São Paulo, quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Corregedoria da Polícia Civil assume a investigação sobre a morte de Ryan

KLEBER TOMAZ
RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL

De forma incomum, a Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo assumiu ontem a investigação sobre as causas da morte de Ryan Gracie, 33. O órgão, que tem como atribuição apurar a conduta irregular de policiais, porém, nega haver responsabilidade de seus agentes.
A Corregedoria informou que investigará suposto erro médico ou morte acidental. Quer saber se o coquetel de seis remédios dado pelo psiquiatra de Ryan, Sabino Ferreira de Farias Neto, após a prisão, matou o lutador ou se ele morreu em decorrência de uma overdose de cocaína, maconha e remédio contra ansiedade, que teria ingerido antes de ser preso.
A Corregedoria assume o caso num momento que ele era conduzido pelo 91º DP (Vila Leopoldina), onde o lutador morreu. Antes, a participação do órgão estava sendo a de apurar se policiais receberam dinheiro do psiquiatra para que Ryan tivesse privilégios na cela.
Questionado, o delegado José Antônio Ayres de Araújo, do órgão, justificou a decisão de assumir o inquérito alegando que, além de ser um caso de repercussão, já havia colhido bastante depoimentos.
O Ministério Público informou que a Corregedoria não é órgão competente para apurar as causas da morte. O promotor Paulo D'Amico Junior pretende enviar na Justiça um pedido para que a apuração seja feita pela Delegacia Seccional Oeste.
O corpo de Ryan foi achado por policiais na cela na manhã de sábado 17 horas após o lutador ter sido preso.
Segundo o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, coordenador da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), apenas a cocaína não seria suficiente para matá-lo. Os efeitos de uma overdose da droga duram cerca de 12 horas -Gracie foi detido no início da tarde de sexta-feira e encontrado morto às 8h do dia seguinte; o psiquiatra Farias Neto afirmou ter ficado com ele até as 6h.
O médico de Ryan disse ter-lhe dado seis remédios para acalmá-lo, pois, segundo ele, o lutador estava sob efeito de drogas. Sua conduta está sendo investigada pelo Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo).
Laranjeira disse que nem os remédios dados pelo psiquiatra poderiam, por si sós, provocar a morte. Ele, porém, chama a atenção para o fato de que era possível que o lutador, como muitos atletas, usasse anabolizantes. Com 1,75 m, pesava 110 kg. "O coração de uma pessoa que toma anabólico esteróide tem propensão à arritmia [alterações nos batimentos cardíacos que podem levar à morte]."
À polícia, Farias Neto disse que Ryan, durante a madrugada, estava com a pressão alta (17 x 10) e tinha tarquicardia, mas que "esse quadro clínico não indicaria internação". Médicos ouvidos pela Folha concordam que esses dois sintomas não seriam suficientes para matar o lutador, mas que o ideal seria levá-lo para um hospital.


Texto Anterior: Psiquiatra diz que devolverá dinheiro à família Gracie
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.