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ANÁLISE
O que vou ser quando acabar de crescer
ANNA VERONICA MAUTNER
ESPECIAL PARA A FOLHA
Já não é mais criança. Ainda
não é adulto. Está em transformação. Esse é o jovem "homo
sapiens", que já descobriu o
mundo, mas ainda não sabe
qual vai ser o seu lugar.
O corpo começa a se transformar inesperadamente. A
mente começa a dar atenção a
muita coisa que antes não parecia importante. Os colegas estão mudando também. O jovem
procura, em comparação ininterrupta, onde e como ele está
agora. Está mais? Menos?
Todos, sempre, queremos
um bom lugar no mundo. Se há
algo terrível de se sentir, é uma
ameaça de exclusão. Temos
que ser bonitos, espertos, ágeis,
bem falantes, em resumo
-atraentes. Faz parte do instinto de sobrevivência.
Uma manchinha, um dedo
torto, um retardo no surgimento de traços de puberdade podem se tornar imensas ameaças. Não queremos ser gordos
nem magros demais, nem muito baixinhos, mas também não
muito altos. Procuramos o nosso lugar na tribo a qual pertencemos. Isso é essencial para o
bem-estar e a autoestima. Queremos ter roupa igual à qual
queremos acrescentar alguma
pequena originalidade, mas
que de forma alguma atraia
desdém. Ridículos, nunca.
Imitar o comportamento
adulto faz parte do desenvolvimento. Assim queremos ser capazes de beber sem ficar bêbados e sem dar mostras de ter
medo de se embebedar. Queremos aparentar naturalidade
nas ousadias. Há pouco tempo,
o fumar também fazia parte
dessa encenação de vida adulta.
As pesquisas indicam que a
autoimagem é questão importante. Não é pequena a porcentagem dos adolescentes que se
sentem inadequados para atender suas próprias exigências. A
bebida tem dupla entrada, serve para imitar o adulto e também para diminuir a ansiedade
provocada por esta eterna comparação que vivencia. Não espanta o fato que ter consciência
de si mesmo gere umas tantas
dificuldades. O fato de nós nos
percebemos não só alimenta a
consciência como também gera
o desejo de controlar as inevitáveis mudanças. Do jovem sairá
o adulto e, com maior ou menor
clareza, sabemos como queremos "ser" quando crescermos.
O cuidado com a autoimagem vincula-se ao medo de falhar na realização dos nossos
próprios sonhos de como queremos ser no final desse processo. Afinal, acertar é me tornar parecido com o que "queria
ser" quando crescer.
ANNA VERONICA MAUTNER é colunista da
Folha e psicanalista da Sociedade Brasileira de
Psicanálise de São Paulo
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