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INFÂNCIA
Governo Lula retira dinheiro que mantinha 0800 para denúncias de abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes
Corte de verba desativa disque-denúncia
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Em seis anos, o 0800 da Rede
Nacional de Combate ao Abuso e
à Exploração Sexual Infanto-Juvenil recebeu 50.636 telefonemas
e encaminhou 5.071 denúncias.
Só no mês de janeiro, foram 20
denúncias por dia. Amanhã, o
0800-990500, número que se tornou referência em todo o país, vai
ser desativado.
O sistema de recebimento e notificação das denúncias era mantido pela ONG Abrapia, Associação
Brasileira Multiprofissional de
Proteção à Infância e à Adolescência, desde fevereiro de 1997,
graças a um convênio com o Ministério da Justiça. No último semestre, o custo do sistema ficou
em R$ 30.000 por mês -isso inclui o atendimento 24 horas por
dia, o registro, a retransmissão e o
monitoramento das denúncias.
No mês passado, a Secretaria
Especial dos Direitos Humanos,
que passou do Ministério da Justiça para a Presidência da República, anunciou o final do convênio
com a Abrapia. No dia 3 de janeiro, em sua primeira reunião ministerial, o presidente Lula tinha
determinado ao Ministério da
Justiça que priorizasse o combate
à prostituição infantil.
Para a Secretaria dos Direitos
Humanos, o fim do convênio se
deve a um impedimento legal. O
governo estuda entre hoje e amanhã a manutenção do mesmo
0800 da Abrapia, que passaria a
ser atendido pela equipe do Disque Saúde da Mulher enquanto
um Disque Cidadania unificado é
criado (leia texto ao lado).
Para o pediatra Lauro Monteiro
Filho, secretário-executivo da
Abrapia, a gravidade está na desativação, mesmo que temporária,
de um telefone que levou anos para se tornar conhecido e ganhar
credibilidade. Do total de denúncias recebidas em seis anos, 41%
foram feitas em 2002, o que significa um crescimento da procura
por esse serviço.
"Chegamos a fazer 250 mil cartazes divulgando o número em
parceria com a Embratur", diz
Monteiro Filho. As centenas de
Promotorias da Infância e da Juventude têm esse 0800 como referência. "Era um único número
nacional, sem ônus, que ganhou
identidade depois de anos", diz a
promotora Simone Mariano da
Rocha, coordenadora do Centro
de Apoio das Promotorias da Infância e da Juventude do Rio
Grande do Sul.
Depois de recebidas, triadas e
registradas, as denúncias eram
encaminhadas às Promotorias do
município e do Estado em questão e à autoridade policial. "Entidades parceiras" que fazem parte
do Sistema Nacional de Combate
ao Abuso e Exploração monitoravam o encaminhamento dado a
essas denúncias.
Até dois anos atrás, as entidades
recebiam R$ 1.000 por mês para o
trabalho, mas a verba foi cortada.
Para Monteiro Filho, a "estatização e a unificação" dos disque-denúncias vai na contramão do
que vem sendo feito na Europa e
nos Estados Unidos. Ele cita o caso do Reino Unido, onde existe
uma linha exclusiva para crianças
-a Child Line- com uma verba
de R$ 4,7 milhões por mês e uma
equipe treinada para ouvir denúncias e queixas desse público.
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