São Paulo, quinta-feira, 19 de novembro de 2009

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Até especialista indicado pelo ONS vê falha em apagão

Privatização recente dos sistemas de geração e transmissão de energia também é alvo de críticas

SAMANTHA LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

Um especialista apontado pelo ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) como uma das maiores autoridades em sistemas elétricos contestou as explicações do órgão para o blecaute da semana passada.
Doutor em energia elétrica e coordenador do curso de especialização em sistemas elétricos da Universidade Federal de Itajubá (MG), José Wanderley Marangon vê possibilidade de falha de manutenção ou de gestão para que tenham ocorrido três curtos-circuitos quase simultâneos em três linhas.
Na terça-feira, o ONS afirmou que, além de raios, contribuiu o excesso de chuva, que prejudicou o funcionamento de equipamentos que impediriam que o curto na primeira linha tivesse levado ao desligamento das outras duas. "O sistema deveria ter isolado o efeito do primeiro curto. Se isso não aconteceu, a minha opinião é que houve algum problema nos equipamentos, talvez relacionado a manutenção, ou falha no ajuste do sistema de proteção."
Como falha de ajuste, ele cita a possibilidade de o ONS não ter ajustado os limites de cargas. "A ocorrência de três curtos circuitos simultâneos é tão improvável que simplesmente ninguém estuda isso. Estudamos na academia até duas linhas em curto. Quando chegamos à terceira, dizemos que é o pessoal de ajuste do sistema de proteção quem deve cuidar", disse Marangon, um dos especialistas que analisarão o relatório com as causas do blecaute. Ele já analisou relatórios dos apagões de 1999 e 2002.
Outro apontado como notável na área pelo ONS e que também receberá o documento é o doutor em engenharia elétrica Djalma Falcão. Professor da Coppe/UFRJ, considera as explicações "razoáveis". "É um evento de baixa possibilidade, mas não impossível. Se houve chuva forte, reduziu a resistência do sistema. Se houve ventos fortes, pode fazer os condutores terem se movimentado. A combinação de efeitos pode levar a uma situação como esta."

Críticas ao modelo
O economista do BNDES Gustavo Galvão, doutor pela UFRJ, atribui o blecaute ao fato de a geração e transmissão de energia terem passado às mãos da iniciativa privada, nos anos 90. "O modelo garante em contrato alta margem de lucro às empresas, levando a tarifa de luz brasileira a um dos mais elevados níveis do mundo", diz.
Para tentar impedir um impacto ainda maior nas tarifas, o modelo brasileiro tenta garantir, a todo custo, que a geração de energia ocorra onde o custo é menor -geralmente, nas hidrelétricas. Isso explica, segundo ele, por que Itaipu estava gerando 40% da energia consumida no país no momento do apagão -e porque os curtos circuitos apagaram uma extensão tão grande. "Foi uma opção de operar com o sistema no limite, reduzindo a segurança", diz.
O economista Carlos Lessa, ex-presidente do BNDES, afirmou que o blecaute é fruto da opção dos governos de deixar a infraestrutura em segundo plano e delegá-los à iniciativa privada. "O setor público não investe em grandes projetos de transmissão. Esse problema só não aconteceu antes porque a crise reduziu o consumo."


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