São Paulo, quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

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GILBERTO DIMENSTEIN

Muito além do jardim

Dessa exótica combinação entre oratórios e pranchetas, está nascendo a reforma do bairro da Liberdade

QUANDO ESTUDAVA ARQUITETURA no Mackenzie, em 1978, Mário Lupion resolveu mudar radicalmente de vida.
Trancou a matrícula, parou de surfar e foi morar num templo hinduísta, onde se transformou em monge. Em meio às meditações, ele sentiu que seu destino estava mesmo ligado à estética, voltou para a faculdade e fez mestrado em arquitetura sagrada oriental. "Aprendi como formas e cores alteram o estado psicológico dos indivíduos."
Dessa exótica combinação entre oratórios e pranchetas, está nascendo a reforma do bairro da Liberdade, a ser iniciada no próximo ano, quando se comemoram os cem anos da presença dos japoneses no Brasil.
"O belo gera respeito e apego ao lugar em que moramos", afirma Lupion. Além de fazer projetos, ele ainda dá aulas de arquitetura em diversas faculdades, entre as quais o Mackenzie.

 

A idéia de reforma do bairro surgiu numa manhã em que, ao lado de seu filho, Lupion cuidava de um jardim numa praça pública da Liberdade -ele desenvolveu o hábito de cultivar bonsais. Um grupo de turistas passou pelo local e reclamou da sujeira e da feiúra. "Senti-me pessoalmente atingido." Resolveu, então, ir além do jardim, disposto a juntar os seus conhecimentos de monge com os ensinamentos da arquitetura.
 

Para tocar o projeto, ele pediu a ajuda voluntária de seus colegas de escritório, onde existe o hábito da meditação. "Trabalho tem de ser fonte de prazer." Conseguiu o apoio da comunidade japonesa para patrocínios e a aprovação da prefeitura. Com duração prevista para cinco anos, o projeto é dividido em etapas.
Na primeira fase, praças, viadutos e ruas vão ter fachadas típicas do século 17. Um de seus planos é erguer um gigantesco Buda, cercado de fontes de água e flores, que esteja como referência para o bairro como a estátua do Cristo Redentor está para o Rio de Janeiro.
Logo em seguida, pretende usar 50 imóveis em negócios ligados ao que existe de mais contemporâneo no Japão em arte, moda e tecnologia, sem esquecer o toque da tradição -as ruas desses imóveis recebem, de acordo com o projeto, jardins com bambus imperiais.
 

Ao deixar a vida de monge para as pranchetas, Lupion estava convencido de que a estética tem o dom de produzir virtudes. Imagina que o bairro da Liberdade revigorado conseguirá inspirar todo o entorno, boa parte do qual deteriorado, como a região do Glicério. "Não queremos fazer uma ilha, mas uma onda."

gdimen@uol.com.br

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