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26ª SÃO PAULO FASHION WEEK
Ronaldo Fraga rompe barreira do tempo
Idosos e crianças desfilam coleção do estilista mineiro, inspirado no traço do giz
ALCINO LEITE NETO
EDITOR DE MODA
VIVIAN WHITEMAN
DA REPORTAGEM LOCAL
O estilista Ronaldo Fraga nocauteou o público da São Paulo
Fashion Week, ontem, ao dispensar modelos jovens e levar
para a passarela 27 idosos de
mais 65 anos. Eles desfilaram
junto com dez crianças num cenário com bonecos brancos.
O desfile foi aplaudido do início ao fim, ininterruptamente.
Várias pessoas na plateia não
contiveram as lágrimas.
A coleção foi inspirada no espetáculo "Giz", de Álvaro Apocalypse, dramaturgo e criador
do teatro de bonecos Giramundo. "Eu não poderia utilizar
modelos comuns para falar do
início e do fim do traço de um
giz", disse o estilista. O risco de
giz, para ele, é a imagem da condição efêmera da vida.
A ideia do desfile não deixou
de ser arriscada e esteve a um
triz do sentimentalismo. Mas
Fraga conseguiu contorná-lo
graças à espontaneidade da encenação e ao seu talento poético.
Além disso, a coleção representou um momento natural do
trabalho que ele vem desenvolvendo em torno da moda, da memória e das narrativas -a roupa
como um marcador temporal
capaz de vestir lembranças. "Sigo uma tendência muito maior,
que é a de humanizar os processos da moda", disse.
Interessante notar como Ronaldo une os extremos do tempo
usando recursos da moda. As
mesmas modelagens (amplas e
confortáveis) e as mesmas estampas (rabiscos, relógios, lousas escolares) foram bases tanto
para a roupa das crianças quanto
para a dos velhinhos.
Cai aí mais um mito da moda,
que em geral exclui os maiores
de 60 anos e valoriza a estética
da juventude eterna, esse mito
escravizador de mulheres.
A presença de crianças no desfile também tem um sentido
pragmático. Fraga lançou há
pouco tempo, com sucesso, uma
linha infantil de roupas. "A linha
adulta virou um filho bastardo
na minha grife, o infantil tomou
conta da minha produção."
Alexandre Herchcovitch mostrou uma coleção de ousadias
sutis, inspirada no caos das megalópoles, no dadaísmo e no
punk alemão.
Ele criou looks híbridos, que
às vezes reuniam duas propostas
em uma única peça, como em
um vestido dividido "ao meio",
na vertical. O estilista trabalhou
a alfaiataria com rigor e também
resgatou elementos rockers e fetichistas de seu vocabulário fashion, apresentados em formas
sofisticadas e de ornamentação
impecável.
Ronaldo Fraga
Avaliação:
Alexandre Herchcovitch
Avaliação:
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