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A ZERO GRAU
Navegador e equipe passaram 37 dias em viagem a ilha e colheram imagens de animais que vão compor livro
Amyr Klink registra vida no sul do Atlântico
MARI TORTATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO FRANCISCO DO SUL (SC)
Foram quase 37 dias de atenção
constante aos ventos de até 160
km por hora e aos icebergs encontrados no caminho de volta. Um
deles superava 100 metros de altura. O navegador brasileiro Amyr
Klink, 49, voltou da ilha de Geórgia do Sul, uma possessão britânica próxima às ilhas Malvinas,
confiante de que o Paratii 2 trouxe
de lá um dos mais completos documentos de imagem daquela região subantártica.
Ele atracou seu barco no cais do
Museu Nacional do Mar, que pertence ao Ministério da Cultura,
em São Francisco do Sul -200
km ao norte de Florianópolis-,
no final da manhã da última sexta-feira, dizendo que freqüentava
a região havia dez anos, mas que
"nunca tinha voltado com um
material tão rico antes".
Um dos seis integrantes do barco, o fotógrafo de natureza Haroldo Palo Jr. planeja lançar um livro
científico e um vídeo de uma hora
com o material trazido da região.
Mas o projeto ainda não está acabado. O navegador Klink disse
que será apenas coadjuvante na
obra de Palo Jr., assinando os mapas ilustrativos do livro.
O Paratii 2, barco de Klink, partiu de São Francisco do Sul com o
navegador e mais cinco tripulantes no dia 12 de janeiro para uma
expedição destinada à produção
das imagens de Palo Jr. na Geórgia do Sul e a testar compressores
de refrigeração e equipamentos
de telecomunicações de ponta fabricados pelo grupo Embraco.
Voltou ao porto de partida 20
dias antes do previsto. Foi tempo
suficiente para o fotógrafo reunir
4.000 imagens de fotos, 12 horas
de vídeo e 15 horas de áudio de 35
espécies da fauna da região e retratar o ambiente visitado. "Ainda
deu para a gente ficar dez dias vagabundeando", brinca Klink.
Mas não foi um passeio. Deslocada da parte continental da Antártida, a ilha da Geórgia do Sul
pertence a uma região de ventos
violentos e de riscos à navegação
mais elevados do que a própria
Antártida, conta Klink.
"A ilha é exuberante, mas tem
mais gelo e mais fauna do que todas as outras áreas subantárticas,
e os icebergs ficam saracoteando
em volta dela." Na expedição, o
Paratii 2 percorreu cerca de 2.200
milhas marítimas, quase 4.000
km, calcula o navegador.
Palo Jr. foi à região capturar
imagens como as do albatroz errante, que pode medir até 3,20
metros da ponta de uma asa à outra. Ave que viaja para se alimentar no sul do Brasil, o albatroz é
abundante nas ilhas geladas que
precedem o Pólo Sul. O vento é
tão intenso por lá que a menor ave
catalogada, o pipit, de 15 cm de altura, não voa. "Se tentasse, seria
arrastada", conta ele, que já tem
28 livros sobre lugares do mundo.
Seu trabalho mais notório foi
chefiar uma equipe do oceanógrafo francês Jacques Cousteau
(1910-1987) em uma expedição à
Amazônia em 1982.
A temperatura ambiente é de
zero grau centígrado, na média,
mas o vento provoca uma sensação térmica de 20 a 30 graus negativos. Em dias sem vento, no entanto, os tripulantes dos barcos
aproveitam para banhos de sol
nus, conta Klink. Sem mergulhos,
pois há risco de hipotermia (temperatura corporal baixa) em
águas de dois graus negativos.
Klink conta que os banhos ao
sol na região exigem muito mais
cuidado hoje do que há 15 anos,
quando começou a velejar para o
continente antártico. Um exposição ao sol de uma hora sem protetor solar pode exigir atendimento
médico por insolação. Ele diz não
ter base científica para afirmar,
mas não tem dúvida de que é indício de aumento do buraco na camada de ozônio.
Sozinho
Ao desembarcar do Paratii 2 na
sexta-feira, o navegador Amyr
Klink disse que se rende à comunicação via satélite, mas não à parafernália da informática, nas viagens e que, apesar de conflitos relatados por tripulantes na última
viagem à região polar, ele não pretende voltar às aventuras solitárias. "Sozinho, não. Uma vez basta", foi a resposta dele à pergunta
sobre se voltaria a passar o inverno só em um barco na Antártida.
Em 1989, Klink percorreu 27 mil
milhas da Antártida ao Ártico, em
642 dias, a bordo da primeira versão do veleiro polar Paratii. A provável maior aventura de sua carreira ele narrou em dois livros.
Tinha que dedicar tempo integral à navegação e isso o impediu
de registrar em imagens o que via.
Klink nega que na viagem anterior, de volta ao mundo pelo continente antártico, tenha ocorrido
tensão a bordo, como relataram
dois tripulantes. "Aquilo [relatos
de conflito] foi um invenção."
Comunicação
Uma das queixas de dois daqueles tripulantes foi que não podiam
se comunicar com a família. No
Paratii 2 há mostras de que o problema foi resolvido: havia cinco
laptops espalhados sobre a mesa
da sala de trabalho do veleiro depois do desembarque.
Da nova viagem, diz acentuar "o
suporte intelectual" da equipe.
"Nunca tinha viajado antes com
alguém que conhece tão profundamente as espécies." A referência é dirigida a Haroldo Palo Jr.,
principalmente.
A expedição à Geórgia do Sul foi
mais para atender ao projeto do
fotógrafo do que a mais um teste
de superação do velejador. Toda a
equipe era experiente, exceto no
caso de Igor Alexandre Souza, 23,
um "nerd" da informática, na definição do comandante, mas que
de resto só recebe elogios.
"Fiquei surpreso. Ele vai ser um
baita navegador, se quiser", aposta Almyr Klink.
Os outros componentes da tripulação foram o também fotógrafo Julio Fiadi, velejador de seis
passagens à vela pelo cabo Horn e
sete viagens à Antártida, Fábio
Tossi, médico e amigo de Klink há
dez anos, que viaja com ele ao
continente antártico desde 1997, e
Flávio Fontes Pereira, 38, engenheiro mecânico que é responsável pela embarcação quando ela
fica aportada.
Mais informações da viagem
podem ser conferidas no site
www.amyrklink.com.br.
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