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Sem dinheiro, PCC volta a roubar bancos
Segundo delegados, opção por esse crime, que sofreu aumento em SP, se deve à asfixia econômica da facção criminosa
Facção tem tido dificuldades para trazer drogas do Paraguai, após a construção de uma nova aduana da Receita em Foz do Iguaçu
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
A disparada no número de
assaltos violentos a bancos na
cidade de São Paulo, com o saldo de uma adolescente paraplégica e um homem com a perna
amputada, não é eventual nem
acidental. Há o dedo da facção
criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) por trás dos
25 assaltos registrados na cidade de São Paulo nos dois primeiros meses do ano, segundo
delegados da Polícia Federal.
Só para comparar: no primeiro trimestre do ano passado, a
polícia registrou 29 assaltos a
banco na capital paulista. A média mensal desse período foi de
10 assaltos; neste ano, já é de 12
-um aumento de 20%.
A mudança súbita de ramo
do PCC tem razões de mercado.
O grupo criminoso sempre privilegiou o tráfico de drogas porque cocaína e maconha dão
mais lucro do que o varejo do
roubo e trazem menos riscos.
A exceção era o grande roubo, como o que ocorreu em
2005 no Banco Central de Fortaleza, no qual a facção arrecadou R$ 164,8 milhões.
A retomada do roubo a banco
-crime que o PCC praticava no
final dos anos 90, quando ainda
engatinhava como organização- é resultado da asfixia econômica a que o grupo foi submetido, segundo dois delegados da polícia de São Paulo que
falaram à Folha com a condição de que seus nomes não fossem citados. Oficialmente, a
polícia diz que os roubos a banco ocorridos neste ano não tem
qualquer relação com o PCC.
Um delegado da Polícia Federal aponta, também sob a
condição de que seu nome não
seja revelado, outra razão para
a mudança de ramo do PCC: está cada vez mais difícil a facção
trazer maconha do Paraguai.
O motivo imediato da dificuldade foi a construção de
uma nova aduana da Receita
Federal em Foz do Iguaçu,
inaugurada no ano passado.
Com a nova aduana, a Receita
aumentou a fiscalização a carros e ônibus -sua meta é fiscalizar 100% dos veículos que
cruzam a fronteira paraguaia.
Há motivos mais remotos
para explicar por que aumentou a dificuldade para o PCC
importar maconha do Paraguai, onde a facção controla fazendas nas quais a droga é cultivada: agentes da PF e policiais
rodoviários federais foram
afastados em 2003 após duas
operações naquela cidade, a
Sucuri e a Trânsito Livre.
Na primeira, 39 agentes da
PF foram presos sob a acusação de corrupção e formação de
quadrilha. Na segunda, 30 policiais rodoviários federais foram mandados para a prisão
sob a mesma acusação.
Sufoco financeiro
A avaliação de que o PCC
passa por uma crise financeira
não é só suposição da polícia.
Gravações de conversas telefônicas de integrantes da facção
criminosa, feitas pela Polícia
Civil e pela Polícia Federal com
autorização judicial, mostram
que o grupo passa por uma de
suas fases mais críticas.
A investigação do Ministério
Público Estadual em torno das
contas descobriu que a facção
movimentou R$ 36,6 milhões
em um ano -entre novembro
de 2005 e novembro de 2006.
O Gaeco (grupo de promotores especializados no combate
ao crime organizado) conseguiu vincular 232 contas bancárias ao PCC, a grande maioria
em nome de laranjas. Com isso,
a facção passou a ter dificuldades para movimentar dinheiro.
Os promotores acham que o
número de contas e o valor devem aumentar com o aprofundamento das investigações.
Mesmo com números provisórios, o levantamento do Gaeco revela que os valores movimentados pelo PCC são superiores aos que a Polícia Civil estimava. Pelas contas dos promotores, a facção obtinha uma
média mensal de R$ 3 milhões.
O delegado Ruy Ferraz Fontes, considerado o maior especialista em PCC na Polícia Civil,
disse à CPI do Tráfico de Armas
que o PCC arrecadava R$ 700
mil por mês -um quarto do
montante descoberto pelos
promotores.
O Ministério Público conseguiu mapear as contas graças à
própria organização do PCC. O
grupo registrou, em um CD,
412 contas que usava, e o disco
foi apreendido pela polícia.
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