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São Paulo, quinta-feira, 20 de março de 2003

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60% dos abusos têm familiar envolvido

DA REPORTAGEM LOCAL

A criança brasileira é vítima de abusos e da exploração sexual praticados pelos próprios brasileiros e muitas vezes pela própria família. A conclusão é do pediatra Lauro Monteiro Filho, que trabalha nessa área há mais de 20 anos e acompanhou 5.000 denúncias recebidas pelo 0800 da Abrapia.
"Ficamos acusando os gringos e nos esquecemos da família", ele afirma. A observação vale para a exploração sexual, que representa 37% das denúncias. Desses 37%, 69% se referiam à prostituição infantil, mas apenas 3% ao "turismo sexual". "Ao longo dos seis dias de Carnaval, só tivemos duas denúncias que se enquadram nessa categoria, dois hotéis que ofereciam meninas para hóspedes estrangeiros", afirma.
Como especialista no assunto, ele acredita também que a prostituição é provocada "pelo desejo de consumo gerado pelas desigualdades sociais, não pela fome".
O maior problema, no entanto, segundo ele, seriam os abusos sexuais, que representam 63% das denúncias. Cerca de 60% delas são praticadas dentro da família, pelo pai, padrasto, tios ou avôs. Os outros abusadores, no geral, são vizinhos ou conhecidos. "O predador é alguém que a criança conhece, confia e ama."
Monteiro Filho faz uma série de críticas à atual política de combate ao abuso e à exploração sexual. "Dá-se mais importância às ações policialescas, imediatistas, que chamem a atenção da mídia, quando deveriam primeiro tratar de proteger a vítima e responsabilizar os culpados", diz. "Não sabemos sequer como agem e onde agem os pedófilos, para podermos agir preventivamente."


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