Gustavo Galvão, doutor pela
UFRJ, atribui o blecaute ao fato
de a geração e transmissão de
energia terem passado às mãos
da iniciativa privada, nos anos
90. "O modelo garante em contrato alta margem de lucro às
empresas, levando a tarifa de
luz brasileira a um dos mais
elevados níveis do mundo", diz.
Para tentar impedir um impacto ainda maior nas tarifas, o
modelo brasileiro tenta garantir, a todo custo, que a geração
de energia ocorra onde o custo
é menor -geralmente, nas hidrelétricas. Isso explica, segundo ele, por que Itaipu estava gerando 40% da energia consumida no país no momento do
apagão -e porque os curtos circuitos apagaram uma extensão
tão grande. "Foi uma opção de
operar com o sistema no limite,
reduzindo a segurança", diz.
O economista Carlos Lessa,
ex-presidente do BNDES, afirmou que o blecaute é fruto da
opção dos governos de deixar a
infraestrutura em segundo plano e delegá-los à iniciativa privada. "O setor público não investe em grandes projetos de
transmissão. Esse problema só
não aconteceu antes porque a
crise reduziu o consumo."
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