São Paulo, terça-feira, 20 de março de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Congonhas é apertado até em dia normal

Levantamento da Infraero mostra que, em momentos de pico, passageiro enfrenta "nível crítico" de conforto no aeroporto

Cada viajante, durante os períodos de grande movimento, tem somente 1,2 m2 na fila de check-in e 0,8 m 2 na sala de embarque


MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Não é impressão sua, você realmente está mal-acomodado. Nos momentos de pico em dias de operação normal, cada passageiro do aeroporto de Congonhas, em SP, tem apenas 1,2 m2 de espaço na área de fila de check-in e 0,8 m2 na sala de embarque para se movimentar.
Quando o aeroporto fecha por conta do mau tempo ou por problemas no controle de tráfego aéreo, como ocorreu nos últimos dias, o nível de conforto cai muito mais.
Esse espaço que cada passageiro tem em Congonhas na área de embarque e check-in é o mínimo aceitável de acordo com os diferentes níveis recomendados pela Iata (Associação Internacional de Transporte Aéreo) para aeroportos.
Durante momentos de pico de movimentação, o aeroporto pertence, nessas áreas, ao chamado "nível D", o mais crítico.
Os dados são de um levantamento realizado pela Infraero (Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária) em 2005, e que foi atualizado com as áreas de hoje do aeroporto.
O estudo mostra também que o tempo de fila para fazer check-in em Congonhas aumentou. Em 2003, a velocidade de atendimento era de, em média, 40 passageiros por hora. No final do ano retrasado (a avaliação é que o quadro continua o mesmo hoje), era de 31 passageiros por hora.
O tempo médio na fila aumentou de 15 minutos para 19,5 minutos. O aumento, segundo a Infraero, se deve à mudança do perfil dos passageiros do aeroporto: aumentou a quantidade de viajantes a turismo, que levam mais malas e, menos habituados do que os executivos, demoram mais para fazer o check-in.
O percentual de passageiros com bagagens, segundo o levantamento, aumentou de 60% para 70%.
As reclamações mais comuns dos passageiros no aeroporto são da falta de ar-condicionado e dos freqüentes esbarrões na área de embarque.
"Na fila do check-in sempre passa alguém chutando a sua mala. As pessoas esbarram umas nas outras, há poluição sonora e o ônibus que leva até o avião fica muito lotado", diz Cristiane Bof, 29, gerente de projetos de informática.
"Há muito tempo que Congonhas já esgotou. Você sempre pisa no pé de alguém, ou pisam no seu pé", afirma Carlos Barral, 59, advogado.
Por outro lado, os viajantes destacam a boa localização do aeroporto. Elogiam ainda a melhora na sala de desembarque, que antes tinha 1.300 m2 e passou a ter 5.250 m2.
O esgotamento de Congonhas é objeto de intensa polêmica no setor aéreo. De um lado, muitos defendem que o aeroporto não é utilizado para sua finalidade original, ou seja, vôos de curta distância.
Por outro, alguns especialistas e companhias aéreas dizem que as reformas recentes foram mal feitas e que priorizaram a expansão de áreas de restaurantes e lojas, em detrimento da operação do aeroporto.
De qualquer forma, o desconforto é apenas a fase mais visível do problema. Hoje, Congonhas é o mais movimentado da América do Sul e, apesar de a demanda de passageiros continuar crescendo de forma acelerada, seu limite é de 38 pousos ou decolagens a cada hora.

Soluções
Como solução para absorver o crescimento no número de passageiros, aponta-se a construção de um terceiro aeroporto em São Paulo, a construção de uma terceira pista no aeroporto de Guarulhos e a ampliação do aeroporto de Viracopos, localizado em Campinas.
Outra discussão é a retirada de pelo menos uma parte das conexões que atualmente são realizadas no aeroporto.
"Tirar as conexões de lá é uma possibilidade, mas isso é competência da Anac [Agência Nacional de Aviação Civil, que regula o setor]. Sei que eles estão trabalhando pesadamente em cima disso. Possibilidades como retirar as conexões e os vôos charter [fretados], entre outras, estão sendo estudadas", diz o presidente da Infraero, o brigadeiro José Carlos Pereira.
Segundo ele, a ampliação de Viracopos é encarada hoje pela estatal como o melhor caminho para resolver os problemas no curto prazo. "A idéia da construção de um terceiro aeroporto é de longo prazo", afirma.
A escolha de um lugar para um outro aeroporto, avaliou, é complicada: depende de fatores ambientais e do acesso, entre outros pontos.
"Existe a região de Sorocaba [interior de SP], da Baixada Santista. O aeroporto de São José dos Campos também está lá, bastante ocioso, tem amplas possibilidades."


Texto Anterior: São Tomé: Produtor diz ter abandonado agenda com a crise
Próximo Texto: Infraero quer fazer reforma sem licitação
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.