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Para a viúva de Antonio José Machado Dias, valores estão "invertidos"; primeira ameaça ao juiz ocorreu em 2001
Juíza se diz sem apoio dos "direitos humanos"
BETE GÁSPERI
FREE-LANCE PARA A AGÊNCIA FOLHA
"Ninguém dos "direitos humanos" bateu na minha porta, nenhum telefonema. Os valores estão invertidos." Assim reagiu a
juíza Cristina Escher, 30, viúva do
juiz-corregedor de Presidente
Prudente, Antonio José Machado
Dias, 47, ao ser questionada se defendia a pena de morte.
A juíza disse que uma carta com
ameaças recebida em 2001 motivou o primeiro pedido de escolta
por parte de seu marido.
"É sempre mais fácil culpar o
juiz", afirmou Cristina, referindo-se ao não-atendimento de pedidos de presos, como a progressão
de pena [regime fechado, aberto
ou semi-aberto]. "O advogado
precisa explicar que existe todo
um trâmite a ser cumprido."
Sobre a transferência do traficante Fernandinho Beira-Mar,
para o presídio de Presidente Bernardes, Cristina disse que Dias foi
informado pela imprensa.
Tranquila e com Teco, um cachorrinho maltez de quatro meses que ganhou do marido no Natal, a juíza conversou com a Agência Folha na casa de amigos, em
um condomínio fechado. Seus
olhos ficaram marejados quando
falou sobre seu companheiro.
A entrevista foi interrompida algumas vezes para que ela pudesse
atender telefonemas de amigos
que prestavam solidariedade.
Agência Folha - Quantas vezes o
juiz mencionou ameaças?
Cristina Escher -No final de 2001,
quando ele recebeu a carta, passamos a ter uma escolta. Depois, no
início de 2002, há aproximadamente um ano. Foi após o depoimento de um preso em São Paulo
ou Andradina, não me lembro.
Esse preso teria feito ameaças.
Agência Folha - Que tipo de
ameaça?
Escher -Ele evitava falar sobre o
assunto, não citava nome de presos nem quando os amigos o
questionavam, mesmo em tom de
brincadeira.
Agência Folha - Como era a conduta de seu marido como juiz?
Escher -Ele aplicava a lei para todos. Se o preso tinha direito à progressão, ele dava; se não tinha,
não dava. Não tinha meio termo.
Agência Folha - A sra. acompanhava de perto o trabalho dele?
Escher -Participei de algumas
reuniões. Como juíza eu podia
participar, e ele, às vezes, me convidava, até mesmo para me passar
um pouco da sua experiência.
Uma que marcou estavam uma
advogada da Funap [Fundação
Professor Dr. Manoel Pedro Pimentel, entidade ligada à Secretaria da Administração Penitenciária, que presta assistência jurídica
gratuita ao preso já condenado" e
o diretor de um presídio. A advogada reclamou que estava demorando demais para a concessão a
um preso. O diretor explicou a ela
que era um processo demorado,
que exigia a elaboração de laudos.
Esse é o grande problema, os presos não entendem a demora. O
advogado precisa explicar que
existe um trâmite a ser cumprido.
Agência Folha - O juiz Dias tinha
essa preocupação, a de que os presos entendessem essa demora?
Escher -Sim, ele sempre ressaltou que é papel do advogado explicar isso aos presos, para que
eles entendam e não se voltem
contra o juiz. Nessa reunião da
qual participei, eu disse para a advogada que ela estava deixando os
detentos contra o dr. Dias.
Agência Folha - O juiz de execução, dessa forma, fica com a imagem de culpado pelo atraso, por
exemplo, de um pedido de progressão de pena?
Escher -Sim. Às vezes, o advogado não teve uma boa argumentação ou o preso não teve uma boa
avaliação interna do Conselho Penitenciário, mas é sempre mais fácil culpar o juiz.
Agência Folha - Qual foi o significado da morte do juiz?
Escher -Foi agressão ao Estado.
Agência Folha - Ele falava do PCC
com frequência?
Escher -Ele não dava muita importância ao crime organizado.
Agência Folha - Ele falava em algum nome de preso?
Escher -Não.
Agência Folha - E no nome de Fernandinho Beira- Mar?
Escher -Ele ficou sabendo da
transferência pela imprensa. Depois recebeu o telefonema do diretor da penitenciária avisando
que Beira-Mar não havia feito nenhuma exigência. Após conversar
com o secretário da Administração Penitenciária [Nagashi Furukawa", me tranquilizou.
Agência Folha - Dias estava no
presídio quando a advogada de
Beira-Mar foi impedida de entrar?
Escher -Não, não era ele.
Agência Folha - A senhora defende a pena de morte?
Escher - Pena de morte foi o que
fizeram com ele. Ninguém dos
"direitos humanos" bateu na minha porta, nenhum telefonema.
Os valores estão invertidos.
Agência Folha - E a pena de morte?
Escher -Prefiro não falar.
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