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São Paulo, quinta-feira, 20 de março de 2003

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Para a viúva de Antonio José Machado Dias, valores estão "invertidos"; primeira ameaça ao juiz ocorreu em 2001

Juíza se diz sem apoio dos "direitos humanos"

BETE GÁSPERI
FREE-LANCE PARA A AGÊNCIA FOLHA

"Ninguém dos "direitos humanos" bateu na minha porta, nenhum telefonema. Os valores estão invertidos." Assim reagiu a juíza Cristina Escher, 30, viúva do juiz-corregedor de Presidente Prudente, Antonio José Machado Dias, 47, ao ser questionada se defendia a pena de morte.
A juíza disse que uma carta com ameaças recebida em 2001 motivou o primeiro pedido de escolta por parte de seu marido.
"É sempre mais fácil culpar o juiz", afirmou Cristina, referindo-se ao não-atendimento de pedidos de presos, como a progressão de pena [regime fechado, aberto ou semi-aberto]. "O advogado precisa explicar que existe todo um trâmite a ser cumprido."
Sobre a transferência do traficante Fernandinho Beira-Mar, para o presídio de Presidente Bernardes, Cristina disse que Dias foi informado pela imprensa.
Tranquila e com Teco, um cachorrinho maltez de quatro meses que ganhou do marido no Natal, a juíza conversou com a Agência Folha na casa de amigos, em um condomínio fechado. Seus olhos ficaram marejados quando falou sobre seu companheiro.
A entrevista foi interrompida algumas vezes para que ela pudesse atender telefonemas de amigos que prestavam solidariedade.
 

Agência Folha - Quantas vezes o juiz mencionou ameaças?
Cristina Escher -
No final de 2001, quando ele recebeu a carta, passamos a ter uma escolta. Depois, no início de 2002, há aproximadamente um ano. Foi após o depoimento de um preso em São Paulo ou Andradina, não me lembro. Esse preso teria feito ameaças.

Agência Folha - Que tipo de ameaça?
Escher -
Ele evitava falar sobre o assunto, não citava nome de presos nem quando os amigos o questionavam, mesmo em tom de brincadeira.

Agência Folha - Como era a conduta de seu marido como juiz?
Escher -
Ele aplicava a lei para todos. Se o preso tinha direito à progressão, ele dava; se não tinha, não dava. Não tinha meio termo.

Agência Folha - A sra. acompanhava de perto o trabalho dele?
Escher -
Participei de algumas reuniões. Como juíza eu podia participar, e ele, às vezes, me convidava, até mesmo para me passar um pouco da sua experiência. Uma que marcou estavam uma advogada da Funap [Fundação Professor Dr. Manoel Pedro Pimentel, entidade ligada à Secretaria da Administração Penitenciária, que presta assistência jurídica gratuita ao preso já condenado" e o diretor de um presídio. A advogada reclamou que estava demorando demais para a concessão a um preso. O diretor explicou a ela que era um processo demorado, que exigia a elaboração de laudos. Esse é o grande problema, os presos não entendem a demora. O advogado precisa explicar que existe um trâmite a ser cumprido.

Agência Folha - O juiz Dias tinha essa preocupação, a de que os presos entendessem essa demora?
Escher -
Sim, ele sempre ressaltou que é papel do advogado explicar isso aos presos, para que eles entendam e não se voltem contra o juiz. Nessa reunião da qual participei, eu disse para a advogada que ela estava deixando os detentos contra o dr. Dias.

Agência Folha - O juiz de execução, dessa forma, fica com a imagem de culpado pelo atraso, por exemplo, de um pedido de progressão de pena?
Escher -
Sim. Às vezes, o advogado não teve uma boa argumentação ou o preso não teve uma boa avaliação interna do Conselho Penitenciário, mas é sempre mais fácil culpar o juiz.

Agência Folha - Qual foi o significado da morte do juiz?
Escher -
Foi agressão ao Estado.

Agência Folha - Ele falava do PCC com frequência?
Escher -
Ele não dava muita importância ao crime organizado.

Agência Folha - Ele falava em algum nome de preso?
Escher -
Não.

Agência Folha - E no nome de Fernandinho Beira- Mar?
Escher -
Ele ficou sabendo da transferência pela imprensa. Depois recebeu o telefonema do diretor da penitenciária avisando que Beira-Mar não havia feito nenhuma exigência. Após conversar com o secretário da Administração Penitenciária [Nagashi Furukawa", me tranquilizou.

Agência Folha - Dias estava no presídio quando a advogada de Beira-Mar foi impedida de entrar?
Escher -
Não, não era ele.

Agência Folha - A senhora defende a pena de morte?
Escher -
Pena de morte foi o que fizeram com ele. Ninguém dos "direitos humanos" bateu na minha porta, nenhum telefonema. Os valores estão invertidos.

Agência Folha - E a pena de morte?
Escher -
Prefiro não falar.


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