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São Paulo, quinta-feira, 20 de fevereiro de 2003

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Segundo o Incra, terreno oferecido por empresário como garantia de pagamento de dívida não existe

Prefeitura avalia em R$ 37 mi área fantasma

EDUARDO ATHAYDE
GIBA BERGAMIM JR.

DO "AGORA"

A Prefeitura de São Paulo avaliou em R$ 37 milhões um terreno que, de acordo com o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), não existe. O valor da área consta em documento assinado em 22 de janeiro de 2003 pelo presidente da SPTrans (empresa gerenciadora do transporte coletivo na capital), Gerson Luis Bittencourt.
O terreno, em São Bernardo do Campo, foi apresentado por Samy Gelman Jaroviski, dono da Transportes Urbanos Cidade Tiradentes, como garantia de que ele pagaria os R$ 11,5 milhões que a SPTrans injetou na empresa de outubro de 2002 a janeiro deste ano. O dinheiro teria sido usado para pagar salários atrasados.
Jaroviski é acusado de estelionato e foi preso anteontem (leia texto nesta pág.). Segundo o Incra, o único terreno em nome dele cadastrado pelo órgão tem 24 mil m2 e fica em Embu (Grande SP).
De acordo com documentos fornecidos à administração municipal por Jaroviski, o suposto terreno de São Bernardo, que estaria localizado no bairro rural Curucutu, foi comprado em junho de 2001 por R$ 2 milhões. Um ano e meio depois a SPTrans avaliou a mesma área fantasma em R$ 37 milhões.
Segundo o Creci-SP (Conselho Regional de Corretores de Imóveis) é impossível uma área rural em região de manancial valorizar 1.600% em 18 meses. A inflação do período, de acordo com o IGP-M, foi de 34%. O índice elevaria o preço para R$ 2,6 milhões.
A constatação do Creci-SP significa que, além de aceitar como garantia um terreno que não existe, a SPTrans o supervalorizou. A área, segundo o empresário, tinha 2,3 milhões de m2s e estava registrada no 2º Cartório de Imóveis de São Bernardo do Campo, com o número de matrícula 18.909.
Para custar R$ 37 milhões, o metro quadrado teria de valer R$ 16. Segundo integrantes do Creci-SP, o custo máximo em Curucutu, por ser área de manancial, é R$ 1,70. Ou seja, o terreno poderia chegar a valer R$ 3,9 milhões.
Em entrevista concedida anteontem no escritório de seu advogado, horas antes de ser preso, Jaroviski disse que pagou R$ 2 milhões pelo terreno a Amaro Guedes Barbosa. "A SPTrans aceitou em garantia e se deu por bem satisfeita. Se ela (SPTrans) achasse que o imóvel não era aceitável, que mandasse uma carta e pedisse substituição da garantia", disse na ocasião o advogado de Jaroviski, Daniel Simoncello.
A polícia acredita que o empresário tenha falsificado os documentos apresentados à SPTrans.


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