São Paulo, quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

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"Minha melhor amiga morreu no meu jardim", diz fotógrafo

Amigo foi o primeiro a reconhecer corpo da estilista Daniela Conolly, vítima das chuvas em Petrópolis

Mais de 500 pessoas acompanharam ontem a missa de sétimo dia dos integrantes da família Conolly, no Rio

Felipe Fittipaldi/Folhapress
Erick Conolly na missa do 7º dia, com sua mulher (à esq.), e a filha, ambas sobreviventes da tragédia

JANAINA LAGE
DO RIO

O fotógrafo Paulo Gouvêa Vieira, 43, foi o primeiro a reconhecer os corpos da estilista Daniela Conolly e do marido, Alexandre França.
Como em anos anteriores, ela havia alugado uma das casas da família Gouvêa Vieira, dona há 70 anos de uma grande propriedade com mais de dez imóveis no vale do Cuiabá, em Petrópolis.
Na casa, próxima ao rio Santo Antônio, que transbordou, morreram o casal e o filho, os pais de Daniela, uma babá e três sobrinhos -filhos do irmão dela, Erik, executivo da holding do Icatu.
A mistura de incredulidade e consternação diante da tragédia marcou a missa de sétimo dia dos Conolly, acompanhada ontem por mais de 500 pessoas.
Erik assistiu à missa com duas sobreviventes, a mulher, Isabela, em uma cadeira de rodas, e a filha mais velha. O corpo de um dos filhos do casal ainda não foi localizado. Ao final, Erik recebeu abraços e palavras de conforto por 40 minutos.

SOBREVIVENTES
Na manhã de quarta, Gouvêa Vieira foi ao local prestar socorro sem saber que Daniela estava lá. Um caseiro furava a parede para que a água vazasse e ele evitou entrar.
Saiu para receber um tio e um representante da família das vítimas, Erik, que chegavam de helicóptero.
Não reconheceu imediatamente o irmão de Daniela, que no caminho perguntou se havia algum sobrevivente.
Numa casa em ponto mais alto do terreno encontraram a mulher de Erik, aparentemente com uma costela quebrada, a filha mais velha, o sogro, deitado numa cadeira de praia, e uma babá. Foi então que reconheceu Erik.
"O encontro foi muito forte. Ele dizia: "Como vocês estão? Temos de tirar vocês daqui". E houve um abraço." Em seguida a família voltou para o Rio de helicóptero.
Mais perto do rio havia uma casa mais antiga, que absorveu o primeiro impacto da água e onde todos os ocupantes morreram. Os sobreviventes estavam em uma construção próxima.

NADA A FAZER

Ao se despedir dos sobreviventes, Gouvêa Vieira recebeu a notícia da morte de Daniela. "Caí no chão. Minha melhor amiga morreu no meu jardim." Os dois se conheciam desde os anos 1980, quando integravam a mesma turma em São Conrado, bairro da zona sul do Rio.
Sócios do Country Club, frequentavam os mesmos lugares. Ele costumava assistir aos desfiles da grife de Daniela no Fashion Rio. O pai dela era o empresário Armando Erik, ex-diretor da corretora Atlântica Boa Vista. A família tinha ido para a serra celebrar o aniversário do patriarca.
Gouvêa Vieira voltou então à casa onde estavam Daniela e o marido. Entrou por uma janela e subiu em um móvel -ainda havia meio metro de água. "Vi o corpo do França de lado. Vi a Dani. Não tive coragem de procurar o anel dela ou a tatuagem."
O fotógrafo voltou ao Rio de helicóptero com a namorada, grávida, e uma babá que sobreviveu. Na viagem, a babá lhe contou que a mulher de Erik tentou segurar um bebê, mas foi atingida por algo que julgava ser um tronco.
Apesar de tudo o que passou, Gouvêa Vieira afirma que foi melhor estar lá. "Se não estivesse, seria sempre atormentado pela ideia de que poderia ter feito algo. Não havia o que fazer."

Colaborou GABRIELA CANSECO


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