São Paulo, terça-feira, 20 de março de 2007

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Sem dinheiro, PCC volta a roubar bancos

Segundo delegados, opção por esse crime, que sofreu aumento em SP, se deve à asfixia econômica da facção criminosa

Facção tem tido dificuldades para trazer drogas do Paraguai, após a construção de uma nova aduana da Receita em Foz do Iguaçu


MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

A disparada no número de assaltos violentos a bancos na cidade de São Paulo, com o saldo de uma adolescente paraplégica e um homem com a perna amputada, não é eventual nem acidental. Há o dedo da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) por trás dos 25 assaltos registrados na cidade de São Paulo nos dois primeiros meses do ano, segundo delegados da Polícia Federal.
Só para comparar: no primeiro trimestre do ano passado, a polícia registrou 29 assaltos a banco na capital paulista. A média mensal desse período foi de 10 assaltos; neste ano, já é de 12 -um aumento de 20%.
A mudança súbita de ramo do PCC tem razões de mercado. O grupo criminoso sempre privilegiou o tráfico de drogas porque cocaína e maconha dão mais lucro do que o varejo do roubo e trazem menos riscos.
A exceção era o grande roubo, como o que ocorreu em 2005 no Banco Central de Fortaleza, no qual a facção arrecadou R$ 164,8 milhões.
A retomada do roubo a banco -crime que o PCC praticava no final dos anos 90, quando ainda engatinhava como organização- é resultado da asfixia econômica a que o grupo foi submetido, segundo dois delegados da polícia de São Paulo que falaram à Folha com a condição de que seus nomes não fossem citados. Oficialmente, a polícia diz que os roubos a banco ocorridos neste ano não tem qualquer relação com o PCC.
Um delegado da Polícia Federal aponta, também sob a condição de que seu nome não seja revelado, outra razão para a mudança de ramo do PCC: está cada vez mais difícil a facção trazer maconha do Paraguai.
O motivo imediato da dificuldade foi a construção de uma nova aduana da Receita Federal em Foz do Iguaçu, inaugurada no ano passado. Com a nova aduana, a Receita aumentou a fiscalização a carros e ônibus -sua meta é fiscalizar 100% dos veículos que cruzam a fronteira paraguaia.
Há motivos mais remotos para explicar por que aumentou a dificuldade para o PCC importar maconha do Paraguai, onde a facção controla fazendas nas quais a droga é cultivada: agentes da PF e policiais rodoviários federais foram afastados em 2003 após duas operações naquela cidade, a Sucuri e a Trânsito Livre.
Na primeira, 39 agentes da PF foram presos sob a acusação de corrupção e formação de quadrilha. Na segunda, 30 policiais rodoviários federais foram mandados para a prisão sob a mesma acusação.

Sufoco financeiro
A avaliação de que o PCC passa por uma crise financeira não é só suposição da polícia. Gravações de conversas telefônicas de integrantes da facção criminosa, feitas pela Polícia Civil e pela Polícia Federal com autorização judicial, mostram que o grupo passa por uma de suas fases mais críticas.
A investigação do Ministério Público Estadual em torno das contas descobriu que a facção movimentou R$ 36,6 milhões em um ano -entre novembro de 2005 e novembro de 2006.
O Gaeco (grupo de promotores especializados no combate ao crime organizado) conseguiu vincular 232 contas bancárias ao PCC, a grande maioria em nome de laranjas. Com isso, a facção passou a ter dificuldades para movimentar dinheiro.
Os promotores acham que o número de contas e o valor devem aumentar com o aprofundamento das investigações.
Mesmo com números provisórios, o levantamento do Gaeco revela que os valores movimentados pelo PCC são superiores aos que a Polícia Civil estimava. Pelas contas dos promotores, a facção obtinha uma média mensal de R$ 3 milhões.
O delegado Ruy Ferraz Fontes, considerado o maior especialista em PCC na Polícia Civil, disse à CPI do Tráfico de Armas que o PCC arrecadava R$ 700 mil por mês -um quarto do montante descoberto pelos promotores.
O Ministério Público conseguiu mapear as contas graças à própria organização do PCC. O grupo registrou, em um CD, 412 contas que usava, e o disco foi apreendido pela polícia.


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