São Paulo, sábado, 20 de março de 2004

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RIO

Segundo a perícia, bala que atingiu Gabriela Ribeiro, 14, saiu de arma usada para conter assaltantes; crime fará um ano

Tiro de policial matou jovem no metrô

MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

O tiro que matou a estudante Gabriela do Prado Ribeiro em março do ano passado foi disparado pelo policial civil que trocou tiros com assaltantes que roubavam a bilheteria da estação do metrô de São Francisco Xavier (zona norte do Rio). Ela tinha 14 anos e foi baleada no peito quando descia as escadas.
O crime fará um ano no próximo dia 25. Nesse dia, a família da adolescente organizará uma missa na igreja São Francisco Xavier (Tijuca, zona norte), que fica a metros de onde ocorreu o fato.
O assassinato chocou o país. Era a primeira vez que a estudante saía de casa sozinha. Iria se encontrar com a mãe na estação Saens Peña do metrô. Gabriela descia as escadas, quando, ao perceber que havia um tiroteio, tentou retornar e foi atingida.
Responsável pelas investigações, o titular da 19ª Delegacia de Polícia, Orlando Zaccone, disse que o laudo balístico comprovou que o tiro foi disparado pela pistola do policial civil Luís Carlos Carvalho que, na ocasião, estava de folga. Ele acabou ferido.
"A bala que matou Gabriela era de calibre .40, o mesmo usado pelo policial", afirmou Zaccone
Outra prova contra Carvalho, de acordo com o delegado, foi o laudo cadavérico, segundo o qual o tiro foi disparado de cima para baixo. Na ocasião, o policial estava fora da estação (em cima) e os ladrões, dentro (embaixo). Um outro policial civil que estava na fila para comprar bilhete tentou impedir a ação dos ladrões, mas acabou desarmado.
Zaccone afirmou que o dono da pistola calibre .40 poderá não ser responsabilizado pelo crime se ficar provado que agiu em legítima defesa. Caso não tenha agido com cautela, deverá ser indiciado sob acusação de homicídio culposo.
"Estamos investigando se o policial deu o tiro para se defender dos assaltantes. Se ele viu o assalto e começou a efetuar os disparos sem ter cuidado, deverá ser punido", disse o delegado Zaccone.
O laudo balístico demorou a ficar pronto porque, na ocasião do crime no metrô, a arma do policial Carvalho foi roubada pelos assaltantes. Ela só foi recuperada no início deste ano.
Os cinco ladrões que participaram do assalto foram presos. Apesar de não terem efetuado os disparos, quatro assaltantes foram condenados por homicídio porque a Justiça do Rio entendeu que o assalto provocou a morte da adolescente. Um dos criminosos ainda não foi condenado porque, na época da sentença de seus comparsas, ainda estava solto.
Zaccone disse que ouvirá os cinco ladrões, além de testemunhas, para identificar se Carvalho agiu em legítima defesa ou com imprudência. Ele informou que estuda ainda a possibilidade de realizar uma reconstituição do caso.
O pai de Gabriela, o psicólogo Carlos Santiago, 46, disse nunca ter dúvidas de que o policial efetuou os disparos. Afirmou não crer que Carvalho tenha agido de má-fé e sim por inexperiência.
"Eu não o perdôo, mas acho que o policial foi vítima da falta de treinamento na polícia. Ele não poderia ter feito os disparos em um local movimentado como aquele com o risco de outros transeuntes serem atingidos."
Até a conclusão desta edição, a Folha não havia conseguido localizar o policial Carvalho.


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